0 PADRE E A MULA
O PADRE E A MULA
Contam as sagradas escrituras que um jumento conduziu Nossa Senhora para o Egito, mas a historia que vou contar é de uma parenta afastada do falado jumento: é de uma mula.
Era o padre e a mula era a mula e o padre sempre juntos, viajando sem parar angariando donativos para a construção da igreja matriz da Vila de São João; padre Zezinho era daqueles padres antigos pobres de Cristo que só possuía uma batina velha e ruça e aquela mula também velha e ruça, as suas propriedades se juntava também um velho guarda-sol.
O padre era uma mescla de humildade e arrogância, humilde na maneira de tratar aos pobres e infelizes, arrogante no trato dado aos ricos que se negassem a ajudar na construção da matriz, ou no socorro a um necessitado ele tinha duas mãos e as usava, com uma recebia donativos e presentes, com a outra distribuía tudo que recebia sem olhar quanto ou o que ou o que ganhara.
A mula era mesmo uma mula, mas nada tinha de burra sabia o que lhe convinha e como consegui-lo; padre Zezinho montava a mula e dizia: vamos filha, vamos colher os frutos da Seara do Senhor, a mula ia porem apenas até se cansar, parava e pronto: estava empacada e o bom padre abria o velho guarda-sol, abria o breviário e se punha a ler e meditar.
De vez em quando ele dizia: vamos filha, o padre precisa trabalhar, mas a mula não se comovia e nem piscava, o padre pacientemente voltava a ler e meditar; vez por outra um passante parava e se oferecia: me deixa dar umas pauladas nessa teimosa padre, êta mula pirracenta uai, o padre defendia a mula: não filho, ela não é pirracenta, nem chega a ser empacadeira, está apenas cansada porque o padre Zezinho está gordo.
Se dirigindo a mula, dava-lhe tapinhas na cabeça e prometia: deixa estar filha, o padre vai comer menos e ficar mais magrinho, coitadinha; quando bem queria a ruça empinava as orelhas e retomava a marcha, naturalmente como se nada houvesse acontecido, a mula empacava para descansar e o padre não podia fazer o mesmo e foi-se esgotando.
Quando terminou a sonhada igreja o padre já não podia mais, estava exausto e seu cérebro estava doente; o povo humilde amava seu pastor e era paciente com suas manias, mas um grupo de poderosos foi a sede do bispado e pediram ao bispo a retirada imediata do bondoso e cansado vigário de Vila de São João, o bispo pediu calma aos exigentes.
Ponderou que padre Zezinho amava sua paróquia e sua igreja, prometeu mandar um padre jovem para ajuda-lo, mas não concordaram e o padre foi forçado a partir; triste foi sua partida, seus fieis choravam e ele se desesperava, em uma elevação da estrada ele olhou pela ultima vez para a vila e sua igreja e disse: terra boa e povo ingrato, nem meus bons desejos evitarão o castigo, os que me perseguem serão recompensados pelo Senhor.
A mula empacadeira morreu de velhice em verdes pastagens, o padre morreu só e saudoso da igreja que construiu com suas mãos e sua saúde; anos depois seus despojos foram levados de volta a Vila e repousando estão em sua igreja; seus perseguidores já receberam o merecido em dores,lagrimas e decepções; descansa em paz caridoso padre Zezinho, porque no céu das mulas a ruça sabiamente continuará empacando, para descansar eternamente.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA