PRIMO ENGENHEIRO MORADIA GARANTIDA
PRIMO ENGENHEIRO MORADIA GARANTIDA
Um dos muitos primos de Pedro Glostora era engenheiro e sempre era procurado por ele, não para pedir trabalho e sim para pedir ajuda: dinheiro, abrigo e outras coisas mais, o ocupadíssimo parente o atendia com rapidez para se livrar dele e ele sempre voltava, mas havia um problema: a esposa do engenheiro detestava o explorador e por isso abrigo naquela casa era impossível conseguir, porque a senhora era brava e não o aceitava.
Mas para Pedro isso não era nada, porque havia outro jeito de se aproveitar do parente e eram os prédios que ele construía porque em todos existe um quartinho para o vigia da obra se abrigar e ai Pedro se dava bem; chegava de mala na mão e dizia ao primo que estava temporariamente desabrigado e acampava no quarto do vigia, o bondoso parente providenciava um colchão extra, roupa de cama e banho e lá ficava ele até a obra terminar.
Quando visitava o serviço o engenheiro lhe dava dinheiro para comida e condução, porque Pedro precisava dar uns passeios ou os operários abandonariam o trabalho, porque além de vagabundo ele era intrometido, aborrecido e metido a importante, era realmente um porre; com a tradicional mania que os mineiros tem de socorrer qualquer tipo de parente, o solidário primo sustentava o vadio e criava cobra para se picar; durante muito tempo Glostora viveu assim de prédio em prédio.
Ele seguiu o engenheiro até o infeliz dia que o primo se cansou da construção civil e avisou ao safado que aquele seria o ultimo prédio, que ele arranjasse outro otário porque em poucos dias a obra seria entregue e não haveria outra, o competente parente mudara de ramo, dali em diante seria professor universitário; Pedro detestou a novidade, mas procurou outro primo e o engenheiro pensou que finalmente se livrara daquele estrupício para sempre.
Logo depois o coitado descobriu que se enganara porque recebeu uma intimação da justiça do trabalho: Pedro o denunciara com a ajuda de um desses advogados de porta de cadeia, ele alegava que fora vigia da empresa do primo, que fora despedido sem que seus direitos fossem respeitados, provar que ele mentia foi simples, mas o tempo perdido, os aborrecimentos e gastos desnecessários foram suficientes para deixar o caridoso primo profundamente irritado.
O bom moço perdeu a paciência e pediu aos demais parentes que não mais ajudassem ao Glostora; mesmo em uma cidade enorme como São Paulo a historia se espalhou dos parentes para os conterrâneos, todas as portas se fecharam e ele ficou só, foram dias difíceis e ele chegou a dormir na rua, mas se virou como sempre na lei do menor esforço, se dirigiu ao Parque Dom Pedro e conseguiu carona em um caminhão, se mudou para Belo Horizonte onde também havia parentes e conterrâneos para serem explorados, com a ajuda do catalogo telefônico ele os encontraria.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA