CAIU NA ÁGUA E FICOU BATIZADO
CAIU NA AGUA E FICOU BATIZADO
Houve um tempo em que todos maridos eram considerados confiáveis, as esposas acreditavam nisso e viviam felizes, cultuando seus adorados maridos como verdadeiros deuses, preparando seus pratos preferidos, cuidando com capricho de suas roupas, e se virando em duas para atender todos os desejos de seu amado amo e senhor; décadas se passavam e a mentalidade tacanha das mulheres continuava a mesma, acreditando piamente que seus maridos eram santos.
Mas não era bem isso que acontecia, aproveitando-se da cegueira generalizada das mulheres daquela época, os homens se esbaldavam e pareciam verdadeiros sultões com seus haréns cheios de amantes, e enquanto isso as enganadas esposas, ficavam em casa agarradas aquela tradição burra, passadas de mãe para filhas de que seus maridos eram deuses merecedores de todo respeito e adulação, mas sempre chega o dia da reviravolta, e esse dia chegou por culpa de Mario, marido de Terezinha.
O tal Mario era o anjo de Terezinha, ela se referia a ele como: Mario minha benção, e nesse estado de louvação se passaram os primeiros cinco anos de casamento, e a benção funcionava bem, pois com o intervalo necessário nasceram quatro meninos; Terezinha trabalhava muito para manter a casa impecável, a mesa sempre bem posta e os meninos limpos e bem cuidados, mas ela trabalhava feliz da vida porque confiava no marido, e achava que ele era mesmo uma benção.
Mas de repente a benção se transformou em maldição, e foi assim: Mario confiando na cegueira atávica da esposa, deitava e rolava, trocava de amantes como quem troca de camisas, enquanto ele corria atrás de desgarradas foi tudo bem, mas ele arranjou um caso com a Marta, que era casada com o Geraldo Matias que era boiadeiro, e por isso viajava muito tocando o gado de seus patrões; o boiadeiro era previsível, tinha sempre dia de sair e de chegar, e sua bonita mulher se divertia com Mario sem se preocupar.
Mas por azar daqueles Romeu e Julieta caipiras,em uma de suas viagens o Geraldo adoeceu com fortes dores abdominais e voltou antes do previsto, pegando o casal de infiéis na sua cama e claro que os amantes não estavam dormindo, e o marido traído que era forte como um touro miura, tratou de lavar a honra, agarrou Mario e Marta e com o chicote que trazia na mão, aplicou-lhes tremenda surra e como estavam nus, ficaram com os corpos cheios de marcas sangrentas, e para completar o serviço ele os arrastou para fora da casa, e os atirou dentro de um açude que havia ali perto, era dia claro e com a gritaria a rua se encheu de curiosos, entre eles estava a pobre Terezinha que não acreditava no que seus olhos viam.
Com a ajuda dos curiosos, os safados conseguiram sair do açude, mas suas vidas jamais seriam as mesmas, Marta fugiu correndo e pelada e sumiu da região, Mario voltou para casa e foi aceito porque mulheres separadas do marido ficavam mal vistas, e com os filhos para criar Terezinha não tinha opção, mas ávida boa de Mario se fora, agora ela só se referia a ele como Maldição e o confinou em um quartinho nos fundos de onde ele só saia para trabalhar, e se chegasse um minuto atrasado, não encontrava nada para comer, porque ela se alimentava com os meninos e jogava os restos no lixo.
Mas o pior era a raiva que os demais maridos do lugar sentiam por ele, porque alertadas pelo escandaloso acontecimento, suas esposas ficaram espertas e não lhes davam folga, os haréns foram fechados e todos eles entraram na linha, porque descobriram que a cegueira das mulheres se fora, e de lá para cá todas sabem que não existe marido santo, e que marido não é parente, é apenas acidente; quanto ao traidor marido de Terezinha perdeu até o nome, por causa do banho de açude, agora é conhecido apenas por Cai Nagua.
Maria Aparecida Felicori { Vó Fis}
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