CINDERELA BOLADONA

A história da Cinderela é muito conhecida, mas o que aconteceu com ela é um pouco diferente do que se costuma contar. A verdadeira história da Cinderela aconteceu mais ou menos assim...

Cinderela gostava muito de dançar funk e tinha uma madrasta muito má que odiava qualquer tipo de dança. Tinha também uma meia-irmã, a qual era protegida pela madrasta e não fazia nenhum serviço de casa. As duas saíam bem cedo para o trabalho e Cinderela ficava em casa cuidando do irmão pequeno. A madrasta a obrigava a acordar todo dia às seis horas da manhã, arrumar sua cama, lavar a louça da janta e tomar um banho gelado, dar banho no irmãozinho, levá-lo para a creche e ir para a escola.

A madrasta a obrigava, mas o que Cinderela gostava mesmo era de assistir televisão, ficar ouvindo Tati Quebra Barraco o dia todo e rebolar no quintal. A louça? Mais tarde a madrasta que lave! A madrasta má detestava ver a enteada rebolando e não a deixava sair de casa para ir aos bailes, muito menos ficar o dia todo na frente da tevê. Mas o pai de Cinderela a protegia e satisfazia a todos os seus desejos. Comprou para ela, inclusive, um celular com visor colorido de cristal líquido que custou um ano inteiro de trabalho. Ainda bem que era a madrasta má quem pagava as contas do mercado!

Para mimar ainda mais a menina, ele esperava a mulher cair no sono e levava a filha para arejar a cabeça e aproveitava para tomar seus golinhos. Algumas vezes, Cinderela aproveitava o pretexto para pedir ao pai que a levasse aos bailes de que tanto gostava, mas ao chegar aos bailes, pedia que o pai parasse a um quarteirão das festas para que os amigos não vissem a carroça em que andavam. Ela não queria pagar mico na frente dos colegas, mas, na verdade, conformava-se em não precisar andar a pé, pois a carroça era muito útil. Era um velho fusca ano 75 carcomido pelos ratos do ferro-velho onde o pai trabalhava. Com um toque mágico do martelinho do pai, a bolinha amarela, que ao longe mais parecia uma abóbora com quatro rodas, transformou-se na carruagem elegante que a família usava como meio de transporte.

Quando chegou na festa aquele dia, todos estavam muito animados e Cinderela subiu correndo as escadas que levavam à laje da casa, onde a festa estava acontecendo. Foi nesta festa que Cinderela conheceu o príncipe encantado. Dançaram “atoladinha”, “Dako, a marca do fogão”, beijaram muito e até sobrou um tempinho para irem para um cantinho mais reservado. Estavam no maior love, quando Cinderela lembrou de olhar as horas em seu celular com visor de cristal líquido. Era quase duas horas da manhã, horário que seu pai combinou de pegá-la no mesmo local em que havia deixado. Deu um último amasso no príncipe encantado e saiu correndo escada abaixo. Na pressa, esqueceu de perguntar o nome do príncipe e deixou cair no cantinho escuro seu celular com visor de cristal líquido.

Dias depois, descobriu que o príncipe era o dono da casa em que aconteceu a festa e foi até lá buscar seu celular com visor de cristal líquido. Ao avistar o príncipe, levou um susto. Mal podia acreditar que aquele sapo era o mesmo príncipe com quem havia ficado dias atrás e começou a sentir ânsia de vômito em pensar que beijou aquela boca banguela. Só depois que o príncipe a levou ao posto de saúde é que souberam que o nojo era por conta do bebê que Cinderela estava esperando.

Quando soube, a madrasta má expulsou Cinderela de casa e ela teve que ir morar com o príncipe caolho. Então, Cinderela foi morar no sobradinho da sogra, lá na favela da Rocinha, e teve que parar de estudar na 7ª série para lavar as roupas do marido e limpar a casa da sogra, porque se não fizesse isso, teria que dormir na rua.

Cinderela estava arrependida e com um bebê que era a cara do pai, mas estava feliz com a novidade de ser mãe e com os presentes que ganhava do príncipe encantado.

Não tardou para que Cinderela descobrisse que o príncipe encantado tinha uma amante. Uma não, várias! Então, seu conto de fadas virou um pesadelo.

Cinderela descobriu que fora enganada por um lobo mau que comeu a vovozinha, passou a mão nas tranças de Rapunzel, acordou a Bela Adormecida, deu uma banana envenenada para a Branca de Neve e até mesmo enganou a boneca Emília, enfeitiçando-a com o pó de pirilimpimpim, com o qual viajavam acordados para outros mundos. Mesmo sabendo de tudo isso, Cinderela continuou com o príncipe encantado só porque ele era o pai do seu filho e porque seria difícil encontrar outro príncipe que cuidasse tão bem dela e do bebê.

Criado em 2006 por

Langeli
Enviado por Langeli em 29/07/2008
Código do texto: T1103035
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