SARGENTO MAIS OU MENOS

SARGENTO MAIS OU MENOS

Um simples sonho pode levar aos escuros caminhos da loucura, as vezes de uma loucura mansa, como também a uma loucura violenta e perigosa; mas os sonhos do menino Horacio não eram comuns aos jovens de sua idade, porque aos dez anos ele não sonhava com meninas, namoros ou outras coisas românticas e poéticas, aquele menino queria apenas crescer depressa, para se alistar no Glorioso Exercito Brasileiro.

Os anos foram passando, e enquanto crescia o menino planejava dias de gloria, ele olhava para o espelho e se via vestindo a linda farda verde oliva em dias de paz, ou com um traje camuflado lutando na guerra; de suas hipotéticas batalhas ele voltava sempre coberto de gloria, com o peito coberto de medalhas pelos seus feitos heróicos, ele se via carregando a Bandeira Nacional na frente de seu vitorioso batalhão.

A areia do tempo escorria e o pequeno Horacio esperava pela sua hora, mas para o menino o tempo demorava muito para passar, e como ele só se interessava por militarismo, as coisas corriam mal na escola onde ele era o ultimo da classe; bem que ele tentava se concentrar nos estudos, mas seu cérebro oscilava e ele voltava a sonhar seus lindos sonhos bélicos, quando a professora o trazia de volta a realidade com um grito, ele batia continência e dizia: pronto meu capitão, era castigado e seus colegas caiam na risada.

Aos trancos e barrancos Horacio chegou aos dezoito anos, foi um dia de alegria sem tamanho, porque afinal chegara a tão esperada hora, de se apresentar em sua zona de alistamento, e ele pensava: agora é só fazer os exames e vestir a farda, mas as coisas não aconteceram como ele esperava, os médicos examinaram daqui e dali e pintaram em seu peito, o humilhante R de recusado.

O pobre rapaz olhava para aquele R e não acreditava, assim que recuperou a fala quis saber o porque da recusa, e o medico disse: sinto muito rapaz, você tem pé chato e é estrábico, o exercito não pode ter um soldado que não pode marchar, e que ao atirar no que vê, poderá acertar no que não vê; estava tudo perdido, e o coitado saiu de lá chorando de humilhação e tristeza, pela morte súbita de todos os seus sonhos.

Ao chegar em casa ele não quis saber de conversa e nem de consolo, trancou-se no quarto onde ficou por uma semana sem comer e nem beber, e quando finalmente saiu era outra pessoa,estava estranho e dizia: eu sou o Sargento Mais ou Menos, exijo respeito e não desvio de meu caminho para ninguém, e daí para a frente ele se tornou um andarilho, vagava de um lugar para o outro sempre em linha reta, as pessoas eram obrigadas a se desviar para não trombar com ele, e se alguém reclamava ele repetia aquela historia de Sargento , fazia uma continência e seguia.

Com o passar do tempo Horacio formou sua indumentária: de um velho cabo da policia militar, ele ganhou um dolmam antigo e um velho quepe, alguém lhe deu uma calça verde oliva e uma Bandeira Nacional; assim vestido e carregando com orgulho sua bandeira, ele marchava até cair de cansaço , onde ele caia ele dormia e no dia seguinte voltava a marchar sempre em linha reta, as pessoas lhe davam comida e água, mas ele não parava nem para comer ou beber.

Durante anos e anos, o povo daquela região conviveu com a loucura mansa do Sargento Mais ou Menos, ele não fazia mal a ninguém e todos entendiam que ele era apenas um patriota frustrado, que lá a sua maneira prestava sua homenagem ao símbolo maior de sua pátria, marchando, batendo continência e as vezes cantando com sua voz rouca e desafinada , o Glorioso Hino Nacional Brasileiro; assim ele dava vida a seu sonho.

Autora- Maria Aparecida Felicori { Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 31/08/2008
Código do texto: T1155081
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