É FESTA OU VELÓRIO?
É FESTA OU VELÓRIO?
Sempre se comemorou coisas; dos tempos antigos até agora as festas alegram as pessoas e o motivo não importa, pode ser nascimentos, batizados, casamentos ou seja lá o que for o importante é comemorar com muita comida, bebida , musica e muita alegria; com esses ingredientes as pessoas se esquecem dos problemas e se sentem felizes.
A cidade de Rio Dourado era conhecida pela sua vocação para as festas, lá tudo era motivo para comemoração: bailes, novenas, procissões, casamentos, aniversários, partidas de futebol ou qualquer outra coisa sempre terminava em comida, bebida e cantoria; até os velórios que no começo eram tristes e respeitosos, no correr da noite viravam festa.
Imagine quando uma pessoa rica, resolvia comemorar em grande estilo a entrada na sociedade de uma moça da família; era um deslumbramento de flores, brilhos e fitas, os preparativos levavam meses, as mais finas iguarias eram preparadas e os doces mereciam uma atenção especial, eram maravilhosos e decorados com luzes de estrelas.
Cada moça rica que completava quinze anos queria suplantar as colegas, suas mães se esmeravam em novidades; se uma oferecia uma fonte jorrando vinhos finos, a outra descobria não sei onde uma fonte que jorrava fondue de chocolate; o vinho era acompanhado de canapés caríssimos de salmão e do legitimo caviar Beluga, aquele dourado e muito chic.
A fonte de fondue de chocolate era rodeada de lindos pratos de cristal cheios de morangos, marhsmelow, biscoitos de nozes, cerejas e tudo mais que se possa imaginar de fino e dispendioso; mas tantos foram os aniversários que as novidades foram escasseando, ao chegar a linda nova idade da jovem Idalma não havia mais o que inventar.
A mãe da debutante era a mais perua de todas e não se conformava com a total falta de idéias novas e brilhantes, ela e suas amigas quase enlouqueceram de tanto puxarem pelos cérebros, mas estava difícil; tudo já estava providenciado no capricho menos a esperada novidade, até que ela disse: já sei o que fazer para abrilhantar a festa de Idalma.
A decoração do salão da festa era em três cores: magenta, dourado e preto, tudo seria nessas cores e a luz fria dos lustres daria um brilho esfumaçado ao ambiente, e foi nas cores da festa que a madame se inspirou para resolver o assunto da esperada surpresa; nos luxuosos convites da festa, era pedido aos convidados que se vestissem com uma das cores da decoração.
Foi a mais comentada surpresa da temporada porque ninguém gostou da novidade, diziam: onde já se viu? Roupa tem que ser escolhida por quem vai vestir, cada um sabe a cor que lhe fica melhor; como perder a boca livre estava fora de questão, o jeito foi se conformar e preparar-se para o evento, para completar os homens se vestiriam de preto com gravatas douradas.
Afinal chegou a noite da badalada festa, mas quando os convidados se reuniram nos salões foi um desastre, porque todas as senhoras e senhoritas estavam vestidas de preto e com os homens vestidos com a mesma fúnebre cor, aquilo parecia uma convenção de bruxas ou um velório; a idéia era realçar o vestido branco da debutante, mas deu totalmente errado.
Com aquele mar negro em volta, a pobre Idalma parecia uma alma do outro mundo com seu vestido branco e ai parecia velório mesmo, ao ver o resultado de sua absurda idéia a mãe da moça achou melhor desmaiar e a festa terminou sem ter começado, com o choro de poucos e a risada de muitos, foi um vexame sem medidas porque toda mulher tem um pretinho básico no closet, e é ai que mora o perigo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA