NO BALAIO

NO BALAIO

Naquela região os cafezais eram uma constante, para onde se olhasse lá estavam eles e eram lindos em qualquer época do ano: verdes na entressafra, brancos na ocasião das floradas e cobertos de bagas vermelhas na época da colheita; os fazendeiros trabalhavam felizes e esperavam sempre por boas safras, mas de vez em quando as geadas chegavam de repente e matavam as lavouras e os sonhos de bons lucros, mas desistir ninguém desistia e começavam novamente com a mesma fé e esperança.

Como os demais cafeicultores Nego de Didica se entregava ao trabalho com afinco e muita alegria, esperava sempre pelo melhor, mas se o pior acontecia ele não se desesperava e voltava a luta com a mesma disposição; Nego tinha vários empregados, mas ninguém trabalhava mais que ele, sua enxada parecias voar nos arruamentos, adubar era com ele mesmo e quando chegava o tempo da apanha do café, ele cuidava de tudo: recebia os balaios cheios e anotava e nos momentos livres, ele descansava rodando o café no terreiro.

Tudo corria como Deus determinava, e ano após ano lá estava Nego da Didica no mesmo corre corre diário; homem serio era aquele, vícios não os tinha pois não bebia, não fumava e não apostava, ele só trabalhava, mas de repente Nego arranjou um balaio diferente dos outros, era maior e tinha uma tampa e ninguém podia tocar no tal balaio, uma vez em cada dia ele pegava o famoso balaio e se enfiava pelo cafezal a dentro, e por lá se demorava coisa de uma hora e quando voltava vinha alegre e cantando.

Quando se cansou de carregar o tal balaio nos ombros, Nego Nego improvisou dois tirantes com cipó bem forte e transformou o balaio em uma mochila rústica, ele enfiava os braços nos tirantes e sumia cafezal a dentro; os meses passavam e as pessoas quase morriam de curiosidade, mas Nego era muito respeitado e ninguém se atrevia a perguntar que historia era aquela, mas Didica a esposa se cansou e resolveu seguir o marido e descobrir o que estava acontecendo com Nego e aquele misterioso balaio.

Ai deu-se o desastre: pois quando ele colocou o balaio no chão, de dentro saiu Rosinha, a linda e infiel esposa de Chico Retireiro, estava esclarecido o mistério, Nego tinha um vicio sim, e esse era o pior deles porque naqueles cafundós mexer com mulher alheia era péssimo para a saúde, e não deu outra pois Didica partiu com tudo para cima do marido, e não se contentando em arranhar a cara do infeliz até sangrar, ela ainda correu atrás de Rosinha e se atracou com ela, arrancando-lhe os cabelos e lhe aplicando uma surra enorme.

Quando isso aconteceu elas já estavam fora do cafezal e havia dúzias de testemunhas, enquanto espancava Rosinha, Didica gritava para o respeitável publico:Olha gente, essa vadia era o conteúdo do balaio de meu marido, por isso ele voltava todo sorridente do meio do cafezal, onde está o chifrudo do marido dela? O chifrudo estava bem ali, e pegou Rosinha de jeito, deu-lhe uma surra das grandes e mandou que ela sumisse no mundo para não ser morta, a mulher saiu correndo e o Retireiro saiu a procura de Nego da Didica para completar o serviço, e suas intenções estavam bem claras no tamanho da faca que levava.

Mas coitado do marido enganado, ele procurou o adultero durante três dias e não o encontrou em parte alguma; Nego de Didica sumiu de uma vez por todas , nunca mais foi visto e Didica tentou cuidar da fazenda sozinha, mas era demais para ela, então convidou Chico Retireiro para ajuda-la e o pobre marido enganado passou de retireiro a fazendeiro, de chapelão na cabeça e muito bem montado em um belíssimo cavalo mangalarga; para alguma coisa serviu aquele bendito balaio.

Maria Aparecida Felicori { Vói Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 01/09/2008
Código do texto: T1156442
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