E A GRAVIDA CAIU DO BAÚ
E A GRAVIDA CAIU DO BAÚ
Lucinda estava no oitavo mês de gravidez, estava enorme pois o único medico do lugar dissera que ela esperava gêmeos, só não se sabia se eram dois meninos, duas meninas ou meio a meio, só se descobriam o sexo dos bebês depois que nasciam; de uma certa forma era melhor assim, as futuras mamães ficavam na expectativa e geralmente rezavam por meninas, e os futuros papais só queriam meninos.
De todo modo as senhoras se preveniam, e ao preparar as roupinhas da criança elas faziam três enxovais, um com todas as peças cor de rosa para o caso de nascer uma menina, o segundo todo em azul para um menino, e o terceiro todo amarelinho, porque amarelo serve para ambos os sexos; depois de tudo pronto era só esperar o tempo passar, e rezar para Nossa Senhora do Bom Parto providenciar uma boa e feliz hora, para a parturiente.
Lucinda já tomara todas essas providencias, e como só faltavam quatro semanas para o grande evento ela só queria descasar bem e comer melhor ainda, e para isso retirou-se para a Fazenda do Pilão Arcado de propriedade de seu pai, onde sua mãe preparava seus pratos e doces preferidos, e depois de se fartar com aquelas gostosuras, ele ia para seu lugar predileto e se acomodava como um grande e obeso Buda, naquela conhecida posição de repouso e serenidade.
O lugar escolhido por Lucinda para descansar, era um enorme baú de reforçado couro cru, e todo tacheado com grandes pregos de cobre, e como o baú era bem alto, dois irmãos a colocavam em cima dele e a deixavam em paz, ali ela ficava sonhando com seu bebê, e quando ela se cansava do descanso, os irmãos a retiravam de cima do baú e a levavam para um passeio pelo lindo jardim da fazenda.
Os dias passavam e a rotina da futura mamãe era sempre a mesma, mas sempre acontece alguma coisa para promover mudanças, e aquele alegre domingo seria o dia em que coisas diferentes aconteceriam, e foi assim: Lucinda almoçou um frango caipira com mandioca delicioso, exagerou na sobremesa de doce de leite com queijo e depois de um saboroso cafezinho, ela foi colocada pelos irmãos em cima do amado baú.
Mas estava escrito que aquele não seria um domingo como os outros, porque logo depois do almoço a Olinda Lingüeta chegou para fazer uma visita, e desejar felicidades a coitada da Lucinda, ela se colocou em frente ao baú, e como era seu costume começou a falar sem parar em voz alta e estridente; falou mal do marido, falou nos sete filhos e contou em detalhes os horrores dos sete partos.
Ela falava, falava e ninguém percebeu que Lucinda estava ficando tonta com aquele falatório , mas de repente a grávida perdeu os sentidos e desabou lá do alto do baú, foi uma correria danada: uns correram para socorrer a redonda Lucinda, mas o marido da mesma, agarrou a Lingüeta pelos cabelos e a jogou escada abaixo depois de bem estapeada, felizmente acabou tudo bem.
Horas depois nasceram dois meninos lindos e fortes, e o assunto foi esquecido pela família, que até já conseguia achar uma certa graça no assustador episodio; mas a Olinda Lingüeta não se esqueceu jamais dos trancos que levou do marido de Lucinda, e dizia: que culpa tenho eu se aquela maluca se empoleirou em cima daquele baú, se esquecendo do seu estado interessante, ora essa.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDa