A Noviça
A Noviça
A sirene toca e chega ao fim a 1ª aula do dia. Algumas meninas ainda correm pelos corredores com seus vestidos longos de linho e bíblias nas mãos em direção a sacristia. Lá, algumas noviças arrumam os crisântemos nas fileiras para que cada assento respire o seu odor inconfundível.
São sete e meia. Há algumas freiras limpando o jardim e outras com seus cestos e tesouras a cortar com toda minúcia possível alguns talos de lírios que arborizam os quartos e enchem o lugar de uma atmosfera muito agradável.
Mais uma vez, Martina esconde-se atrás das folhas de papel como se escrevesse algo importante. Escreve com a rapidez de quem urge, pois precisa terminar antes que alguém a chame e interrompa o seu delírio adolescente.
“A noite parece estender-se, subjetiva e absorta em meus pensamentos ansiosos, incompreendidos. Estou às voltas de tal torpor imaginário desde que sua companhia tem me ocorrido, modificando o meu tom de voz, o meu olhar e os meus gestos”. - escreve.
Ela dá um suspiro infantil, esforça-se para encontrar as mais bonitas colocações e anotá-las. “Você, esse doce e tênue conjunto de formas e cores de algum sonho distante, raros e inesperados assim como os movimentos sísmicos dos vulcões”- Martina recobre com os livros a folha que reúne à matéria do dia.
Após tais confissões ao caderno, põe-se a orar numa tentativa de expurgar-lhe aqueles desejos tão sinceros e profundos por aquele senhor mestre e míope. Ele fala agora de filosofia, precisamente os vestígios filosóficos em algumas passagens bíblicas.
Aparenta 50 anos, uma barba crescida e loura que escondia uma boca ressequida pelo frio do inverno e dentes ainda bem cuidados pelos bons hábitos que os anos como padre no Vaticano lhe renderam.
A garota sentia o cheiro do macho que rondava os corredores do Colégio e a primeira vez que sorriu para ela virou-se, atormentada. Quando voltou a olhá-lo, lá estava ele, esperando pelos lábios dela abertos entre os dentes, convidativo e sozinho na sala onde todas já haviam abandonado. Bateu a porta e saiu, em suas orações atordoadas, pedindo desculpas a Deus pelo desejo fugaz que a acometia, pelas fugas das provações que pregava à sua missão religiosa, porém feliz em ofertá-la a chance eminente de salvar a nobre alma pecadora.
Após as aulas, prometeu deixar com ela algumas perguntas, uma espécie de exercícios de casa, para que levasse e os respondesse, um pretexto para se encontrarem novamente sem que oferecesse suspeita do romance. E os encontros tornaram-se freqüentes.
Acariciou-lhe as coxas por debaixo do vestido longo e afastou das maçãs do seu rosto algumas mechas de cabelos que caíam sobre a face rubra e nervosa.
O homem sorri com lascívia. Ajoelha-se, desabotoando a camisa de linho alvo e retirando-a de dentro das calças. A sua figura mostra um peito envelhecido onde se percebem pêlos brancos cobrindo-lhe a pele.
Martina, então, retribui, espalhando por entre os dedos aqueles fios esbranquiçados, que deslizavam pelas mãos ansiosas. O amante inicia um beijo impetuoso pelo seu corpo, degustando-lhe e apertando-lhe a carne silvestre, como assim fazem os dentes antes de triturá-la. Sua língua toca os seios com tanta força, uma força deliciosamente arrebatadora que se prolonga até as suas reentrâncias, provocando-lhe sussurros contidos em meio ao suor tomando os seus poros. Faz com que ela toque-lhe o membro intumescido.
A garota desliza as mãos por entre as ancas rotas do homem e sente todo o aconchego e balanço do membro que se projeta e se prolonga a cada toque. Mantém-se a olhá-la como se olha um horizonte sem volta, um olhar sem adeus ou pesar e em um ímpeto quase orgástico, crava-lhe com força e impaciência o órgão inquieto. Seus pulsos pendiam sobre os quadris da garota e os apertavam a ponto de encolhê-los e movimentá-los num ritmo quase atlético, inabalável.
Percebe-se, então, o homem totalmente concentrado, os olhos que não mais os viam e presos ao momento demasiadamente humano, pregados ao púbis juvenil que pulsa e se abastece por completo.
Em meio aos movimentos lânguidos que executa, Martina mantém a estaca oculta às costas do seu vestido longo em um parapeito do quarto escuro. Ela aguarda o peito macilento e cansado do padre ainda atônito, já sem os óculos e prestes a sangrar.
Suas mãos perpassam atrás do vestido, e encontrando a madeira pontiaguda leva-a até as costas do homem sem camisa, trazendo-o para seu corpo a arma fálica já cravada às costas. Seus movimentos circulares, quase cirúrgicos, fazem sentir-lhe as entranhas do homem perfuradas pela arma oculta.
Agora, Martina pôs-se a orar a São Pedro Canísio. Ao proferir as frases do Summa doctrinae christianae, ainda abraçada ao pecador agonizante, a satisfação toma-lhe o peito por completo. Sentia-se agora tão fiel a Deus pela redenção desta alma ao salvá-la com a morte pelo seu pecado, mas pontual aos instintos que saltam e lhe embriagam a alma.
14 de julho de 2005