Desamor

Nada como um lindo dia de verão. Foi o que a jovem garota pensara desde o dia em que pisou na pequena cidade.

E que cidade! Nada de cinema, de shopping, de engarrafamento ou poluição. Já havia até se esquecido de como é o prazer de se respirar aquele ar puro de encher a alma de gozo. Uma civilização que vê o mar quando abre a janela, sem a vida urbanamente conturbada ao redor e que não precisa de muita coisa além de tempo e férias para ser feliz.

Marisa sabia o que estava querendo. Tudo o que almejara durante os estressantes dias de aula encontrava-se agora debaixo de seus pés: areia e água salgada.

Trocara badalados momentos de férias em Porto Seguro, simplesmente para refletir sua vida e, literalmente, descansar. Não imaginava que a pequena praia que escolhera passar alguns dias estaria tão vazia, mas sabia que quanto mais só melhor ficaria. E assim ficou durante os seus primeiros instantes de caminhada pela areia.

O sol já estava se pondo trazendo a sensibilidade de sempre aos olhos de Marisa, através de doces lembranças de um passado bom. Ela parou por um momento e deixou-se inundar de emoções. Sabia de sua atual fragilidade amorosa e se estava ali sozinha era porque precisava daquele momento para chorar olhando o infinito. Havia perdido a sua auto-estima por coisas tão banais que nem ela mesma entendia ao certo o que se passava em seu coração.

Tinha nas mãos tudo o que teoricamente precisava para “viver”: uma vida razoavelmente confortável, amigos que a amavam e que amava também, a melhor família do mundo e a promessa de um futuro profissional admiravelmente promissor.

Mas, algo a conturbava. Um imenso vazio insistia em corroer sua alma. E ela estava ali justamente para sofrer sozinha o seu desatino.

Parou e por alguns minutos acreditou ter enlouquecido: no lugar mais distante e remoto que seus olhos enxergavam, no meio do nada alguém sorria para ela. Uma onda de desespero abordou-na.

Ela, desabando em lágrimas, sozinha numa praia praticamente deserta e alguém tinha a ousadia de invadir o seu espaço emocional e lhe sorrir.

E aquele sorriso encantador era-lhe totalmente conhecido. Era por ele que Marisa chorava. Tudo ao seu redor paralisou-se. Não era possível! A pessoa pelo qual ela se desmanchava em lágrimas... O homem que dividiu aquele mesmo espaço e momentos inesquecíveis naquele mesmo lugar!

Instantes eternos em que olhavam juntos para a única direção que lhes era plausível. Marisa jamais pensara que uma parcela de acaso tão ínfima poderia desempenhar tamanho papel em sua vida mais uma vez.

Ele estava ali, na sua frente. E foi aí que percebeu o que realmente sentia: NADA! Como um estranho, como uma pessoa qualquer que nada tem a oferecer, mesmo encarando-a nos olhos.

Tudo ficou tão claro como o luar que insistia em banhar-lhe os cabelos escuros.

Aquela mulher disfarçada de menina, escondida atrás de sua aparência meiga e infantil, nada sentia pelo homem que pousava a sua frente e que minutos antes era tudo o que lhe faltava.

Sentia falta dos momentos que com ele desfrutou. Apenas dos momentos. Sentia saudades do que outrora sentira e não dele carne e osso ali lhe sorrindo debilmente.

Queria apenas aquela felicidade desmedida que era daquela praia, daquela areia, daquele luar. Ele em si, não passava de recordações nada mais. Ela levantou-se e nada disse. E assim ficaram sem nada dizer.

O que os arrebatou para aquele instante não importava, apenas aquele momento valia a pena absorver. Ele sabia o que Marisa estava sentindo e entendia-lhe totalmente. Era preciso falar-lhe tudo o que havia planejado, mas como faze-lo? E ele tentou:

Sei que não vale mais a pena tentar... mas estou aberto a sugestões... a gente foi feliz demais para deixar tudo acabar aqui.

Sentia um imenso desejo de gritar seu arrependimento em ter ousado pensar que o amava, que o queria em sua vida mesmo depois de ter sido abandonada simplismente porque havia feito as escolhas certas.

Era a coisa mais idiota que poderia ouvir. Como alguém termina um namoro e depois pede para voltar com essas palavras?

Ela tinha que lhe dizer! Tinha que rir ironicamente e falar que não estava acabando, já não existia mais. O “viveram felizes para sempre” não poderia mais se concretizar.Que se não valia a pena tentar, por que insistir então? Para que sugestões se não havia mais jeito?

Tinha que esnobadamente deixar claro o que sentia. Falar que ele não era mais nada para ela e que estava mais apaixonada pelo cara da net com quem teclava de vez em quando do que por ele.

Sentia um imenso desejo de gritar seu arrependimento em ter ousado pensar que ainda o amava, que o queria em sua vida, mesmo depois de ter sido deixada de escanteio só porque assumir mais responsabilidades na vida parecia a coisas ideal a ser feita. Porém , Marisa acima de qualquer forma de intolerância, guardou seus pensamentos arrogantes para si. Ela não precisava deles:

“ Vamos sobreviver!”

Foram as únicas palavras que conseguiu dizer. Estava certa de que eram felizes, só não poderiam mais voltar o tempo e viver tudo de novo... e que pena! Ela tinha consciência de que ele a havia feito feliz. Lágrimas não axistiam mais, estava limpa.

Meu Deus! Como poderia ter escolhido a solidão de dias inteiros olhando para o mar à férias badaladas com seus amigos? Seu coração pedira. Ela o fez!

Sabia que iria pagar caro por querer se desfazer de si mesma. Nada pode ser mais cruel do que a ausência, mesmo que momentânea, de autoconhecimento. Como chorar por um sofrimento que não existia?

Ela não sabia.

Era hora de voltar para casa e desesperadamente se descabelar por não ter ido à Bahia!

Adrianas
Enviado por Adrianas em 08/08/2008
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T1119279
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