SERIA VIAGRA?

SERIA VIAGRA?

Aquele era um homem alegre, sempre de bom humor e emérito contador de casos, vivia rodeado de amigos e todos se divertiam com suas lorotas; seu nome era Asdrúbal, mas um nome complicado como esse era demais para os simples cidadãos daquela cidade, que decidiram rebatiza-lo com um nome mais fácil e escolheram Dudinha, assim ficou para sempre.

Asdrúbal aceitou a troca de nomes com a calma de sempre, com o passar do tempo se esqueceu de seu nome verdadeiro e ficou tudo bem; Dudinha era o convidado especial de todos os eventos do lugar: batizados, casamentos, bailes e velórios podiam contar sempre com sua indispensável presença, porque em todos esses lugares havia muita comida e bebida e ele comia bem e bebia ainda melhor.

Nos eventos festivos ele contava casos cômicos que alegravam a todos, depois cantava lindas modinhas ao som de seu violão, para embalar os sonhos românticos dos rapazes e moças presentes, ele era na verdade a alma das festas; ninguém é convidado para um velório pois se espera que os amigos do falecido ou falecida compareçam, mas sem a presença de Dudinha o velório se tornaria uma coisa aborrecida e antes da madrugada o defunto estaria só.

Vai daí ninguém se arriscava e mal o morto fechava os olhos, um membro da família era encarregado de convida-lo com a maior gentileza para abrilhantar o velório; ele vestia um terno preto exclusivo para essas ocasiões, pegava o violão e seguia para a casa do falecido, em primeiro lugar ele puxava um enorme rosário do bolso e no lugar do padre ele se esmerava em mistérios, padre nossos e aves Marias, tudo isso acompanhado por lindos hinos religiosos, ao som do violão.

Se o defunto era carente de choro, Dubinha resolvia o problema cantando no final das rezas o emocionante hino- Segura na mão de Deus e Vai e as lagrimas rolavam em cascatas pelo rosto de todos os presentes, parentes ou não, se as lagrimas fossem poucas ele repetia o famoso hino abridor de torneiras e repetia até ficar satisfeito com o volume das lagrimas, pois tempo nunca faltava porque um terço tem poucos mistérios, mas ele rezava um rosário de cinqüenta.

Passada a fase de rezas, hinos e lagrimas ele de retirava para o quarto mais distante do falecido e ai o velório se animava, pois ele reservava seus casos mais engraçados para essas ocasiões, se misturavam risadas com muita comida e bebida e o prestigio do morto estava garantido, porque ninguém ia embora, e o coitado tinha companhia a noite toda; as pessoas serias achavam aquilo tudo uma falta de respeito, mas Dudinha garantia que velório também é festa, porque se festeja a chegada ao mundo porque não a partida?

O alegre cidadão se casou aos trinta anos e era um bom marido em todos os setores, sua esposa engravidava de dois em dois anos e era uma alegria só, mas o tempo foi passando e o coitado começou a sentir o peso da idade, justamente na parte que os homens mais prezam, na virilidade; as coisas foram de mal a pior, resultando em uma mudança completa de atitude de Dubinha, ele abandonou o violão, parou de cantar e perdeu a inspiração para contar seus divertidos casos.

Os amigos do agora tristonho Dubinha não sabiam o que fazer para ajuda-lo, mas um deles foi a uma cidade maior e voltou com uma novidade: era um tal de Viagra que era capaz até de ressuscitar os mortos, assim que recebeu o remédio Dubinha se animou e se preparou alegremente para uma grande noite, tomou banho, se perfumou todo, vestiu um pijama de seda, catou o comprimido na gaveta , tomou e gritou para a mulher: vem Zefa, que hoje é hoje.

Ao acordar na manhã seguinte Dubinha não se lembrava de nada e perguntou a mulher: Zefa o que aconteceu ontem a noite? Ela respondeu: uai quando vim dormir, você roncava tanto que fui dormir no quarto de hospedes; ele se levantou, olhou na gaveta da mesinha e lá estava o comprimido azul que o amigo lhe dera, na pressa ele tomara um comprimido de Lexotan que estava perto e deu-se o desastre, ai ele pensou: desisto, porque velho quando pensa que vai acertar, dá um jeito de errar.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 03/09/2008
Código do texto: T1159625
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