Contos do Farol

"Ele deveras era um vero bardo;

Não era ele fictícia, fraca flama.

Dele, o amor seria teu resguardo,

Mas não igual teu desgraçado drama."

Lord Byron, Versos para uma dama

O HOMEM DO FAROL

Omnia Vincit Amor

Amber Jones não agüentava mais. Seus músculos doíam, sua cabeça doía.

Estava decidida. Ia se mudar e descansar daquela vida. Ela sabia que era amada pelo que fazia, mas até essa fama cansava.

Ela entendia que se isolar podia significar uma terrível queda na sua popularidade, mas isso era reversível. O que importava agora era sua saúde mental e espiritual.

Ligou para seu agente. O telefone tocava, e a cada toque ela ficava mais preocupada se ele não estaria em casa.

Então ele atendeu:

- Alô.

- Richard, é a Amber, desculpe te ligar tão tarde.

- Sem problema, Amber. Tudo bem?

- Mais ou menos. Queria te pedir pra cancelar todos os meus compromissos para os próximos dois meses, pretendo passar um tempo fora.

- Mas o que? Você é louca?

- Não, Richard, só pretendo ficar um tempo fora pra descansar minha cabeça.

- E nada que eu diga vai te fazer mudar de idéia?

- Não.

Richard andou de um lado para o outro, tentando organizar a próxima pergunta:

- Então- ele disse- para onde você pretende ir?

Amber respirou aliviada:

- Para uma pequena cidade aonde minha avó nasceu.

- Entendo. Não vai me dizer o nome?

- Não. Prefiro que ninguém me procure enquanto estiver lá. O único telefone que terei será meu celular.

- Certo. E onde você pretende se hospedar enquanto estiver lá?

- A antiga casa da minha avó até hoje é cuidada por um rapaz local, e antes dele o pai dele, e por aí vai.

-Quando você vai?

- Amanhã.

- Posso pelo menos ir me despedir de você?

- Claro.

A manhã estava fria. O vento fustigava nas janelas da Rua das Camélias. Enquanto as pétalas das flores voavam com o vento, Amber Jones observava sua casa. “Em dois meses nos vemos de novo”, ela pensou. A conversa com seu agente, alguns minutos atrás, ressoava em sua mente.

“Você vai sumir como se isso fosse normal?”, ele disse. “Não”, respondeu Amber, “vou tirar férias”.

“Amber, pelo amor de Deus, você acha que alguém vai engolir que você se isolou para tirar férias?”

“Então diga que estou em uma clínica de reabilitação”

Então Amber dera partida em seu carro.

A estrada a sua frente jazia como uma cobra sobre os verdes vales daquela região.

Faltava pouco, ela já via a cidadezinha ao longe.

Seu carro parou com um ruído baixo, na frente da antiga casa de sua avó.

Ela buzinou, e logo a porta se abriu.

Um rapaz de cabelos loiros, sorridente, saiu e assim que viu o carro de Amber sorriu abertamente:

- Senhorita Jones, que bom revê-la!

-Rever-me?- disse Amber - Nós nos conhecemos?

-Obviamente a senhorita não se lembra! Eu era apenas um bebê e a senhorita devia ter uns cinco anos.

- Ah, claro! Você é aquele bebê que me assustou e me fez cair no mar e quase me afogar da última vez que vim aqui.

-É infelizmente sou eu o bebê! Por favor, entre, afinal, a casa é sua.

Amber entrou, deslumbrada com o quanto a casa era bem cuidada.

- Você cuida disso tudo sozinho?

Ela perguntou.

- Sim- respondeu o rapaz- tudo isso sou eu.

- Impressionante. Desculpe, mas qual é seu nome mesmo?

- Charlie, Charlie Clauson.

Amber então se retirou para o seu quarto, que ficava nos fundos da casa.

Charlie entrou, parecendo um pouco envergonhado de ter entrado do nada:

- Senhorita Amber, vou à praia pescar para o jantar.

- Tem uma praia aqui por perto?

- Ah, sim tem. É linda, se quiser pode vir comigo.

- Não obrigada.

As primeiras três semanas foram arrastadas, mas agradáveis.

Amber ficava em casa, tendo a maravilhosa companhia de Charlie, que lhe contava histórias incríveis sobre o povoado, sua casa e sua família.

No trigésimo dia na casa Amber acordou com uma inesperada vontade de finalmente conhecer o povoado.

Andou até a sala, e não encontrando Charlie, resolveu olhar no jardim.

E lá estava ele, podando um velho arbusto, com sua tesoura de podar.

Amber tentou se aproximar sem fazer barulho, mas pisou em pequeno graveto, fazendo Charlie se virar assustado.

- Desculpe se te assustei- disse Amber – Charlie, eu queria te pedir uma coisa.

- O que você quiser.

Respondeu Charlie, se pondo de pé.

