FELIZ DIA DOS PAIS... MINHA MÃE!
Mãe.. Nesse dia dos Pais quero lhe desejar:
Um Feliz Dia dos Pais... E dizer essas palavras que guardei anos e anos aqui dentro do meu coração!
Minha mãezinha querida... Olho essas rugas em teu rosto e seus cabelos que teimam com a tinta ficarem brancos!
Foi mãe e pai! Uma guerreira!
Há muitos anos atrás aconteceu assim em nossas vidas:
Ainda muito menino um dia ouviu gritos à noite. E acordei, e fui ao quarto de meus pais... Minha mãe chorava e dizia: “- Não faz isso comigo não... Não me deixa! Pelo amor de Deus!”
Aproximei-me muito assustado, e minha mãe pegou-me no colo levando-me ao quarto com meus irmãos maiores. E nós todos assustados.
Minha mãe saiu chamando vizinhos e levaram meu pai... A nossa vizinha Dona Augusta, dizia dormem crianças, pois amanhã é outro dia!
E ao amanhecer, nossa casa estava lotada de pessoas, papai dormia na sala, numa caixa esquisita. E eu pensava: “- Como papai consegue dormir com esse povo olhando e falando tanto assim.”
E eu via minha mãe chorando, pegava-me no colo... E falava: “-Meu filho é papai dormindo!” Depois em outro momento... “- Papai vai morar com Deus, despede-se meu filho!”
Afinal, ele esta dormindo? Ou vai morar com Deus?
Escutava as pessoas cochicharem:
“- Coitado do Sr. Pedro tão novo! Morrer assim de um ataque fulminante do coração!”
Outros...
“- Que será dessas crianças? E Dona Mariana?”
Aqueles olhares de piedade... Olhares também curiosos também...
E ao entardecer levaram meu pai pra um lugar chamado cemitério, e colocaram meu pai em um buraco no chão. E jogaram muita terra em cima que tampou tudo!
Naquele momento minha mãe chorava muito... E meus irmãos maiores também. Não compreendi se não querem deixá-lo ali leva pra casa. E quando eu indagava o porquê daquilo eles apenas diziam... “- Foi morar com Deus!”
Que morada estranha, fica numa caixa toda fechada e fazem um buraco no chão... Depois joga terra em cima.
Eu prefiro ficar aqui, que ir morar com Deus... Afinal aqui tem pipa, bola de gude e carrinho feito de latinha! Pensava eu...
Voltamos pra casa, os dias foram passando. Meu pai nunca mais voltou... Perguntava pra minha mãe, e ela falava a mesma coisa. “- Foi morar com Deus!”
Bom, ir morar com Deus deve significar ele nunca mais vai voltar!
E um dia... Descobri que tudo aquilo era morte. E até em então achava que o lugar cemitério era só para enterrar os pais... Mas, não era... Havia avós, filhos, vizinhos e parentes... Quanta gente!
Mas, o que isso tem haver com você mamãe?
Digo, que durante anos eu a vi chorando as escondida e segurando a foto do papai nas mãos calejadas de apanhar café no sítio do Sr. Antônio.
E não foi só isso... Trabalhava de lavadeira, faxineira e na lavoura pra colocar comida em nossas bocas. Papai não lhe deixou uma casa, não lhe deixou uma aposentadoria e nem seguro de vida, coisas comuns na época de hoje.
E seus pais também haviam morrido não havia ninguém pra ajudá-la. Alguns parentes até se afastaram, tinham receio da gente se encostar pra pedir auxílio.
Sim... Minha mãe. Na simplicidade tu não deixaste seus filhos sem alimentação, estudo e nunca nos abandonou.
Passou tua juventude cuidando de nós, acolheu-nos dentro de teu coração. À noite estavas exausta, mas olhava nossos deveres de escola a luz de lamparina. E tinha um lindo sorriso acompanhado de beijos e carinhos pra nos oferecer.
Os anos passaram e à medida que íamos crescendo fomos nos empregando...
Carlinhos na padaria do Sr. Manuel, Ana Beatriz na casa de Dona Rosília a mulher do Doutor Juarez, Dito foi trabalhar com Sr. Guilherme aquele açougueiro com um sotaque engraçado.
