Qual é a sua opinião?

Júlio Augusto descia a rua cantarolando o trecho de uma música que ouvira na casa de um amigo. Nunca sequer havia escutado falar da banda, mas pelo simples fato de ser a preferida do amigo, tomara simpatia pela tal. Era uma música bizarra, é verdade, com alguns batuques africanos e uma viola erudita ao fundo. Uma voz desafinada cantava frases em dinamarquês repetidamente... Mas enfim, o amigo era excêntrico, e Júlio gostava daquele termo. Vivia filosofando sobre sua excentricidade. Mas não penses que ele era realmente alguém exótico. Não. Era apenas quando estava em companhia do amigo, pois em casa ele era uma pessoa normal, tinha pais, irmãos, estudava durante as manhãs, gastava o tempo que poderia ser mais útil durante as tardes... Coisas que você também faz, ou fazia.

Quando estava junto ao pai, mostrava grande interesse em economia internacional – visto que seu pai é economista. Mas junto da mãe, dizia gostar de culinária, e pedia para ensinar-lhe receitas de bolo. Ao lado dos irmãos, era briguento, afinal, quem não é?

Júlio era conhecido como Jubis. Detestava acima de tudo esse apelido que era deveras infantil. Ganhara-o na terceira ou quarta série, e agora que estava no Ensino Médio, os grandes amigos ressurgiram das cinzas com a alcunha. Mas quem diz que Jubis fazia alguma coisa?

Engano vosso se pensais que faz. Certo dia até perdeu uma futura namorada graças a isso, mas ele não se importava.

- Jubis, você é patético! Nunca discorda de ninguém! – disse um colega, algumas horas depois de Júlio ter tido a maior decepção da vida.

- É, tem razão. – Júlio limitou-se a concordar, melancólico.

- Não percebe que enquanto viver na sombra dos outros, nunca ninguém reparará em você?

- Pois é... – e na verdade o colega tinha razão. Júlio sempre passava despercebido. Não porque era feio, ou estranho, ou mal humorado, mas sim, porque ele era sempre a cópia de alguém com a personalidade mais forte que a dele. Era sempre uma sombra de seus amigos, nunca ganhava atenção, pois nunca tinha nada de novo a mostrar. E foi assim que perdeu a pretendente.

O caso é que a garota era nova na cidade, não conhecia alma alguma na escola... Mas a principio, havia se interessado por Júlio, achava-o bonitinho e inteligente – e de fato era – mas o tempo foi passando, e Júlio nunca sequer falou com ela. Não porque não quis, mas porque não sabia o que falar – ele sempre concordava, não conversava normalmente – e tanto perdeu tempo, que ela acabou arrumando um namorado. Um jovem que morava na mesma rua a conquistara antes. E Júlio, através das costumeiras fofocas, ficou sabendo que havia perdido a chance de ter sua primeira namorada.

O pobre garoto sentiu muito aquela notícia, ficou cerca de três dias deprimido, e em vez de matutar acerca da sua excentricidade, pensava agora sobre a questão da opinião. Ele nunca havia parado para pensar que ele era sempre um reflexo dos outros, e então desesperadamente tentou achar dentro de si um resquício do Júlio Augusto original, alguma coisa que fosse da personalidade dele! Não encontrou... Nem o time que torcia era próprio dele, torcia apenas por herança dos pais – na verdade tentava agradá-los com isso.

No meio de tantas e tantas divagações, Júlio decide então uma coisa importantíssima... Coisa essa que iria escrever o rumo de toda a sua vida, depois dessa decisão, as páginas em branco de sua vida... Continuariam em branco. Pois este decidiu que continuaria sendo o mesmo sem-opinião de antes. Afinal, fazia parte de sua personalidade não ter uma. E agora anda por aí, dois anos depois, sem namorada e cantarolando bandas dinamarquesas.