- Eu queria conhecer o povoado.

Pediu Amber.

- Certo – respondeu Charlie – Vamos?

- Não, não agora, depois do almoço.

- Certo.

O almoço transcorreu tranquilamente, mas com a ansiedade de Amber aumentando segundo a segundo.

Assim que terminaram de comer, Amber e Charlie se prepararam para sair.

- Iremos a pé?

Perguntou Amber.

- Sim. –respondeu Charlie – É uma caminhada curta, somente uns dez minutos.

Caminharam em silêncio, até chegarem à rua principal.

- Aqui- disse Charlie- é a entrada da nossa cidade. Essa rua concentra

a maior parte do comércio da cidade, mas você pode encontrar belas casas ao longo da praia.

- Vocês têm uma praia?

- Claro, fica a duzentos metros aqui do centro.

Então Amber se lembrou: chegando a casa, com seu carro, vira ao longe uma imensidão verde, delineada por uma fina faixa branca de areia.

- Charlie?

Chamou Amber.

- Chamou?

Respondeu Charlie:

- Chamei. Você poderia me levar até a praia?

- Poderia, claro.

Andaram um pouco até chegarem à trilha que ligava a cidade da praia.

Caminharam até a praia propriamente dita, e ao chegarem lá, Charlie chamou Amber:

- Senhorita Amber, eu tenho trabalho a fazer em casa. Estou certo em crer que a Senhorita conhece o caminho de volta?

- Sim conheço, pode ir, Charlie.

Amber viu Charlie se afastar ao longe, e se viu sozinha em meio aquela imensidão.

Então ela reparou: uns duzentos metros distantes da praia, uma ilha rochosa com um belo e alto farol, e saindo de lá, um barquinho azul, com um único ocupante.

O barquinho se aproximava da praia.

Então, como se tivesse transcorrido apenas um segundo, o barquinho aportou praticamente em frente a Amber.

Dele saiu um homem alto, bonito, cabelos negros um pouco longos, chicoteando sua cara por causa do vento.

- Boa tarde!

Ele disse.

- Boa tarde.

- Eu nunca te vi por essas bandas, você é nova na cidade?

Perguntou o homem, com visível curiosidade.

- Sou. Vim passar um tempo.

- Muito prazer, sou William Bonst, guardião do farol.

- Amber Jones.

- Espere, A Amber Jones, atriz?

- Sim, sou eu.

- Nossa, você parece mais alta ao vivo.

- Isso é um elogio?

- Alguma coisa em você não serve de elogio?

Então começaram a caminhar. William apontou para o farol, e começou uma longa explicação sobre o funcionamento dos mesmos.

Era incrível saber que ainda existiam faróis controlados por humanos, a grande maioria, Amber sabia, era automatizada.

- Você gostaria de ir almoçar comigo?

Perguntou William, tirando Amber de suas divagações.

- Ah, - respondeu ela- eu já almocei, mas poderíamos deixar para amanhã.

- Certo, amanhã, a uma hora, no restaurante da esquina entra a rua principal e a rua Collonel.

- Marcado.

Então William entrou em seu barco, ligou o pequeno motor, e se dirigiu ao farol.

“Que cara estranho”, pensou Amber, “direto, mal me conheceu e me chamou pra almoçar!”. “Mas aquele jeito dele praticamente me hipnotizou”.

O resto do tempo se passou tranquilamente, e Amber, mesmo contra sua vontade racional, ansiava pelo almoço com William.

Faltando meia hora para a hora marcada, Amber começou a caminhada até o restaurante indicado por William.

E lá estava lá, displicentemente bagunçado, mas bonito.

Ela se sentou à mesa, e no ato reparou que os olhos de William pareciam faiscar.

Então, antes de trocarem a primeira palavra, um celular tocou.

Era de William, que o atendeu:

- Alô – Disse William – Sim, mas eu não posso atender. Não, você não entende, eu estou em um compromisso de suma importância – Amber se sentiu lisonjeada com isso – Ok, tchau!

E desligou o celular com violência.

- E aí Amber, tudo bem?

Perguntou ele.

- Tudo ótimo e com você?

- Ah, tudo indo.

- Você está com uma cara estranha, algum problema?

- Não, claro que não. Eu estava pensando, eu queria te mostrar a cidade depois do almoço, o que você acha?

- Claro, vamos sim.

Depois de alguns minutos de passeio Amber chegou à conclusão de que a cidade não tinha nada de interessante.

- Mas o melhor – disse William ao fim do passeio – Eu te mostro amanhã.

No dia seguinte, Amber estava deitada em sua casa, quando ouviu uma batida a porta.

“Estranho, ninguém nunca tocou aqui”, pensou Amber.

Ao abrir a porta, Amber esqueceu que desconfiara de qualquer coisa, pois William Bonst estava lá, sorrindo:

- Bem – Disse William – Eu queria te mostrar o que a cidade tem de melhor, já que pela sua cara, você não gostou muito do nosso passeio.

- É, não gostei.

Respondeu Amber.

- Bem, a cidade não é muito atraente.

- Aonde eu vou te levar é...

William então começou a caminhar, mas algo estava errado, ele estava andando em direção contrária a cidade.

- William – Perguntou ela – Onde estamos indo?

- À cachoeira.

- Vocês têm uma cachoeira?

- A mais linda da região.

Amber e William continuaram caminhando, até que chegaram a uma bela queda d’água, águas cristalinas caindo com beleza em direção a um lago.

- Mas, William – disse Amber – eu não trouxe nenhum tipo de roupa para mergulhar.

- Nem eu.

Respondeu William, e pulou de roupa em direção ao lago.

Amber resolveu deixar as palhaçadas de lado e pulou também.

O lago estava gelado, mas era um frio que lavava a alma, um frio bonito, que fazia Amber relembrar seus primeiros anos como atriz, ainda na televisão, não muito famosa, mas gostando do que fazia.

Então William se aproximou dela, e ela pressentiu o que viria a seguir, e não resistiu.

William a beijou mais apaixonadamente do que qualquer um, em toda a sua vida.

Amber nunca soube se aquele momento durou um minuto, uma hora, quem sabe um dia?

Ela só sabia que não queria que aquele momento acabasse, nunca, de modo algum.

Os dias seguintes tiveram, na visão de Amber, sabor de algodão doce, com caminhadas perfeitas por outras maravilhas do povoado, cavalgadas ao som do vento, e que música linda o vento tocava quando ela estava com William.

E lá estava ela, indo ao encontro de William, na exata mesma praia aonde se conheceram.

Quando Amber chegou, William estava encostado em uma pedra, falando naquele maldito celular.

Amber se aproximou para falar com William, mas o seu tom de voz no telefone a paralisou completamente. Não era impressão, ele estava chorando.

- Eu não posso – disse ele – não consigo!

O silêncio de William, ainda com o celular no ouvido, indicava a Amber que seja lá quem fosse do outro lado da linha, estava falando.

- NÃO! – gritou William tão alto que sobressaltou Amber – Está acima do dinheiro, da minha vontade, de tudo!

Nova pausa.

- Certo – disse William em tom mais calmo – eu juro que farei.

E desligou, com tanta força que quebrou o celular.

- William – disse Amber em tom baixo – alguma coisa está errada?

William a olhou, e ela viu angústia nos belos olhos negros.

- Vá embora dessa cidade, Amber, finja que nunca me conheceu, melhor, esqueça quem me conheceu, esqueça tudo.

- Mas William – respondeu Amber perplexa – eu...

- Você não pode escolher, tem que ir agora.

- Não! Qual é o problema?

- O problema é você, Amber, por favor, faça isso para si mesma, vá embora – então William tomou ar e berrou a plenos pulmões – VÁ EMBORA AGORA.

William então percebeu que Amber não iria, então puxou uma arma do bolso interno de seu casaco e apontou para Amber:

- Vá embora.

Ele disse.

E encaixou o dedo no gatilho. Quando a arma iria finalmente disparar ele a apontou para a própria cabeça.

Amber fechou seus olhos e caiu de joelhos no chão, mas não veio nenhum barulho.

- William? – ela disse ainda com os olhos fechados - por favor, responda!

E então abriu os olhos e viu que William estava caído, a arma possuía um silenciador.

Mas algo estava errado, se ele atirasse na têmpora, como aparentemente faria, o sangue estaria escorrendo do tiro, e não da nuca.

Então uma voz conhecida falou:

- Era um rapaz tão bonito, não merecia morrer assim...

Amber ficou estupefata. Richard, seu agente, saía de trás de uma formação rochosa, um rifle nas mãos.

O ar pareceu escapar dos pulmões de Amber, era um sonho, só podia ser um sonho.

- Richard... Por quê?

Foi tudo o que ela conseguiu balbuciar.

- Sabe Amber, há algum tempo venho me perguntando o motivo de eu trabalhar com você.

Amber queria escutar, entender o motivo daquela morte, da morte do único homem que ela realmente amara.

- Quando você decidiu viajar, eu tinha acabado de me tocar de que você só me dava trabalho. Volta e meia faltava a compromissos importantes, já tinha me feito perder muito, mas muito dinheiro!

Amber continuava sem entender, o que isso tinha a ver com William?

-Então, Amber – continuou Richard – quando você me avisou que iria viajar, eu pensei em qual seria o único modo de obter dinheiro em cima de você: matando-te. Eu ganharia milhões em cima dos direitos da sua imagem, já que, caso você não lembre, eu era o detentor desses.

Amber pensou em correr, ela queria correr, mas também queria ouvir toda a história.

