UM CASAMENTO DA PESADA
UM CASAMENTO DA PESADA
Dona Dinalva era uma pessoa muito apreciada naquela cidade, seus modos gentis e seu espírito cristão faziam dela a madrinha preferida daquela gente simples e boa, ela era comadre da maioria dos moradores do lugar pois batizava ou crismava a quase totalidade das crianças nascidas por lá, era também madrinha da maior parte das noivas que se casavam na cidade.
No geral tudo corria bem, as crianças choravam ao serem batizadas, por causa do sal na boca e água fria na cabeça, quanto as noivas que ela amadrinhava estavam felizes demais por arranjarem maridos, e nem de longe pensavam em criar problemas, afinal dona Dinalva era uma madrinha competente e amável que dava bons presentes e melhores conselhos, e os comes e bebes que se seguiam eram sempre pagos por ela.
Assim caminhavam as coisas e todos ficavam felizes, principalmente a veterana madrinha que já estava na segunda geração de afilhados; mas nesse mundo harmonia demais incomoda e a monotonia toma conta de tudo, e para variar um pouco as coisas apareceu uma nova afilhada para dona Dinalva, era a Bernadete filha do Jacó Carpinteiro, a moça era conhecida pelo seu temperamento forte e pelas brigas que arranjava.
Berna era o apelido de Bernadete e foi uma surpresa ela ter conseguido um noivo, porque no geral os rapazes morriam de medo dela, mas Tonhão se apaixonou e resolveu encarar a fera, e como era alagoano pensou: se precisar eu acabo com a valentia dela com minha peixeira; e o esperado dia do casamento chegou afinal e positivamente não começou nada bem, porque ao se vestir a noiva perdeu os sapatos e fez um escândalo.
Enquanto a família toda procurava pelos sapatos, a noiva arrancou a grinalda da cabeça e jogou no chão, chorava , arrancava punhados de cabelos e gritava todos os palavrões que conhecia; quando os fugitivos sapatos foram encontrados, a moça se acalmou e voltou a se arrumar depressa porque já estava atrasada quase uma hora e o padre não gostava de esperar, finalmente a noiva ficou pronta, correram para a igreja e o casamento foi celebrado.
Parecia que o perigo passara, todos respiraram aliviados e a madrinha Dinalva devolveu o buquê para a noiva e foram felizes para a festa; a festa estava ótima e havia comida, bebida e musica a vontade, tudo estava as mil maravilhas até que a noiva disse: agora vou jogar o buquê, ai deu-se o desastre porque um dos irmãos da noiva que bebera demais, resolveu se vingar dos maus tratos recebidos dela, e disse:vai fundo Berna, quanto mais rápido essa festa terminar, mais rápido nos livramos de você.
O mundo veio abaixo, Bernadete agarrou o enorme bolo e atirou no irmão, ele se desviou e quem recebeu o bolo foi dona Dinalva, que caiu desmaiada e toda lambuzada, a briga se generalizou e a família inteira se estapeava, gritava e atirava coisas e se mordia, os convidados corriam e tentavam se proteger no meio daquela loucura; de repente uma televisão passou voando indo se espatifar na rua, ferindo um senhor que passava no momento.
O cidadão atingido era o delegado do lugar, que entrou furioso na casa de revolver na mão e deu voz de prisão para os brigões, nessa hora a mãe da noiva gritou que estava sufocando e começou a tirar as roupas, tirou o vestido e o sutiã e foi agarrada pelo marido que lhe deu uns bons tapas na cara, ai o delegado também e atirou para o alto até descarregar o revolver.
Quando a batalha terminou, a casa estava quase destruída, os convidados estavam sujos e apavorados e alguns estavam feridos; a pobre madrinha Dinalva saiu de lá amparada por amigos, tinha bolo de noiva até dentro dos olhos e ali mesmo fez o juramento de jamais voltar a ser madrinha de alguém pelo resto da vida; o delegado desistiu de fazer prisões e se retirou morrendo de raiva, para ir fazer um curativo na cabeça atingida pela televisão.
Quando as coisas voltaram ao normal, a recém- esposa deu por falta do recém-marido, assustado com o ocorrido Tonhão saiu fora e só foi encontrado muito tempo depois em uma cidade distante, e se explicou dizendo: eu fugi porque descobri que com a Berna nem a peixeira ia dar jeito; cruz credo, mangalô três vezes.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA