Vivências.

Ela andava estranhando como se sentia ultimamente. Seu corpo não andava reagindo bem

à rotina que ele até então cumprira com um bom desempenho. Se perguntassem a ela o que sentia talvez nem soubesse explicar bem.

Todos os dias quando o despertador tocava, seus olhos abriam lentamente. “Já?Ah, dormi tão pouco!” Isso era o bastante para virar-se para o lado prometendo apenas mais cinco minutos, que com sorte não virava meia hora. Levantava-se com o corpo moído. Movimentos lentos. Sentava-se na cama, olhava a rua através da janela e invejava as janelas ainda fechadas e sem luzes acessas, ainda dormiam. Depois era o copo d’água, a fruta, o banho e saía para trabalhar. Assim começava o seu dia.

No trabalho até engrenar, levava um tempinho: primeiro era o café, depois os remédios, e o retoque na maquilagem. Ainda lia os e-mails, respondia alguns e então a “máquina” aquecia e começava o dia.

Determinou-se a fazer ginástica. Precisava se ajudar, dar combustível ao corpo. Na volta para casa, no transporte mastigava lentamente, quase ruminando uma barra de cereal. Aproveitava às vezes para “pensar” na vida ou então para não pensar em nada. Às vezes ia com os olhos fechados. Não queria ver mais nada.

Mas quando parava para pensar ficava se questionando o que estaria acontecendo. Aquela angústia, aquela tristeza sem motivo aparente! E se estivesse com alguma doença grave?

Acontecia de chegar em casa e não querer se alimentar. Apenas tomava um banho, vestia o pijama, bebia água e dormia.

Percebeu que às vezes se pegava chorando. Chorando por quê? Que tristeza era aquela?

E assim ia levando sua vida.

Numa outra manhã quando levantou sentiu-se tão mal, uma fraqueza. E que suores eram aqueles? Era calor, era frio! “Pronto. Estou gripada. Também o calor que está fazendo! Um entra e sai de ar condicionado só poderia dar nisso!”

Antes de chegar ao trabalho, ainda no transporte aquele mal-estar novamente. Transpirou tanto! Parecia que esguichava água do seu corpo. Algumas pessoas olhavam para ela que constrangida buscava um lenço de papel na bolsa. Próximo ao trabalho entrou numa farmácia e pediu um remédio para gripe, uma vitamina. “Desta vez, esse resfriado está diferente. Deve ser outra virose estranha”.

Chegou na sua sala de trabalho com um ar meio transtornado e quando estava buscando o café, comentou com uma colega. Ela sorrindo veio até ela e falou que aquilo tudo mais parecia sintomas da menopausa. Menopausa? Eu?

Essa possibilidade a deixou mais tonta do que já estava. Aquele dia de trabalho foi longo. Faltou concentração (aliás, já vinha ocorrendo), uma irritação crescente (já havia reparado que ultimamente andava meio sem paciência), fora as lágrimas que insistiam em encher os seus olhos.

No dia seguinte resolveu marcar consulta com sua médica. Depois que narrou todos os seus sintomas, ter chorado (mesmo sem querer), o diagnóstico era aquele mesmo: menopausa. Ficou sabe lá como: triste, apática? Ouviu todas as orientações da médica, recebeu a requisição para alguns exames e saiu com o peso de uma sentença nas costas.

Por que não se está preparada para essa fase na vida? Por que a surpresa? Não é apenas mais uma fase? Não foi assim com a menstruação, mais tarde com a gravidez e a maternidade. Agora era a menopausa. Simples? Não.

Passados os dias, retornou à médica com os exames. Como estava tudo em ordem, começaria a fazer reposição hormonal. Isso lhe daria mais ânimo, aliviaria os calores, amenizaria a tristeza e quando menos percebesse estaria voltando à normalidade, lhe disse a médica. Ganhou um livro contendo informações sobre esta nova fase da vida.

Nos últimos dias percebeu que andava um pouco melhor. Às vezes os sintomas anteriores voltavam mas agora pelo menos não eram todos os dias. Apesar dos calores e de alternar humores, já conseguia falar mais sobre o assunto com as colegas de trabalho e da ginástica. Discutia reações e pegou-se rindo quando contou o ocorrido no transporte. Um dia conversando com uma moça no transporte, tomou conhecimento de um grupo de mulheres que se reunia semanalmente para dividirem suas vivências neste momento novo de vida. Armou-se de coragem e telefonou para saber detalhes e decidiu ir ao encontro.

Chegando lá, era numa casa simpática e antiga, numa sala sem cadeiras, apenas com almofadas no chão liso de madeira. Pouca luz, que vinha de um abajur no canto da sala. Tinha um leve cheiro de lavanda no ar. Foi recebida por uma das orientadoras que a introduziu ao grupo. Eram de dez a doze mulheres mais ou menos da mesma idade. Começaram a conversar. Falavam de tudo que ela vinha vivenciando. Falavam da dificuldade das pessoas entenderem tudo aquilo. Falavam de amor, sexo, momentos de apatia, insônia, tristeza, tesão. Nos primeiros encontros não conseguiu falar de si. Ouvia. Entendia cada palavra e sofria por cada lágrima que às vezes via brotar nos olhos de alguma mulher e tentava disfarçar às que insistiam em brotar nos seus. Chegou o dia que teve coragem de falar. Lavou a alma.

Já se passaram alguns meses. Ela continua participando do grupo. Os sintomas já são muito mais brandos e tem sido mais fácil conviver com a menopausa. Tem aproveitado este novo momento de sua vida para rever valores. Vem pensando em participar de algum trabalho voluntário de apoio a mulheres. Enquanto isso, deixa suas palavras, sentimentos registrados em algum pedaço de papel.

Wanda Recker
Enviado por Wanda Recker em 19/02/2006
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