- Então – disse Richard – eu procurei por essa cidade fétida alguém que faria o serviço. O jovem William Bonst estava com problemas de dinheiro com o seu farol, na sua família a mais de um século, e quando eu expliquei a ele a situação, e ofereci metade dos lucros, ele prontamente aceitou.

Amber não acreditava, não podia ser, o jovem William Bonst, um assassino?

- Mas o coitado não teve coragem, não depois de conhecer você.

Era comigo que ele falava no celular, ainda agora. Pensou que mandar você fugir daria algum resultado. O dia marcado para a sua execução era hoje, e ele achava que eu não ia ficar de olho nele. Ele foi fraco, não teve coragem de cumprir o combinado. Eu só tinha uma saída: matar o pequeno William.

- E agora, Amber, desculpe, minha linda, mas você tem que ir também. Te vejo no inferno.

E Amber reviveu uma cena de poucos minutos atrás.

Ela novamente fechou os olhos, e novamente ouviu um disparo, mas não sentiu dor nenhuma.

Ela abriu os olhos e viu Richard imobilizado por Charlie.

Charlie chegara por trás, e desviara a arma na hora do tiro.

- Charlie – disse Amber – você...

- Vamos – respondeu ele – para casa.

- Mas e ele?

Perguntou Amber apontando para Richard, ainda imobilizado nos braços de Charlie.

- Levamos conosco e entregamos a polícia.

Disse Charlie.

- Certo, e William?

Questionou Amber.

- Você ainda sente alguma coisa por ele? – retrucou Charlie – mesmo depois de saber o que ele fez?

- Ele se arrependeu, ele é a maior vítima disso.

- Se você diz assim.

Com Richard entregue a polícia, Amber se voltou para o funeral de William.

Foi em uma tarde cinzenta e chuvosa, refletindo o estado do coração de Amber.

Ela não tinha feito nada desde a morte de William, só revivia aquele momento, na praia, a hora do tiro, quando ela abriu os olhos e viu o belo homem morto.

Quando ela finalmente caiu em si, viu que o caixão com o corpo de William já estava sendo baixado, em direção a sua última morada.

Amber então jogou duas rosas em cima da madeira fria, uma branca e uma vermelha.

Por algum motivo, sempre que ela pensava em William, ela se lembrava do farol onde ele trabalhara, uma luz na escuridão, iluminando a frieza da água.

Retomou seu caminho para a casa.

Era seu último dia lá, naquela cidade.

Pela última vez, checou a caixa de correio, mesmo tendo certeza de que estaria vazia.

Uma surpresa: seus dedos tocaram o papel, cuidadosamente dobrado.

Quando Amber o retirou, e começou a ler, seus olhos marejaram de lágrimas, e, sem conseguir segurá-las, Amber chorou.

“Amber,

Hoje é o dia marcado para o maior erro da minha vida. Se você está lendo isso, eu tive coragem de não cometer esse erro, e isso deve ter me custado a vida. Queria dizer acima de tudo que te amo,que aquele dia na cachoeira foi o melhor da minha vida, e que esteja onde estiver, olharei por você. ETERNAMENTE seu,

William Bonst”

*********

100 dias depois

*********

Amber estava sozinha, assistindo televisão, quando, por alguma motivo, se lembrou daquele dia na cachoeira. Então, Amber começou a passar mal.

E a dor não passava, uma incrível dor na região abdominal.

Então foi ao médico.

A revelação daquele dia tirou qualquer tristeza que Amber poderia ter.

Afinal, ela descobriu que a lembrança viva de William estava com ela, que o dia na cachoeira fora realmente um dia abençoado.

Ela carregava o filho do Homem do Farol.

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"Só amor logrará (se nobre à dor se esquive,

E consiga, no lance, inúteis ais calar),

No que se vai finar, na que lhe sobrevive,

Pela vez derradeira, o seu poder mostrar."

Lord Byron, Eutanásia

SOMBRAS DO FAROL

Non omnia quae vera sunt recte dixeri

Amber se sentia exausta. Finalmente, no quinto mês de gravidez, ela tinha revelado a mídia sua condição de gestante.

Junto com a primeira revelação, finalmente veio ao grande público a verdade, da boca da própria Amber.

Ela não sabia o que os fãs diziam de sua história, mas foi como aconteceu, gostassem eles ou não.

No momento, Amber se sentia encolhida, observando a televisão, que reprisava sua última entrevista.

Foi quando ouviu batidas na porta.

‘‘Ignore’’

Mas as batidas iam ficando mais fortes, até que Amber ouviu:

- Abra, por favor.

Ela conhecia aquela voz, mas não sabia de onde.

-Espere – ela disse – quem é?

- Por favor, abra!

- Certo, certo!

Amber foi até a porta, abriu-a, e sentiu-se estranha. O homem tinha as exatas feições de William, embora mais velho, bem mais velho.

O homem estendeu-lhe a mão:

- Muito prazer Amber, meu nome é Sean Bonst.

Bons. O pai de William. Então era isso. Daí que Amber conhecia aquela voz, aquele rosto:

- William nunca me falou sobre o senhor, senhor Bonst.

- Ah, querida, por favor me chame de Sean.

- Certo, Sean.

- O fato de William nunca ter falado de mim faz sentido. Nós estávamos brigados desde que ele tinha vinte e um anos.

- E o que fez com que o senhor me procurasse agora?

- Meu neto, é claro.

Respondeu Sean, mas sua voz transparecia apreensão.

- Senhor Bonst, Sean, o que realmente o trouxe aqui?

- Você tem que entender, eu precisava que você soubesse.

- Soubesse de que?

- Melhor sentar.

Amber e Sean se sentaram, Amber imaginando o que de tão importante o pai de William teria para ela.

‘‘Eu soube da morte do meu filho, mas não sabia das circunstancias exatas. Você deve ter reparado que eu não estava no enterro dele. Mas alguns dias atrás recebi um telefone estranho. A mulher do outro lado da linha somente me disse para ligar a televisão e ver uma entrevista com você. Eu o fiz, e quando você terminou de contar a história de sua gravidez e conseqüências, o telefone tocou de novo.

Era a mesma voz. Disse-me para te encontrar e ir para o velho Farol, onde poderíamos reencontrar William.

Amber se sentiu nauseada. Reencontrar William?

- Isso é impossível. – Disse Amber – Eu vi William sendo assassinado.

E por um momento Amber reviveu toda aquela cena na praia:

- Por favor, Amber. Venha comigo. Tenha fé.

- Me deixa pensar.

- Certo, amanhã eu volto aqui para receber sua resposta.

- Não prefere dormir aqui?

- Não, prefiro ficar em algum outro lugar.

A noite passou para Amber exatamente como a noite depois da morte de William.

O medo, a ansiedade, todos os sentimentos misturados.

Jean O’Morrel dormia profundamente, esperando pelo grande dia.

Finalmente, construiria seu condomínio, demolindo aquela velha relíquia de tempos anteriores.

Nunca se esqueceria do tom de voz do vendedor daquelas terras.

‘‘ Eu realmente preciso de dinheiro, não tem mesmo como pagar mais?’’

Coitado dele. Mas ela fora boa, dera uma resposta razoavelmente bondosa para ele.

‘‘ Senhor, a construtora realmente não está disposta a pagar a quantia que o senhor cobra. Será que não poderíamos negociar?’’

‘‘ Quanto a senhora me oferece?’’

‘‘ Dez por cento a menos que o preço original’’

‘‘ Certo. Temos um negócio. Mas com uma ressalva. Estou em um emprego temporário, deve terminar em uns dez dias.’’

E agora o homem estava morto. Coitado. O pior é que morrera no dia anterior ao que seria o dia da entrega do imóvel. Mas finalmente tudo tinha terminado. Ela ia poder construir seu condomínio, modernizar aquele vilarejo.

Então Jean se lembrou das palavras finais, do aperto de mãos:

‘‘Obrigado senhor...’’

‘‘Bonst, William Bonst’’.

Amber e Sean saíram de casa cedo no dia seguinte. Ela ainda não entendia o que a mulher que telefonara para Sean queria dizer com ‘encontrar William’, já que ele estava morto e ela sabia disso, mas ela iria arriscar somente para entender o que a mulher queria dizer.

Iriam para a velha casa de Amber.

Ninguém tinha sido avisado, nem mesmo Charlie, o caseiro.

Quando bateram à porta, conseguiram ouvir a voz de Charlie, vinda provavelmente de seu jardim, nos fundos da casa.

Apreensiva, Amber olhou para Sean, que com um gesto de cabeça, lhe indicou para ir adiante:

- Sou eu, Amber.

Os passos fortes de Charlie ecoaram, até que a porta foi aberta com violência.

- AMBER!

- CHARLIE!

Os dois se abraçaram com tamanha violência que parecia que suas vidas dependiam disso.

- E quem é o convidado? – perguntou Charlie, estendendo a mão para Sean.

- Charlie – disse Amber – este é Sean Bonst, pai de William.

- Pai de William...Espera, você é o pai do...

- Sim Charlie, ele é.

- Ok.

Amber, Charlie e Sean entraram e se sentaram.

- Charlie – começou Amber – alguns dias atrás, Sean recebeu um telefonema muito estranho, dizendo que se ele e eu viéssemos aqui, poderíamos reencontrar William. O que você acha disso?

- Bom, primeiro eu tenho que perguntar uma coisa para ele: Qual é o seu interesse em reencontrar William? Eu sei que o senhor nunca se interessou por ele. Bem antes de Amber vir para cá, senhor Bonst, a história de como você e seu filho brigaram era conhecida por todo o vilarejo.

