SÁ DONA E A SANTA
SÁ DONA E A SANTA
A distinta sogra do delegado Zurico era uma senhora de respeito: trabalhadora, prendada e ótima mãe de família, mas como todos os habitantes desse nosso mundo tinha seu ponto fraco: Sá Dona adorava jogar, não jogava cartas ou outro tipo de jogo dispendioso, mas jogava no bicho, comprava gafanhotos de loteria, rifas e principalmente ficava eufórica quando aparecia na Vila parques de diversões, pois com pouco dinheiro ela se divertia na roleta, nas argolas e até no tiro ao alvo.
Quando apareceu na Vila um parque considerado grande para as possibilidades do lugarejo, Sá Dona vestiu seu vestido de cetineta preta, caprichou no coque do cabelo, pegou sua bolsa e foi a primeira a chegar para a noite de estréia, assim que chegou se apaixonou por uma imagem grande de Santa Terezinha que era a peça de resistência dos prêmios da roleta; noite após noite lá estava Sá Dona gastando seu rico dinheirinho tentando ganhar a Santa, ficava em frente da roleta até raspar a bolsa.
Mas Santa Terezinha era irredutível e não saia para ninguém, aquilo se tornou uma fixação para a velha senhora e já na quarta noite de permanência do parque na Vila, seu genro o delegado Zurico estava muito desconfiado daquela roleta e passou a vigiar atentamente os movimentos do roleteiro, não deu outra coisa: havia uma trava debaixo da mesa que segurava a roleta , não deixando que o ponteiro ao menos chegasse perto do numero correspondente a preciosa Santa, ela abraçada as suas rosas estava lá para ficar.
Zurico era um delegado violento e respeitado, mas era um homem justo e pensou: “ora se eu dei o alvará de funcionamento para o parque e como o dono não tinha dinheiro eu nem cobrei por ele, se mando os soldados do destacamento darem segurança todas as noites, começo a achar que o parqueteiro está me fazendo de besta” e isso não aceito; na mesma noite ao ver sua estimada sogra na luta para ganhar a Santa ele se encheu, procurou o dono do parque e disse mansamente: seu moço aqui em São João eu sou o representante da lei e as vezes sou o fabricante da mesma.
Vou fabricar uma leizinha só para seu uso: se aquela danada de Santa Terezinha não fizer o milagre de premiar Sá Dona minha sogra, na primeira vez que ela jogar a partir de agora, eu farei um milagre lindo só para o senhor seu ladrão vagabundo, que terá meia hora para desmontar seu parque e sumir das redondezas e lhe darei de gorjeta uma surra de criar bicho, esteja avisado; o homem suando de medo correu para a barraca da roleta, assumiu o comando da mesma dizendo: senhoras e senhores façam seu jogo, eu mudarei sua sorte, e mudou mesmo.
Foi só Sá Dona apostar no numero da cobiçada Santa, a roleta girar e lá estava a maravilhosa imagem sendo entregue a velha senhora, foi uma alegria sem tamanho, Sá Dona até chorou de emoção, mas Zurico estava de olho, reuniu esposa, sogra, filhos, cunhados e disse: vão todos para casa agora e a senhora Sá Dona se dê por satisfeita, não quero ninguém da minha família no recinto desse parque fuleiro, que vai se demorar pouco por aqui, eu garanto; ninguém disse nada e se retiraram em bloco para cumprir as ordens do chefe que não estava lá para brincar.
A famosa Santa Terezinha está até hoje na casa da bisneta de Sá Dona muito bem conservada, nem parece que tem setenta anos.
Maria Aparecida Felicori{vó Fia}
Texto registrado no EDA