RIPILITA
RIPILITA
Nas pequenas cidades do interior, sempre se encontram pessoas diferentes do comum dos mortais, e os motivos são vários: as vezes por causa do físico, feias ou bonitas demais, ou porque não se vestem da maneira usual e ainda por terem manias inusitadas, seja por isso ou aquilo se tornam figuras estranhas como garças em ninho de urubu, umas são divertidas e outras assustadoras.
Na pequena cidade de Brisa Mansa não era diferente, porque contava com a incomoda presença de uma mulher muito estranha, cujo comportamento as vezes tinha sua graça, mas isso muito raramente porque na maior parte das vezes ela aborrecia e ofendia as pessoas; era uma personagem que pairava entre o ridículo e o trágico, pois não era uma mendiga e nem uma analfabeta; seu nome era Rita, mas todos a chamavam de Ripilita.
Moradora de uma rua central da cidadezinha, ficava em posição estratégica para se informar de tudo que acontecia no lugar; encastelada em sua janela ela ocupava seu tempo em interpelar os passantes, sempre pedindo os mais incômodos favores, ela dizia: ô fulano entre e faça um café para mim e se a pessoa entrasse, os pedidos se multiplicam em diversos.
Sua aparência era de uma completa bruxa, sempre vestida com vestidos compridos e escuros, cobertos com um enorme casaco sebento e escuro; os cabelos de um branco amarelado, contrastando violentamente com a boca murcha pintada com um brilhante batom vermelho, que combinava com o esmalte das unhas compridas e curvas como garras de aves de rapina, sua aparência era assustadora.
Sua família foi desaparecendo aos poucos, seus pais e alguns irmãos morreram e os sobrinhos e irmãos que restaram, se afastaram dela por causa de suas manias, envergonhados de sua péssima aparência e dos aborrecimentos que causava ao povo de Brisa Mansa; as pessoas evitavam passar por aquela rua, para não serem interpelados por ela.
Se alguém passasse e não atendesse seu chamado, era maltratado pela insuportável criatura, que aos gritos atacava o ponto fraco das mesmas, gordos ela chamava de baleia, porção, elefante e outras coisas mais e os magros eram varapaus, espanador da lua e tudo o mais que ofendesse e humilhasse; reagir aos insultos era pior, porque o monologo se transformava em discussão, e as vezes em briga feia.
Durante anos esse inferno continuou, mas certa manhã a janela da bruxa não se abriu, o dia passou, a noite chegou e nada da maluca aparecer, os vizinhos chamaram o delegado que arrombou a porta e encontrou a mulher morta caída no chão da cozinha, coberta de moscas e em franca decomposição, foi feito um enterro as pressas na mesma noite.
Ninguém chorou por ela e nem sentiu sua falta, o sentimento geral foi de alivio porque assim acabaram-se os palavrões gritados, e os vexames diários; a casa ficou abandonada porque ninguém quis ocupa-la, com medo da tal voltar como um fantasma, para continuar sua tarefa de molestar e ofender as pessoas; ao se lembrarem dela as pessoas dizem:que o diabo a tenha bem segura Ripilita, para nunca mais voltar.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA