HOSPITALIDADE LIMITADA

HOSPITALIDADE LIMITADA

Os fazendeiros daqueles cafundós sul-mineiros eram pessoas hospitaleiras, solidárias e cheias de amor ao próximo, os viajantes que chegavam eram recebidos como amigos, mesmo sendo desconhecidos eram tratados com o que houvesse de melhor no momento, dependendo da hora serviam um bom café com leite, quitandas,queijos e frutas,ou então um ótimo almoço com carnes variadas, arroz, feijão, legumes, verduras e deliciosas sobremesas, e se fosse a noitinha o farto e gostoso jantar estaria garantido nos mesmos moldes do almoço.

As casas grandes das fazendas eram mesmo grandes, e os quartos de hospedes estavam sempre prontos, com as camas guarnecidas com bons colchões e roupas de cama e banho sempre limpas e perfumadas com alecrim, alfazema e rosmaninho; era a tradição daquela região, o bem receber independente de quem chegasse, mas em toda boa sinfonia sempre existe uma nota dissonante, e naquela alegre e campesina musica a nota desafinada era Seu Mané Penedo, o velho era ranzinha, mal humorado e avarento ao extremo.

Ele não recebia viajantes fossem conhecidos ou desconhecidos, e se alguém se atrevesse a pedir comida ou pousada, ouvia de Seu Mané o seguinte arrazoado : moço eu num saio da fazenda pra nada, num faço visita e por isso num dou trabaio e nem dispeza pra ninguém , agora lhe pregunto: pruquê eu vou tê trabaio e dispeza cum ocê? Do lado de fora da fazenda de Seu Mané Penedo, podia-se ver a rústica fabrica de queijos de minas, e o viajante com fome, se atrevia e pedia: Seu Mané será que o senhor tem um queijo pra me arranjar?

E o velho sovina respondia: eu tenho o quejo, se tu trouxe o cobre o tu leva, se tu num trouxe tú num leva; entrava na casa, batia a porta e resmungava: cristão qui dá o qui tem, a pedi vem, e virando-se para a mulher e os filhos, perguntava: tús uviram? A verdade é que ninguém jamais se hospedou na fazenda de Seu Mané Penedo, ou comeu um pedaço de queijo de graça de sua fabrica, ele era o desmentido vivo da hospitalidade sul-mineira.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 02/09/2008
Código do texto: T1158173
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