A VELHA ESCOLA - PARTE 1

A VELHA ESCOLA é um conto dividido em quatro partes, que englobam anos distintos da vida de seus protagonistas, para levá-los a saber mais sobre si mesmos e sobre o mundo.

Aqui está a parte 1, passada no ano de 1995. Espero que gostem, E QUE COMENTEM. Obrigado.

PARTE I - 1995

Marcelo chegou ao colégio. Era uma quinta-feira. O dia da aula de literatura, no primeiro ano do Ensino Médio. Ele tinha motivos para temer a aula. O professor não era exatamente o que se chama de flor-que-se-cheire. "Mais um dia isso será claro para todos", pensava Marcelo.

Talvez sua infelicidade só se comparasse em tamando à felicidade de Fernando, chegando ao mesmo colégio, colega de classe de Marcelo. Literatura não era exatamente seu forte, talvez porque leitura não fosse sua atividade preferida, mas o professor era, na sua opinião, muito gente boa, um cara ótimo.

Marcelo e Fernando não se gostavam muito. Faziam trabalhos juntos quando precisavam, mas nunca foram amigos, nunca frequentaram os mesmos locais e quase nunca concardavam.

Ambos entraram na sala de aula ao mesmo tempo.

O professor Lúcio entrou. Como sempre, trazia em suas mãos uma pasta de tom bege, onde colocava toda a sua papelada e etc.

- Bom dia.

Disse ele, e a turma automaticamente respondeu a mesma coisa.

- Por favor, sentem-se - ele falou pra alguns alunos, no que foi obedecido - bom, eu pedi pro inspetor trazer a televisão pra cá. Como hoje entraremos em Barroco, quero que vejam um vídeo feito pelo primeiro ano do ano passado sobre isso.

"Melhor assim", pensou Marcelo, "pelo menos ele não vai me encher a paciência".

O vídeo começou. Marcelo percebeu uma movimentação no canto da sala. Era Fernando, que junto com Marcos, Camila e Pedro faziam uma baguncinha. O professor Lúcio olhou para lá. Pareceu que os alunos tinham entendido a mensagem, e por alguns minutos, ficatam mais quietos.

Então o barulho recomeçou. O professor, percebendo que somente seu olhar não adiantara, resolveu dizer alguma coisa.

- Meus queridos, por favor...

- Pô, desculpa aí, professor - disse Fernando - foi mal.

O vídeo que recomeçara. Lúcio se sentou bem atrás de Marcelo, que somente por isso se sentiu desconfortável. Então percebeu um detalhe. Ele poderia estar na frente do professor.

- Professor - disse ele - eu tô na sua...

- Olha o vídeo.

Interrompeu o professor rispidamente.

- Mas eu... - continou Marcelo - eu tô na sua frente?

- CALA A BOCA - berrou o professor, sobressaltando toda a turma - não percebeu que eu quero ver o vídeo.

Marcelo calou a boca, se sentindo um pária em relação a turma. A raiva subia a sua cabeça. Mais um pouco, um único ato daquele desgraçado, e ele iria explodir.

Foi então que sentiu uma mão nas suas costas. Era Clara. Se não fosse por essa menina, ele não aguentaria as aulas de Lúcio. Só ela era capaz de perceber o quanto ele se sentia injustiçado pela clara preferência daquele monstro em relação aos outros alunos, exceto ele. Era sempre ele que o acalmava. Era incrível, e muitos, quando ficavam sabendo, não acreditavam, que não aconteceu nenhum tipo de relacionamento além de amizade entre eles.

- Professor, posso ir ao banheiro?

Perguntou Fernando.

- Espera acabar o vídeo.

Respondeu o professor.

- Mas professor, é sério...

Se fosse valer a lógica do que o professor fizera antes, Fernando também ouviria um grito, algum desrespeito do tipo, mas não com o professor Lúcio Pereira.

Para ele valia a lógica da preferência.

- Tá, vai...

Marcelo não aguentaria mais. Se levantou. Sua mente estava em outro lugar. Mas não diria nada. Simplesmente pegou suas coisas e se dirigiu a porta da sala.

- Aonde você vai?

Perguntou o professor.

- Para fora da sala! - respondeu Marcelo, em tom de afronta - não tá vendo?

Clara se levantou.

- Calma, Marcelo! - disse ela, chorosamente - por favor, volta pro seu lugar.

Então a sanidade voltou a Marcelo. O que ele estava fazendo.

Lentamente, se sentindo envergonhado, ele se dirigiu a sua cadeira, esperando continuar a aula normalmente.

- Agora, Marcelo, me acompanha, por favor. - disse o professor - não é você que escolhe se sairá ou não da minha aula.

Sem opção, Marcelo se levantou e foi com o professor até a sala da coordenadora.

Ao serem atendidos, o professor se antecipou a Marcelo em sua fala.

- Sabe, Ana - esse era o nome da coordenadora - o Marcelo tem demonstrado, não é de hoje, um certo problema com as minhas aulas...

- Não é bem isso, professora! O Lúcio sempre me trata diferente dos outros alunos, me humilhando e prejudicando.

Interrompeu Marcelo.

- Por favor, Marcelo - disse a coordenadora - se acalme e me explique o que aconteceu.

Marcelo respirou fundo e disse:

- O professor Lúcio sempre age de forma a me prejudicar, fazendo com que todas as aulas que eu tenho com ele sejam uma constante provação da capacidade dos meus nervos.

- Certo... - disse Ana - E, Lúcio, o que você tem a dizer sobre isso?

- Eu não sei onde ele me viu tratando-o diferente de outros alunos...

- Não viu!? - interrompeu Marcelo, com a voz alterada - Quer que eu te diga. Você me tratou diferente agora, quando fiz menos que os outros alunos e, ainda assim, minha punição foi maior, você me trata diferente quando me ignora e não tira uma dúvida minha, quando você fala em voz alta coisas que deveriam ser ditas entre nós. Você é injusto e cruel, professor.

- Certo, certo - interferiu a coordenadora, preocupada com a situação - Vamos fazer um trabalho para melhorar esse relacionamento de vocês, mas vocês precisam se esforçar... temos um combinado?

Marcelo e Lúcio só balançaram a cabeça, sem dizer uma única palavra.

Mas o combinado nunca foi cumprido. Até que Marcelo terminasse o colégio, ele foi assombrado por Lúcio, e suas constantes provocações e quase-maldades.

Fernando acabou por repetir o segundo ano. Duas vezes. Na segunda, saiu do colégio, e por um tempo Marcelo não ouviu falar mais dele.

G Heyerdahl
Enviado por G Heyerdahl em 03/09/2008
Reeditado em 11/02/2011
Código do texto: T1160384
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