Amber se sentiu curiosa, queria que Charlie continuasse a falar. Mas ele não o fez.

- Senhor Clauson...

Começou Sean, logo interrompido por Charlie.

- Como sabe meu sobrenome?

- Perguntei a Amber enquanto vínhamos para cá. Enfim, senhor Clauson, eu não lhe devo satisfação nenhuma, mas esta será dada. Meu interesse em encontrar William é a reconciliação.

- Entendo. O senhor já procurou sua esposa para reconciliação também?

- Chega!

O resto do dia transcorreu sem maiores incidentes, apesar de Charlie e Sean se evitarem.

Ao cair da noite, Sean já estava dormindo.

Amber se aproximou de Charlie, com muitas dúvidas na cabeça.

- Charlie, o que causou a briga entre Sean e William?

- Eu imaginei que você viria perguntar isso. A briga foi por causa do Farol. William queria vendê-lo, mas Sean não admitia isso. Sean então foi embora dizendo que se William queria vender uma relíquia de família, que nunca mais o procurasse. Desde então, você sabe.

- Sei. E aquilo que você falou da esposa dele, o que você queria dizer?

- Isso eu posso garantir, é muito mais estranho. A esposa de Sean o abandonou quando William tinha apenas três anos. Ninguém sabe ao certo o motivo de Elena...

- O nome dela era Elena?

- Sim, era espanhola. Dizem que Elena largou Sean porque estava apaixonada por outro homem. Ninguém sabe se isso é verdade ou não. Boa noite Amber, vou me deitar.

Então Charlie saiu, deixando Amber com tantas dúvidas quanto quando chegara.

No dia seguinte, Amber se preparava sozinha e silenciosamente para ir conhecer o Farol. Não sabia onde conseguiria um barco para atravessar pela água, mas iria.

Então Sean apareceu.

- Onde você está indo?

Perguntou ele.

- Conhecer o Farol.

Respondeu Amber calmamente.

- Eu vou com você.

- OK.

Ao mesmo tempo que Amber Jones e Sean Bonst saíam de casa para conhecer o Farol, Jean O’Morrel chegava ao mesmo vilarejo em que eles estavam.

Jean torceu o nariz ao chegar ao vilarejo. Não pela aparência deste, que era desmensuradamente bonito, mas pelo trabalho que daria para modernizá-lo, e, por conseguinte, pelo dinheiro gasto.

Mas logo depois viu, ao longe, o prédio alto que em pouco tempo seria demolido. E a vasta ilha que por ali se estendia. Lindo. Perfeito para seu condomínio.

E aquele pequeno canto não pedregoso, seria uma bela praia particular!

Mas, depois de uns quinze minutos pensando no condomínio, sua atenção foi atraída para dois seres humanos que juntos chegavam em um pequeno barco, aportando em sua ilha.

Um deles se ajoelhou, e alguns minutos ficou parado nessa posição, até que levantou, e se virou para o outro, que aparentava ser uma mulher.

Amber entendia a emoção de Sean ao finalmente reencontrar aquelas terras, mas ela queria logo entrar.

Ao mesmo tempo pensava na sorte que havia sido encontrar um barquinho a remo na beira da praia, parecia que esperando por eles.

Mas tinha que entrar logo, sabia, de algum modo sabia, que algo a esperava lá dentro.

Assim que Sean se levantou, dirigiu-se a Amber:

- Este lugar era do meu pai, e antes dele, do meu avô, antes do meu avô, bisavô, e por aí vai.

- Entendo, Sean, mas anda, vamos entrar.

Então Amber e Sean se dirigiram para a entrada, e assim que tocou na porta, Amber sentiu um mau pressentimento, como uma fria mão atravessasse seu corpo.

Abriu a maçaneta.

A sala circular era exatamente como o local em que Amber imaginara William vivendo, elegantemente desajeitado.

Então viu sobre a mesa o papel. Depois de ler o papel, só conseguiu estendê-lo a Sean, que, por sua vez, somente distinguiu algumas palavras do texto ‘‘venda’’ ‘‘farol’’ ‘‘William Bonst’’.

O tempo passou para Amber e William como nunca havia passado antes. Nem mesmo relógios saberiam dizer o tempo que se passou entre o choque deles e a batida na porta.

Jean esperava em frente à porta, quando esta abruptamente se abriu, mostrando uma bela mulher.

- O que você quer? – Perguntou a mulher – fala rápido!

- Olá – respondeu Jean – Meu nome é Jean O’Morrel.

- Espere aí – disse um terceiro, um homem já idoso – Você é a mesma Jean O’Morrel deste documento aqui? Que comprou esta propriedade?

- Sim, sou eu, o que caracteriza o ato de vocês dois como invasão de privacidade e...

