ZÉ PREQUTÉ

ZÉ PREQUETÉ

Figura fácil e por demais conhecida na cidade de Beira Rio, Zé Prequeté não fazia mal a ninguém, morava em um barraco muito pobre com sua mãe e uma irmã um tanto amalucada; a mãe era lavadeira, mas o lugar era pequeno e as donas de casa faziam todo seu serviço, poucas pagavam a lavagem de suas roupas, o que trocado em miúdos quer dizer que a mãe do Zé quase nada ganhava e ele tinha de se virar para não morrer de fome.

O coitado tinha uma perna mais curta que a outra e andava com uma certa dificuldade, na base de um passo raso e outro fundo, se apoiava numa manguara feita de um pedaço de madeira, manguara é a prima pobre da bengala; ele saia de manhã com suas roupas velhas bem limpinhas e apoiado em sua manguara ia mancando pelas ruas da cidade pedindo ajuda de porta em porta, a tardinha voltava para casa com o pouco que conseguia e junto com o pouco que a mãe ganhava preparavam a pobre e única refeição do dia, comiam rezavam pedindo proteção a Deus e dormiam.

Essa rotina simples foi mantida por anos e anos tudo na paz de sempre; Zé com sua manguara e carregando um samburá velho e encardido para guardar a ajuda que recebia, um pouco de fubá, de arroz, de feijão ou qualquer coisa que lhe dessem e lá ia o Zé Prequeté como sempre com um passo raso e outro fundo, com a alegria no rosto e o espírito pacificado; mas tudo nesse mundo acaba por ter mudanças, mesmo um coitado como ele pode mudar de atitude e mudou de repente, a causa foi um simples versinho inventado em má hora por um gaiato qualquer.

O tal versinho era mesmo assim: Zé Prequeté, tira bicho do pé, pra bebê com café e quando ouvia esse versinho, Zé se enfurecia, gritava palavrões e avançava em cima do engraçadinho desferindo porretadas com sua inseparável manguara, essas cenas se repetiam constantemente e as pessoas sensatas do lugar tentavam controlar os moleques que arreliavam o infeliz, mas era em vão porque os versinhos continuavam a serem cantados e os escândalos eram cada vez piores.

O tempo foi passando e nada mudava, ele se consolava com os carinhos da velha mãe, mas até isso ele perdeu com o falecimento da coitada; a irmã foi internada em um asilo para doentes mentais e ele ficou só perambulando pelas ruas, ouvindo o tal versinho ele foi se desesperando e ninguém percebeu o perigo daquilo terminar em tragédia, porque na realidade ninguém se importava com o que viesse a acontecer com o pobre Zé Prequeté.

Por fim não agüentando mais o sofrimento, resolveu acabar com aquilo e terminou da seguinte maneira: certa tarde de domingo depois de mais uma vez ouvir e se desesperar com o maldito versinho, ele subiu em uma arvore que havia no meio da praça da igreja, colocou uma corda no pescoço e amarrou a mesma em um galho da arvore e esperou a missa terminar na igreja, quando a praça se encheu de gente ele gritou : sou pobre, manco e preto, mas sou limpo e não tenho bicho de pé; se atirou da arvore se enforcando com a corda na queda.

As pessoas correram em seu socorro, mas era tarde porque ele estava morto; brincadeira de mau gosto devia ser considerada crime hediondo porque o ser humano é instável e uma bobagem qualquer pode matar; os moleques que atormentavam o pobre Zé se encheram de remorsos, mas com o passar do tempo suas conciências se acalmaram e conseguiram viver muito e viver bem, porque estavam vivos e sempre existe uma segunda chance, mas não para o Zé porque ele não recebeu da vida nem a primeira chance; estava morto e para isso não existe volta pois a vida só dá uma safra.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EdA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 04/09/2008
Código do texto: T1161501
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