A VELHA ESCOLA - PARTE 2

A VELHA ESCOLA é um conto dividido em quatro partes, que englobam anos distintos da vida de seus protagonistas, para levá-los a saber mais sobre si mesmos e sobre o mundo.

Aqui está a parte 1, passada no ano de 1995. Espero que gostem, E QUE COMENTEM. Obrigado.

PARTE II - 2002

Marcelo finalmente realizara seu sonho. Estava terminada a faculdade. Agora, imaginava ele, tinha todo um futuro a sua frente.

Marcelo então se lembrou de alguns fatos que marcaram seu período na escola. Lembrou-se então do professor Lúcio Pereira.

Subitamente se viu tomado por uma curiosidade. Será que o professor sabia que o aluno que sempre brigava com ele se tornara nada menos que um professor? Não de literatura, como ele, mas de história, entretanto ainda assim um professor.

"Engraçado", pensou, "os rumos que a vida toma. Desde a sexta série eu tenho problemas com um professor, e quando me formo, viro um professor"

Naquele momento, pensou em Clara.

Clara que se mudara para os Estados Unidos assim que terminaram o segundo ano, pois seu pai arranjara um novo emprego que demandara uma mudança.

Como ela fazia falta... Tudo que Marcelo queria era Clara ali, ao seu lado, no momento mais feliz de sua vida.

***

Fernando apertou mais o parafuso.

"Que situação, pensou ele".

Desde que repetira o segundo ano, Fernando nunca mais fora o mesmo. Quando repetira a segunda vez, ele saiu do colégio.

Seu pai o obrigara a estudar em um colégio público. Depois de seis meses, fugira de casa. Arranjara um pequeno emprego como mecânico, mesmo que não entendesse nada de mecânica, que dava pra pagar "qualquer merda" em algum canto da cidade.

Com o tempo, conquistara a confiança do patrão, e passara a entender de mecânica. Agora já ganhava um salário maior, o que não queria dizer muita coisa.

Enquanto apertava o parafuso, seu patrão o chamou.

Ao entrar na sala imunda em um canto da oficina Fernando percebeu que não estava tudo bem.

Seu chefe aparentava cansaso, além das visíveis olheiras em seu rosto. Algo estava muito errado.

- Por favor, Fernando, sente-se. - disse o chefe - Olhe isto.

E o chefe estendeu um papel, que visivelmente fora dobrado e desdobrado inúmeras vezes.

Fernando não podia acreditar no que via. Era impossível. Como as contas poderiam fechar assim.

O chefe percebeu a surpresa de Fernando, e se limitou a confirmar com a cabeça, até que finalmente falou:

- Por conseguinte, vamos ter que fechar a loja.

- Mas... Carlos, e todos os funcionários? - perguntou Fernando - E eu!?

- Sinto muito, Fernando, mas é inevitável.

Fernando ainda se perguntava como conseguira chegar à casa naquele dia. Cada passo parecia que uma bigorna estava atada aos seus pés. Ele via seu futuro indefinido. Como sairia daquela situação? Ainda tinha suas economias, mas elas não durariam muito.

**** 2 meses depois ****

Marcelo não acreditava que recebera aquele telefonema. Pegara seu carro, recém adquirido, e partira em direção ao aeroporto. Tantos anos depois, e Clara estaria de volta.

Assim que chegara, ao invés de pegar um táxi, Clara o telefonara para que ele fosse buscá-la.

Assim que encostou o carro no terminal ele a viu. Maravilhosa, exuberante. Ela se dirigiu ao carro, colocando sua bagagem no porta-malas.

Mesmo sem muitas esperanças, Marcelo se arrumara para convidá-la para jantar. Como se estivesse tudo ensaiado ele começou:

- Então, Clara, onde vai pretende ficar, agora de volta ao Brasil?

- Na casa de uma prima, não muito longe da sua, pelo menos até eu alugar um apartamento ou coisa assim.

- Entendo

- Assim que eu me acertar melhor aqui eu te ligo, e a gente faz alguma coisa.

- Mas... você gostaria de ir jantar comigo hoje?

- Hoje? Sim... claro.

- Então vamos.

- Assim, direto daqui?

- É!

Clara pareceu surpresa, mas logo se recuperou, de forma a aceitar o convite de Marcelo. Naquele noite, depois de algumas bebidas, eles acabaram confessando sentimentos um pouco mais profundos um pelo outro, e, como alguns muitos jovens como eles, acabaram na casa de Marcelo. O celular de Clara tocava sem parar, sua prima tentando, preocupada, falar com ela.

Mas aquela noite era deles. E depois desse dia, não se largaram mais.

***

Fernando passara os últimos dois meses vivendo de suas economias, que já estavam acabando. De vez em quando voltava seus pensamentos para o velho pai, e onde estaria agora. E foi em um desses dias que tomou a decisão de procurá-lo.

Chegou à sua casa durante a noite, e bateu na porta.

Alguns segundos depois seu pai apareceu, vestindo pijamas e fumando um cigarro. Não pareceu feliz em ver Fernando.

- O que você quer?

A aspereza em sua voz surpreendeu Fernando.

- Pai... eu fui demitido, preciso de ajuda!

- E agora você vem me pedir ajuda. Aqui a ajuda que eu vou te dar.

Entrou em casa, pegou a carteira, tirou uma nota de cem reais e colocou na mão do filho:

- Talvez um dia você volte para esta casa com a mesma aparência com que saiu. Nesse dia eu aceito você como filho novamente.

E bateu a porta.

Fernando apertou os cem reais em suas mãos, e saiu.

Ao sair, notou uma movimentação estranha em um beco cem metros adiante. Era um assalto. Fernando se aproximou sorrateiramente. Sem que o meliante percebesse, ele chegou perto por trás, e com um rápido movimento, tirou a arma das mãos do sujeito.

- Vaza daqui!

Disse Fernando, apontando a arma para o bandido. A vítima então também saiu correndo, deixando Fernando sozinho com a arma em mãos.

Guardou a arma em uma gaveta, e por mais algumas semanas permaneceu olhando para ela, pensamentos maldosos percorrendo sua mente. Roubar, uma forma mais fácil de conseguir dinheiro!

E assim seria.

Foi no mesmo beco onde conseguira a arma. Esperou alguém se aproximar. Rendeu um pobre cidadão. Pegou o dinheiro dele. Antes que se desse conta, o homem avançou sobre ele. Dois disparos.

Fernando pegou a carteira da vítima e saiu correndo, repetindo para si mesmo que fora um acidente, quase que religiosamente.

Mas não fora, e Fernando sabia disso. Era bom. Era fácil. E era quase garantido.

G Heyerdahl
Enviado por G Heyerdahl em 04/09/2008
Código do texto: T1161573
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