- EU VOU TE MATAR!

Sean pulou em cima de Jean, tentando desesperadamente atingi-la com um pedaço de madeira ao seu lado.

Neste mesmo momento um homem entrou no aposento, segundo Sean e jogando-o contra a parede.

- E você, quem é?

Perguntou Amber espanta.

- Sou James Dohe, dono de um Pub no vilarejo.

- E o que você está fazendo aqui?

- Eu trouxe essa senhora para cá, por um certo valor, devo dizer.

- Ao mesmo tempo, Sean se sentava, enquanto Jean tinha um ataque de nervos:

- O que está acontecendo aqui!?

Perguntou ela histericamente, dando pulinhos.

- Eu sou o legítimo dono destas terras!

Gritou Sean, transtornado.

- Não, senhor. – disse Jean – Estas terras estavam em nome do senhor William Bonst, que me vendeu. Caso o senhor deseje ver o contrato...

- Certo, desculpe – disse Sean. Amber se espantou que ele tivesse se acalmado tão rápido – Mas como William pôde fazer isso?

- Desculpe, senhor – retornou Jean – mas quem é o senhor?

- Sean Bonst, pai de William. Esta a sua direita é Amber Jones, que namorou William por algumas semanas e agora está grávida do filho dele.

- Entendo.

Disse Jean.

Neste momento, uma chuva torrencial começou do nada do lado de fora, mas antes que fossem assimilados os fatos, uma nova batida à porta assustou a todos.

Amber chegou antes, e quando abriu, somente viu o cano de uma arma, e de esguelha, um novo barquinho a remo.

- Ah, que maravilha! De uma tacada só encurralo todos os últimos Bonst, a compradora das terras e um dono de Pub!

- Que... Quem é você?

Perguntou Amber.

- Não se lembra de mim, Amber Jones? Tem certeza?

Amber então se lembrou. Só tinha encontrado a mulher uma vez, em um jantar. Mas não era possível...

- Como você me encontrou?

Perguntou Amber.

- Richard me falou, o que você esperava, hein minha bonitinha? Você acha que um agente como ele, cheio de contatos, não descobriria facilmente onde você tinha ido, querida? Ele simplesmente mandou uma pessoa te seguir, dizendo que era para sua proteção. Somente quando ele viu seu empregador com uma arma deve ter entendido o que realmente estava acontecendo, e resolveu impedir o seu assassinato,

- Como? Quem?

- Vamos Amber, você é atriz mas não tão burra! Charlie... Clauson!

Amber não podia entender. Charlie, o jovem Charlie?

- Amber, sente-se ali.

Desta vez a voz fez Amber realmente se sobressaltar.

Quando ela olhou em volta, não o via, mas como poderia, ele estava morto

A voz de William Bonst estava nela mesma, em sua mente e coração.

Amber finalmente sentou-se, e escutou a mulher, chamada Evellyn, falando.

- A culpa, Amber, de Richard estar preso e mofando na cadeia, é sua, desse tal de Charlie, desgraçado. Você e ele vão morrer, e, para não sair de mãos abanando, eu vou matar essa compradora da ilha, roubar a escritura, na bolsa dela, e terminar meus dias aqui.

Amber esperava ouvir novamente a voz de William dando-lhe orientações, mas nada veio.

Então Amber pegou uma garrafa de vidro, o único objeto ao seu alcance, e arremessou-a na cabeça de Evellyn, fazendo-a balançar um pouco, mas logo apontar a arma novamente para Amber.

Mas nesse meio tempo em que ela tonteava, Sean se levantou e tentou segurá-la.

Evellyn e Sean lutaram por algum tempo, até que a arma foi disparada.

James Dohe somente suspirou, antes de cair estatelado ao chão, quase morto.

Amber gritou, pulou em cima de Evellyn, e jogou-a no chão.

Sean chutou a arma da mão dela.

Jean conseguiu uma corda em um canto, amarrou Evellyn no fundo da sala, e chamou Amber e Sean para conversar.

- E agora, o que fazemos?

Perguntou ela.

- Eu acho – iniciou Amber – que por o homem ali, James, não há nada que possamos fazer. Esperamos agora passar a noite e vamos até a cidade, explicamos o que aconteceu, e vemos no que dá.

- Espere um minuto – disse Sean – tenho que perguntar uma coisa para essa mulher.

Sean se dirigiu até a mulher, deu-lhe um tapa na cara e disse:

- Foi você que me telefonou?

- Foi!

- Você me deu esperança de reencontrar meu filho morto! Só para me fazer trazer a mulher que arruinou sua vida aqui? Você vai morrer, Evellyn, e pelas minhas mãos.

Sean então agarrou o pescoço de Evellyn, sacudindo-a, mas Amber gritou:

- Não Sean! Imagine a situação com essa mulher morta: Você seria considerado assassino. E quem corroboraria a história dela?

