SINHANA
SINHANA
Sinhana era figura popular e incomoda em Vila de São João, popular porque seus feitos e mal feitos divertiam uma parte da população do vilarejo, e incomoda porque assustava e constrangia a outra parte, varias são as historias que contam a seu respeito e uma delas contarei agora: Sinhana odiara seu cunhado Dete em vida e estendia seu ódio mesmo além da morte, por isso seu lugar preferido era o portão do velho cemitério, na subida da rua do doutor Rufino Azevedo.
Ela não ia lá para rezar pela alma do falecido Dete, mas para falar com ele em termos pouco cordiais, como convinha a uma pessoa reconhecidamente maluca; certa manhã Sinhana dirigiu-se ao cemitério, subiu nas grades do portão trançou as pernas confortavelmente e começou seu falatório, mais ou menos assim: Dete seu cachorro você está ai bem mortinho e eu estou aqui bem vivinha, você dizia que eu ia morrer primeiro e que cuspiria em minha sepultura, mas estou aqui cuspindo em você.
E seguia por ai a fora em sua lenga-lenga de demente, teria ficado nisso se o cidadão Cilom vindo de uma ruazinha detrás do cemitério passasse calado, mas ofendido com o jeito descomposto de Sinhana, que exibia o traseiro magro em sua posição estranha empoleirada no portão, ele parou e tentou obriga-la a descer com palavras corteses, mas foi mal compreendido e a doente virou-se contra ele se esquecendo do falecido Dete e o atacou com sua língua sem limites .
Cilom sem vergonha disse ela, me deixe falar com meu cunhado volte lá para a casa da Maria Crioula, eu sei que você vai lá todos os dias mentindo em casa que vem rezar pelas almas, mas a única alma que você reza é a do demônio da luxuria, do vicio e do pecado mortal; a gritaria da doida já reunira um batalhão de curiosos , não contente com isso ela saltou do portão indo cair em cima do arrependido Cilom, que não agüentando o tranco caiu no pó da rua com a louca por cima.
Daquela posição humilhante e sob uma chuva de risadas ele ouviu o final do discurso de Sinhana, ela disse: Vamos Cilom, me agrada como faz com Maria Crioula, senão vou contar a dona Cidinha onde é que você reza para as almas, seu safado; depois que se divertiram bastante os curiosos socorreram o sofredor Cilom, não foi preciso Sinhana levar as noticias para dona Cidinha, esposa traída de Cilom; quando ele chegou em casa sujo e humilhado com o acontecido, ela já estava informada de tudo.
Ela não perdeu tempo com xiliques e brigas tolas fez coisa melhor, passou a acompanhar o marido todas as manhãs até o velho cemitério, onde ele até hoje é obrigado a rezar dois terços completos pelas almas que penam no purgatório; Sinhana já morreu e descansa em paz, Cilom pede a morte todos os dias quando sobe escoltado pela carrancuda dona Cidinha, para cumprir seu castigo no velho cemitério de Vila de São João, lá no alto da rua do Doutor; até hoje as piadas e risadas seguem o calvário do coitado do Cilom
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no Eda