Vida, obra e veneno
A verdade, é que por todo este tempo, todas as frases, se restringiram a serem mentiras. Minhas maiores farsas, cobiçadas. Esperadas, para serem entendidas e criticadas.
Todo este tempo dentro de mim o anseio de quando eu me livraria da prisão que estava sendo a minha vida. Quem diria, eu me prendi dentro do imenso mundo que criei, desde pequena, quando pouco sobre tudo, eu sabia. A vida me era nada, e talvez assim fosse melhor, se continuasse sendo, e eu continuaria vivendo, rompendo as barreiras e as esquecendo, sem dores, mágoas e vagas lembranças do que eu vivia, apenas o presente me bastaria, e meus sonhos. Eles me alimentariam.
Eu jurei por você que contaria, as mais belas histórias de amor e de vida, e quando as pessoas me perguntassem sobre a minha vida, eu as diria: Que escrevia com a felicidade de cada dia!
Lembro-me como se fosse hoje pela manhã, eu olhando para você e lhe prometendo o que hoje vejo que jamais cumpri, ou sequer cumprirei, a vida está sendo carrasca comigo, tenho dores, desamores e as histórias que conto, aos olhos do mundo, parecem bonitas, dramáticas, intensas, lições de vida, de alguém que jamais aceitou as pedras que existem em seu próprio caminho, e as rasteiras que a vida lhe deu.
Narro histórias, de problemas que não são meus, e talvez isso, eu faça para lembrar-me de que não sou a única esquecida por Deus.
Agradecia o meu dom de escrever, e hoje acredito que ele seja pura sina. É o meu castigo.
Sou uma mentirosa, escritora, mal filha e suícida.
Uma hipocrita bem sucedida, que sonhou desde pequena, ser como os grandes e eternos escritores, como Cecícilia. Como Clarice, e Berenice, não a conhece? É a faxineira da minha casa que em vida escreveu uma história bem mais bonita que a minha, repleta de verdades, aprendizados, e força para lidar com a batalha dura do cotidiano simples.
Desde pequena desejei ser feita sobre palavras e escrita, e hoje escrevo minha despedida, sem palavras rebuscadas, esquecendo a vaidade e transbordando verdades que eu mesma escondia.
Há razão em todo o meu sofrimento calado, meu pranto guardado, e os livros queimados, todos os que eu escrevi, estão guardados em cinzas , confesso. Eu não suportava ler as minhas mentiras, fantasiava feito uma criança, e quando abria os olhos via dilacerado o meu mundo, e eu vivia em um espaço sublime e absoluto, em preto-branco, vírgulas, pontos e linhas. Essa era a minha única vida. Criar farsas e chamá-las de minhas, meus sonhos, meus medos, que assim que terminava um página redigida, findavam.
Mas minha dor jamais deixará de ser minha, esta sim, compartilharei com a solidão a qual me condenei.
A dor de não ter desejado ter outra vida, a minha diversão se tornou profissão, me condenaram como uma máquina que jamais pára, não olhava para o mundo, e ele nem me via. Fiz dinheiro, fiz histórias, fiz planos. Mas não tive vida.
Hoje me despeço, é o fim.
Vida e Obra,
resumindo-se ao desejo de tomar essa taça de veneno, e acabar com tantas publicações em mentiras.
Eu queria ter cumprido minha maior promessa, minha grande divida.
Não encontrei a felicidade, tampouco o amor e nem paixões repentinas, e por isso...
...hoje sou apenas, uma desertora da vida.