Uma Certa Casinha

Era noite e pela vidraça vazava uma luz amarela,

lá dentro tinha risos,

tinha bolo e café,

tinha toalha xadrez,

tinha os causos do seu Zé.

Era noite e ainda não tinham fechado a janela,

lá dentro tinha a cama,

uma moça na penteadeira,

tinha lágrimas nos olhos

e fogo crepitando na lareira.

Era noite e na casinha a porta não tinha tramela,

tinha vida dentro dela,

tinha histórias no bico calado,

tinha cortinas de pano cru

e fumaça saindo do telhado.

Era noite, era dia, era domingo ou feriado,

tinha um fogão à lenha,

tinha limpeza e nenhum pó,

tinha comida quente e carinho,

naquela casa tinha minha avó.