Sean então se afastou de Evellyn, com uma fúria assassina no olhar.

Jean então começou a andar de um lado para o outro, aparentemente pensando.

- Sabe, senhorita Jones – começou ela – eu imagino como faremos para sairmos todos amanhã, levando um corpo e uma mulher amarrada.

- Isso fica para amanhã. Vamos descansar.

A noite passou calmamente, sem mais nenhum problema.

Com o Sol nascendo, Amber saiu do Farol para averiguar os barcos. Um estava intacto.

O plano então foi discutido com Jean e Sean.

Sean e Jean sairiam antes, levando o corpo de James Dohe com eles, depois Sean voltaria e buscaria Amber e Evellyn. Quando todos estivessem na praia, iriam a polícia.

E foi o que fizeram. Evellyn então confessou tudo, e, incrivelmente, não disse nada sobre o ataque de Sean.

Mas ainda havia uma coisa a se resolver. Charlie Clauson.

Amber bateu a porta de sua casa, ligeiramente tranqüila.

Jean voltado para sua casa, mas Amber nunca esqueceria a conversa que tivera com ela antes da partida:

‘‘ Jean, o que aconteceu no farol merece ser esquecido. Construa o condomínio. Boa sorte’’

Foi isso o último diálogo entre as duas.

Sean ficara na cidade, para prestar homenagens ao túmulo de William.

Mas o importante no momento era Charlie.

Ele atendeu a porta com um meio-sorriso no rosto.

- Charlie, precisamos conversar.

- Sobre o que?

- Charlie, eu sei tudo o que Richard falou com você, você ter me seguido, sei de tudo.

- Como você descobriu?

- Não importa. O que importa é que eu descobri.

- Sim... Então, vai fazer o que?

- Nada. Só esqueça que nos conhecemos um dia.

- Esquecerei.

Amber então se dirigiu a praia. E lá estava Sean, andando calmamente, serenamente.

- Sean.

Sean então se virou, olhando para Amber.

- Oi Amber.

Os dois começaram a andar pela areia, até que Amber disse:

- Sean, no dia anterior ao dia em que fomos ao Farol, Charlie me disse algumas coisas sobre seu passado. Eu queria saber mais, se não for incômodo, sobre você e Elena.

- Ah, sim, Elena. Sim, ele provavelmente lhe disse que ela me abandonou por outro homem certo?

- Foi.

- Sim, isso foi o que eu decidi dizer quando ela adoeceu.

- Adoeceu?

- Sim. Logo depois ela morreu. Eu nunca amei ninguém como amei Elena.

- Mas, Sean...

- Pai.

Desta vez a voz de William Bonst foi extremamente audível.

- William?

Disseram Amber e Sean ao mesmo tempo.

- Amber. – sim, era William andando na direção deles – Eu te amo tanto. Pai, eu queria somente dizer que a mamãe está comigo, e que te amamos. Vocês dois sejam felizes, no mais puro sentido da palavra. Amber, perdoe o pobre Charlie, ele não sabia realmente o que estava fazendo quando vigiou você. Pai, para você, eu só tenho que dizer uma coisa. Procure no Farol por uma antigo texto, de um certo autor chamado Jimmy Lonan, leia a parte chamada ‘‘Carta ao Amor’’, e siga. Adeus.

William então sumiu, deixando Amber e Sean estarrecidos.

Assim que conseguiram um barco, rumaram para o Farol e facilmente encontraram o livro, intitulado ‘‘O princípio de tudo’’.

A parte descrita por William era bem simples, na verdade somente três parágrafos:

‘‘O amor não é um sentimento, não é um pensamento, não! Nada parecido com isso. O amor é um estado de espírito, uma elevação da alma imortal que nos guia por um mundo de mistérios.

O amor é tudo, nada, princípio, fim, medo, coragem, água, vinho, ou acima de tudo, simplesmente amor.

Esse amor é sentido, vivido, amado. Esse amor que eu sinto. Esse amor belo. Esse amor infinito’’

Amber se aproximou da casa de sua avó, esperando encontrar Charlie.

Este apareceu a porta, obviamente transtornado pela recente conversa.

- Charlie – disse Amber – eu... Resolvi te perdoar.

- Assim, do nada?

- É.

- Ok, se você diz.

- Amanhã voltarei para a cidade. Sean irá comigo.

- Certo.

- Mas antes eu preciso ir a um lugar, sozinha.

Amber se aproximou da cachoeira, sentindo que ali ela finalmente iria sentir a plenitude do amor que sentia por Wiliam.

E sim, ali ela sentia essa plenitude. Ali ela amou mais do que nunca o homem que mudara sua vida, o homem que ela nunca esqueceria, o homem que daria nome ao seu filho, o homem do Farol:

William Bonst.