A ESPERA DE UM PRESENTE

E chegou o tão esperado dia. Como em anos anteriores, o ritual para aquele precioso momento, era sempre o mesmo. Ao levantar pela manhã, depois de uma noite de sono, muitas vezes interrompida pela ansiedade, o garoto, puxava para o canto da cama os cobertores que o agasalhava. Num salto ligeiro e sem se preocupar com a friagem, atravessava descalço por toda a extensão da sala e da cozinha em direção ao banheiro. Lá, ele tentava se despertar. Molhava então as pontas dos dedos na água cristalina que escorria pela torneira prateada do lavatório dourado. Depois de úmidos ele os levava aos olhos remelentos e, com movimentos bruscos e circulares, retirava todos os resíduos que ainda lhe incomodava. O seu desjejum tão pouco era afetado. Até mesmo aquela farta mesa de café, era incapaz de desacelerar o ímpeto do menino que após trocar de roupa, ia em direção a beira da rua em frente a sua casa. Enquanto as horas passavam o garoto permanecia sentado na calçada. Era mês de junho, a temperatura começava a esfriar. O céu nebuloso dava indício que poderia chover, mas, mesmo assim era impossível convencê-lo de abortar a missão. Nada e ninguém conseguiam tirar da cabeça do moleque a idéia de permanecer na friagem até que se concretizasse a promessa. Lá fora, ele continuava sentado e, com as pernas encolhidas e os joelhos encostados ao peito, tampava um pouco os ventos frios que sopravam sobre o seu corpo. A hora prometida já havia expirado, o tempo extra não fazia parte dos planos. Os olhos murchos e avermelhados começam a transmitir toda a sua angústia, estava triste quase chorando. De repente, um pingo de lágrima escorre e atravessa por toda a forma do rosto até parar embaixo dos lábios enrugados. Com um leve movimento da palma da mão, ele a enxuga até os olhos e começa a coçá-los. Já estava se encerrando o dia e escuridão da noite se aproximava, junto a ela, também vinha com uma sacola na mão, a pessoa tão esperada. Neste exato momento, o garoto se levanta, observa bem ao fundo e, alegre inicia os primeiros passos em direção à senhora. Seus olhos passam a brilhar, sua boca fechada de tanta tristeza, da lugar ao sorriso irradiante de seus lindos dentes e, a cada passo efetuado a velocidade de suas pernas aumentam ainda mais, seus braços se abrem para confirmar aquela visão. E ao aproximar-se dela, suspirou-se, saltou-se em seu pescoço, abraçou-a forte e a beijou. Era sua mãe, que lhe trazia o seu presente de aniversário.

Daniel Feliciano.

Daniel Feliciano
Enviado por Daniel Feliciano em 14/08/2008
Código do texto: T1128363
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