VINGANÇA OU AMOR
VINGANÇA OU AMOR
Mulato alto, forte, de feições rudes e muito simpático, Tatão Alfaiate era um ótimo trabalhador rural , colono na Fazenda das Águas Claras desfrutava da confiança do patrão o doutor Chiquinho; além do serviço normal da fazenda ele prestava favores ao patrão, se as moças da casa queriam ir a vila vizinha fazer compras, ele era o acompanhante indicado e quando doutor Chiquinho ia a cidade próxima, pegar o dinheiro do pagamento dos colonos, Tatão Alfaiate era com certeza o guarda-costas escolhido.
Ninguém sabia de onde vinha o apelido de Tatão Alfaiate, pois o lavrador jamais pegara em uma agulha para costurar qualquer coisa na vida; seu nome completo era Sebastião Fagundes, mas poucas pessoas sabiam disso, pois todos o chamavam pelo apelido e até ele mesmo se esquecia as vezes que se chamava Sebastião; ele era um homem muito solitário porque sua mãe morrera pouco depois de seu nascimento e seu pai sumira no mundo quando ele tinha doze anos, como ele era filho único sua historia familiar acabou ali.
Ficando só ele se virou como foi possível e até completar trinta e cinco anos só trabalhou, não freqüentava festas e até aquela data não namorou ou se envolveu com qualquer mulher por motivo algum, mas os amigos tanto implicaram com suas manias, que em certo mês de junho ele resolveu acompanha-los a uma festa junina em uma fazenda vizinha, lá conheceu Santinha, uma moreninha linda com apenas dezoito anos e o lavrador se apaixonou na hora, passou a noite agradando a menina, oferecia doces e quentão e até dançar quadrilha ele dançou.
Depois dessa noite de São João, Tatão Alfaiate se tornou outra pessoa, cantava, dançava e ria sem motivo, e para espanto de seus amigos em pouco tempo aprendeu a tocar viola, tudo isso para agradar Santinha porque a moça era festeira e exigia uma serenata em todas as noites de sábado, como ele fazia tudo que ela queria, rapidamente aprendeu os mistérios da viola caipira e ela garantiu suas apreciadas serenatas; o tempo foi passando e em poucos meses o namoro se transformou em noivado e logo em seguida em casamento.
Tatão era muito trabalhador, em pouco tempo construiu uma linda casinha para acomodar bem sua Santinha; a casa de quatro cômodos era simples, mas com todo o necessário para se viver decentemente e a vida corria em paz e com aparente alegria, mas Santinha de santa não tinha nada, enquanto o marido trabalhava, ela se divertia com os jovens da colônia da fazenda, mas ela era muito esperta e de manhã bem cedinho ela preparava o café e o caldeirão de comida para ele levar para a lavoura, e se despedia carinhosamente dele na porta da casa.
Assim que ele saia ela arrumava a casa bem arrumada, se enfeitava toda e saia para suas diversões proibidas; quando Tatão chegava a tardinha ela já estava com suas roupas caseiras, de cara lavada e com o jantar preparado que servia com todo carinho e atenção;desse modo Santinha achava que o marido nunca desconfiaria de suas escapadas, mas em pouco tempo o povo da colônia descobriu o que se passava e os murmúrios começaram, mas ela não se importou porque se alguém alertasse Tatão ele não acreditaria e ainda se zangaria com o fofoqueiro.
Foi ai que ela se enganou,porque quem contou as más noticias ao coitado foi o doutor Chiquinho, e ele jamais duvidaria da palavra de seu patrão e amigo e quando acabou de ouvir a horrível historia ele agradeceu e foi para casa; ao chegar em casa Tatão não fez escândalo, apenas pegou uma faca no armário da cozinha e de um só golpe acabou com a vida de Santinha, em seguida foi para a cidade vizinha, se entregou para o delegado e confessou o crime; o delegado prendeu Tatão em uma das celas e foi tratar do assunto lá na Fazenda das Águas Claras.
Dois dia se passaram e na cadeia apareceu um cheiro desagradável, forte e enjoativo, procuraram por todos os lados achando que podia ser um rato morto, mas nada encontraram; os dias passavam e o cheiro ruim continuava, por mais que procurassem nada encontravam já desanimado e não suportando o mau cheiro, a autoridade mandou que os soldados dessem busca nos próprios presos e foi um susto ao revistarem Tatão e encontrarem no bolso de seu palito uma coisa macabra: era nada mais que o aparelho genital da falecida Santinha, o horror foi geral.
Ninguém entendeu a finalidade daquilo, era uma atitude desumana, matar em nome da honra era compreensível, mas mutilar o corpo daquela maneira horrível não dava para entender, para resolver de vez o assunto o delegado interrogou novamente Tatão, ao ser indagado sobre o porque daquela atitude estranha ele respondeu: senhor delegado o senhor deve pensar que eu sou doido, mas não sou, eu amava aquela traidora mais que tudo mo mundo, guardei um pedaço dela só de lembrança; ao ser julgado ele foi considerado louco e internado em um hospital de doenças mentais, onde está até hoje.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EdA