AI...AI...BOTAS GOIANAS

AI...AI...BOTAS GOIANAS

Todo ser humano tem seu sonho: uns desejam riquezas, outros fama, saúde ou qualquer outra coisa, mas Robertino era bem mais modesto em seus sonhos, só desejava duas coisas: o amor de Nelia e um par de botas goianas; acredita-se mesmo que ele desejava mais as botas do que a moça, pois era um namorado mal educado e grosseiro, chegando mesmo a lhe dar tapas em vez de beijos, mas tem gosto para tudo e Nelia parecia gostar dos estranhos agrados do namorado.

E por gostar do rapaz, ela conseguiu de um conterrâneo o favor de lhe trazer de Goiânia, um par de botas legitimamente goianas, de enormes bicos pontudos, saltos altos e de cor vermelha; ao receber o presente Robertino quase chorou de emoção, era o par de botas mais bonitos que já vira em toda sua vida, imediatamente ele tomou banho, polvilhou os pés com talco de alfazema e maravilhado calçou o precioso par de botas, saiu por toda a vila se pavoneando, exibindo realizado suas sonhadas botas.

A alegria durou até a noite quando foi se deitar, Robertino tentou retirar as botas mas não conseguiu pelo simples fato dos goianos possuírem os tornozelos mais finos que os mineiros, por isso as botas goianas são desprovidas de zíper; conformado com seus tornozelos grossos, ele se deitou e dormiu calçado mesmo, por quatro dias e noites seguidas ele conservou as botas nos pés, receava ter de corta-las e esperava que a situação se resolvesse naturalmente.

Mas as botas eram teimosas e não saiam mesmo, e o resultado foi uma inesperada doença de Robertino, ele começou a se sentir abatido, com suores e dor de cabeça, sua família preocupada mandou chamar o único médico da vila que fez um exame e não viu motivo para tanto mal estar, retirou a colcha que cobria o enfermo e parou estarrecido, o doente estava calçado de botas goianas e suas pernas intumescidas estavam vermelhas tal qual as ditas cujas.

Estava feito o diagnostico: Robertino sofria de má circulação do sangue, e o remédio urgente era descalçar as afamadas botas, o médico zangado agarrou uma bota e puxa que puxa e nada, elas estavam lá para ficar lindas e teimosas, toda a família do enfermo tentou retirar as botas e acabaram exaustos e irritados e começou a briga, uns gritavam: corta as danadas e o doente protestava: não corta, puxa e no fim foi resolvido que as danadas das botas seriam mesmo cortadas.

Para isso mandaram chamar Seu Nô o sapateiro do lugar, que armado de sua afiada faca foi abrindo a costura lateral das botas e a medida que as costuras se abriam, o pé de Robertino ia saindo de dentro inchado, roxo e todo esfolado; a doença saiu junto com as botas, mas o rapaz não desistiu delas, apenas mandou colocar um par de zipers bem reforçados que lhe permitem calçar e descalçar as lindas botas a vontade; mas o povo da vila não se esquece com facilidade de um tamanho vexame, e agora o vaidoso rapaz mudou de nome: é conhecido por Robota.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia }

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 03/09/2008
Código do texto: T1159640
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