CRIATURAS
Ambiente pesado, fétido. Ar poluído, clima poluído. Cheiro de ferro e óleo. Cheiro de corpos quentes. Assim entrei no vagão do metrô; dor de cabeça intensa. E era assim que ocorria todas as vezes que entrava no trem. Pensava no porquê de tanta energia negativa e não entendia o motivo de tanta tristeza e dureza no coração. Seguiu o trem. Estação após estação, centenas de pessoas lotaram as composições. A dureza do ambiente aumentava e eu me sentia cada vez mais deprimido. Seis e meia da manhã e já me encontrava daquele jeito. A depressão só vinha quando eu entrava no trem. Perguntava-me o porquê daqueles sentimentos. Tentava estabelecer um paralelo entre o que sentia e o ambiente impregnado. Não encontrava soluções. Devia haver algo ou alguém responsável pela alteração das energias. A minha mente não estava sendo suficiente para entender o que se passava. Fui ficando nervoso, suando demais, e por isso a irritação crescia a proporções gigantescas. Com os olhos comecei a procurar o agente que causava o mal-estar. Percorri um a um os ocupantes do vagão. Estava difícil achar. Ninguém sequer me fitava. Até que, num relance, vi aquela figura. A princípio custei a fixar a imagem, mas era verdade, ela existia. Dona de cabelos negros, espigados, horríveis e com um odor fétido. O seu rosto era redondo como uma lua. Na sua pele pude perceber erupções por todos os lados. Era gorda, muito gorda. Sua cintura era como um barril redondo. As suas pernas e braços eram cabeludos como um macaco e o odor, ah... o odor, era terrível, não tenho como descrever.
Quando me encarou, “putz”, senti uma sensação terrível, parecia que estava perdendo as energias. Soltou um sorriso e a sua boca era mais podre do que tudo. Lutei para não olhar para ela, mas era impossível. Exerceu por um bom tempo uma atração terrível sobre a minha vida. Sensação terrível que senti.
Sem explição, a imagem do meu lar distante começou a surgir na minha mente. As palavras carinhosas de minha mãe vieram aos meus ouvidos e pude sentir o seu amor junto a mim. Os velhos amigos começaram a surgir e, quando fitei o monstro novamente, ele se dissipava como a fumaça de um nevoeiro atingida pela luz do sol. Estava ficando louco? Como uma imagem tão real podia sumir assim? Fiquei alguns segundos pensando nisso, mas a felicidade que tenho de viver era mais forte, e o monstro morria aos poucos. Verdadeiramente sumiu, desapareceu para sempre, levando a agonia e a tristeza junto com ele. O ar ficou mais leve, mais sutil e tudo naquele dia foi melhor. No próprio trem, as expressões começaram a mudar e o sorriso começou a ganhar espaço.
A mente humana é poderosa. Cria tudo em que acredita. Pode construir ou destruir vidas. Muitos monstros fazem parte dessas criações que insistimos em deixar assolar as nossas vidas.
Criaturas de mentes doentes
MARCELO SMITH
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