A Matilde cuidava de tudo lá em casa, e eu de engraxate, sorveteiro e fixei como ajudante na venda do Sr. Lidório.
E éramos todos de menores. O trabalho não atrapalhava nossas notas, e também não havia revolta. Não importava ficar um ano inteiro indo com os mesmo sapatos na escola e uniformes que muitas vezes ganhávamos e cuidávamos com carinho que era passado de irmão pra irmãos à medida que íamos crescendo.
Escola pública sim... Com muito orgulho! E nossos patrões sempre nos ajudavam e nossos esforços não eram em vão!
Minha mãe! Foi pai e mãe! Não ia a salão fazer unha, cabelo e coisas que vejo hoje minha esposa fazer... Nem a lojas pra comprar roupas e sapatos. Não participou de festas e nem jantares em restaurantes requintados. Mas, nos criou com amor e deu-nos educação e nos ensinou sermos honestos. Sem ter terminado o ginásio nos passou noção de civismo, ética, generosidade, senso de justiça e amor.
A dor da luta para sobrevivermos nos uniu. A memória de papai sempre exaltada.
Aos poucos fomos formando, trabalhando e ajudando um o outro.
A maior emoção não foi os diplomas... Isso era uma conseqüência do esforço. A maior emoção estava na aquisição da nossa casa própria... Anos e anos depois que papai foi morar com Deus.
Juntamos nossas economias e compramos uma casa, pequena e acolhedora... E assim levamos à senhora de olhos vendados e ao ver sua emoção... Todos nós choramos abraçados! Lembra-se?
Mamãe... Eu me lembro das conversas das pessoas que às vezes tem tudo e ainda fala das tristezas dos outros...
“- Nossa! Como Dona Mariana vai criar esse monte de filhos, e sozinha?”
“- Até que enfim colocaram luz! Mas, não tem ainda televisão e nem geladeira!”
“- Até que enfim compraram uma geladeira! Também usada!”
“- Não vão conseguir terminar o ginásio... Ela deveria dar algumas dessas crianças...”
“- Como que um filho de lavadeira conseguiu formar advogado? Engenheiro e até dentista? E sem pai!”
Boatos que doíam na minha alma... Mas, não importava... O que importava era que eu tinha um pai e mãe que arregaçou as mangas e fez de nós o que somos hoje!
Por isso mamãe... O feliz dia dos Pais é para a senhora hoje! Lembra quando nós trazíamos nossas lembrancinhas escolares e dava pra senhora? E a senhora colocava no túmulo do papai?
Hoje, após tantos anos... Estamos aqui... Casados, cheio de netinhos para a senhora... Faz alguns anos que não precisa mais trabalhar... Seus filhos estão todos profissionalmente bem sucedidos...
Mas, isso realmente não importa. O que é de suma importância é o que nos ensinou praticando no dia-a-dia... Ensinou-nos o valor do AMOR.
Eu te amo minha mãe! Podem até perguntar se sentimos a falta do papai... E eu respondo:
“- Não! Ele foi morar com Deus! A minha mãe foi nosso pai! E em todas as noites da minha vida desde o dia que papai foi morar com Deus eu peço a Deus em minhas orações que deixe mamãe conosco... E assim Deus fez, permitiu que essa guerreira fosse pai e mãe e que cuidasse de nós!”
Feliz Dia dos Pais... Minha mãe!
Obs.: Essa história não é da minha vida...
Meu pai morreu e eu tinha 17 anos. Eu e minha mãe ficamos sós, pois sou filha única. Foi muito difícil sim, minha mãe não ficou aposentada. Mas, trabalhava muito. Eu casei aos 19 anos, um casamento cheio de brigas e decepções.
Minha mãe ali comigo dando força e ajudando-me criar meus filhos. Muitas coisas nessa história se assemelham com minha vida.
Minha mãe foi mãe e pai! Mas amo os dois. Minha mãe só soube trabalhar nessa vida. Adoeceu teve três derrames e faleceu.
Nessa época, meu casamento já havia sido desfeito, e estava vivendo um sonho de amor com meu segundo casamento. E depois de sete meses que enterrei minha mãe eu enterrava meu marido vitima de um câncer.
Minha vida agora é saudade...