O CIRCO CHEGOU... E PARTIU

O CIRCO CHEGOU... E PARTIU

Quando chegava a Vila de São João um circo, todos adultos e crianças ficavam em uma alegria doida, era aquele corre e corre, todos querendo ver as moças bonitas, os bichos ferozes, os trapezistas, os mágicos, enfim tudo no circo encantava aquela gente simples, mas todas as preferências eram para os palhaços e a melhor coisa que o Grande Circo União tinha, era o Palhaço Pimentinha.

Quando ele chegava ao picadeiro, podia-se esperar de tudo, o danado dava cambalhotas, subia no trapézio, contava piadas, montava no elefante, mas o melhor de tudo era que ele cantava e tocava violão; nas funções do circo cantava músicas brejeiras que quase matavam o povo de tanto rir, terminado o espetáculo, Pimentinha lavava o rosto, se vestia bem, pegava o violão e saia a fazer serenatas românticas para as moças do lugar.

Sem as tintas da profissão ele era uma bonita figura: alto, moreno , cabelos negros, olhos brilhantes e como cantava; deixava no circo a voz estridente do palhaço e cantava com sua voz aveludada as mais lindas canções de amor, todas as moças da vila sonhavam com ele e se julgavam endereço certo da voz do seresteiro, mas se enganavam, não era para as solteiras da vila que ele se esmerava em rimas e sim para uma jovem recém casada.

A casadinha ouvia com muito agrado as canções de seu trovador, a coisa caminhava, mas acabou indo parar nos ouvidos do ofendido marido da musa sul mineira, que partiu logo em palavras para a violência: ia matar, ia fritar, enfim o mundo ia cair naquela noite mesmo; avisado pela assustada família da desmiolada jovem, o delegado Zurico não fez por menos , correu para o circo.

Afastou alguns curiosos mais afoitos que já àquela hora da tarde esperavam pela função e falou ao dono do circo: a festa acabou cidadão, desarme já a lona e saia daqui correndo, que o pau vai quebrar e você bem pode ganhar as sobras; o dono do circo nem perguntou o que havia, mandou ajuntar tudo de qualquer jeito nas carroças e tocou rápido para fora da Vila de São João.

O Palhaço Pimentinha foi escoltado pessoalmente pelo delegado Zurico, que lhe disse na despedida: vá cantar de galo em outra freguesia seu pilantra, que em São João as galinhas dormem cedo e são muito bem vigiadas, se dê por feliz de sair daqui com todas suas penas, menino sabido; o povo do lugar que estava se preparando para a grande função da noite, não entendeu bem aquela correria.

Mas se o tocador dos bois era o delegado Zurico, o melhor era ficar sem bife e esperar por outra coisa e calados; a cegonha trouxe dentro do prazo certo, um menino moreno, de cabelos negros e olhos brilhantes para a jovem recém casada; até hoje na Vila de São João paira a duvida: será doutorzinho ou será palhacinho?

Só Deus sabe a resposta.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EdA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 03/09/2008
Código do texto: T1160107
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