O CRIME DO PADRE AMADO
Padre Amado fazia jus ao nome. Com seus 38 anos aparentando 28 e feição de galã de Hollywood, foi recebido como uma dádiva ao substituir o velho e doentio padre Miguel. Padre Amado jogava bola, bolão, bocha, truco e até palito. Após as cerimônias religiosas no interior como batizados e casamentos, tocava violão e cantava mostrando um repertório invejável. Só se recusava a cantar “Cabocla Tereza” por considerar machista e nada exemplar. Visitava semanalmente o asilo, hospitais, casas comerciais e até bares. Era o padre que falava a língua do povo sempre disposto e alegre. No final de suas celebrações dominicais abençoava aos presentes e com voz firme e pausada dizia: - “Que o Senhor os acompanhe ao retorno de seus lares e espero contar com todos na próxima celebração”. Era o máximo! Ninguém havia se expressado assim naquela igreja.
Mas padre Amado tinha seus rituais particulares. Todo domingo após o almoço, sentava-se na velha cadeira de balanço instalada na varanda aos fundos da casa paroquial, tomava umas cervejinhas, fumava, lia os jornais e tirava uma soneca.
Há tempo o padre havia pedido a um eletricista um orçamento para substituir a rede elétrica que apresentava problemas de toda a ordem e este, por falta de tempo, adiava para a semana seguinte. E foi num desses domingos que o profissional resolveu dar uma olhada e relacionar o material que seria necessário.
Ao vê-lo cochilando, não pensou duas vezes numa brincadeira. Foi ao seu carro e apanhou uma revista Playboy e a deixou aberta em cima dos jornais junto a quatro latinhas de cervejas, um maço de cigarros e um cinzeiro. Seu propósito era, após a vistoria, pregar uma peça tipo: - Até o senhor gosta da revista Playboy?
O que o eletricista não sabia é que para aquela tarde o padre Amado havia programado uma reunião com um grupo de senhoras da Pastoral da Saúde e Pastoral Familiar para definir ações para a Páscoa que se aproximava. E elas compareceram minutos antes do combinado.
A cena de espanto dessas carolas senhoras não há necessidade de descrever. Após trocarem entre si olhares repulsivos, resolveram adiar o encontro.
O pivô do escândalo que assustado tudo assistiu, sentindo-se pecador até no respirar, pé ante pé, pegou a revista e fingiu que nunca esteve ali.
Padre Amado foi transferido para uma pequena capela a 200 km dali sem que os fiéis saibam até hoje a razão. Protestos junto ao bispado é que não faltaram. Todos inúteis.
O eletricista que estava com data marcada para se casar, desfez o noivado sem explicação e dois meses depois foi encontrado morto. Enforcou-se. Junto ao corpo, um bilhete com uma frase ainda enigmática para os católicos daquela cidade. “Eu sou o culpado pelo crime do padre Amado e peço o seu perdão”.