Ela passou na minha rua

Ela passou, eu não disse nada, apenas fui seguindo seus passos, enfim, era na minha rua e não podia fingir que nada estivesse acontecendo, apenas segui o meu coração ou melhor ela.

Não se trata de apenas uma obsessão, nem mesmo vou ser puritano em não descrever vil momento, mas eu a desejava, jamais queria desgrudar meus olhos desta que parecia me atravessar propositalmente.

Enfim, havia tantos caminhos para uma travessia segura e ela insistia em passar logo aqui, não por ser o mais demorado caminho, mas talvez ela tinha absoluta certeza que vinha provocar meu coração, pois ele praticamente ganhava segunda vida ao vê-la. E a cada dia, a cada passagem, eu simplesmente acompanhava seus passos, havia me acostumado provavelmente como se fosse uma tara, nunca deixava de acompanhá-la mesmo que fosse com meus olhos.

Meus olhos, estes além de analisar junto ao meu coração errante os versos de amor que sempre escrevia pensando nesta doce menina mulher, fazia questão de analisar cada gesto, cada palavra que saia de sua boca quando conversava com alguém da rua em que eu morava, mas simplesmente meus olhos ao se fechar ia a um mundo diferente qual não sei explicar, mas um mundo em que somente ela existia, um universo que somente cabia esta menina mulher qual estive convencido que seria assim também para sempre no universo do meu coração.

Tinha medo de receber mais do que um oi ou do que um aceno de mão, talvez pelo medo de que fosse não tão compensatório e estragasse os meus pensamentos. Bom, eu era o protagonista principal da rua, amigo de todos, conhecido pelos mais velhos, pelas crianças que aclamavam meus chutes exatos na bola que sempre brincavam aos domingos a tarde só que virava apenas coadjuvante no desfile dela, virava “Voyeur”, um mero espectador.

E o tempo foi se passando, alguns amigos garanto que já haviam percebido a minha fixação de observá-la, que fazia tanto meu coração pulsar, parecia o mais diferente amor mesmo que platônico, mesmo sem saber se ela sabia meu nome, garanto que eu também nunca fiz questão de apresentar-me, medo tinha de estragar o seu caminhado pelas minhas veias destino ao meu centro cardíaco, pois ela não somente caminhava na minha rua e sim também no meu coração.

Eu vou levando, acordando, fazendo o que tenho de fazer, sentar em frente à loja herdada por minha família e esperar esta menina mulher desfilar para minha vista, me encantar completamente, para que seja assunto entre meus neurônios o resto da tarde, sem saber se passará de platônico, sem deixar de ser amor.

Leonardo Koury Martins