A lua e as fases da noite
A lua e as fases da noite
Quando a lua se torna mais que um satélite? Quando é que a noite torna-se muito mais que o período de tempo da ausência do sol?
Sempre entrelaçadas entre o lúdico e o real a lua e a noite encantam, fascinam e assustam. Despudoradas, despem-se de toda e qualquer máscara e sob um manto negro, ou por vezes azul, cravejado de brilhos; revelam-se a nós, assim como cada um as quer.
Para mim, na infância a lua era branca com o desenho de Jorge, papai jurava que ele tava lá. A noite cheirava a talco, igual ao que sempre tinha em meu pescoço no verão (pra não dar brotoejas). Era mágica, com o som das lendas indígenas sob a voz mansa de minha mãe com sono a bocejar.
Nessa noite eu dormia.
Sob essa lua eu sonhava.
Depois a lua tornou-se de prata. Ganhou donos (namorados) e brilhou qual o néon do bar ou o globo da DISCO. A noite exercia-me fascínio. Não havia perigos, eram todos ignorados... Havia uma coragem... Um cheiro de liberdade, álcool, suor, pastilhas... Bom. E também teve sons, e ritmos e festas...
Nessa noite eu dancei.
Sob essa lua eu beijava.
Mas agora a lua é só um satélite sem luz própria. E a noite, um período de tempo quase eterno de opressão, até a chegada do dia; enquanto espero meu filho chegar da sua lua de prata. Fecho os ouvidos pra não ouvir os seus sons: estampidos, gritos, barulhos que antes não ouvia.
Nessa noite me angustio.
Sob essa lua sinto medo.
Mas há de vir uma lua nova, com novas características, de outro jeito. Noite de outros perfumes de novos e bons sons. As espero ansiosa. Como quando esperava a lua branca. Aguardarei-lhes, lua e noite, com todo o fascínio das noites de festa; ainda que eu já saiba que são apenas fenômenos naturais...
Eu quero nesta noite sonhar.
E sob esta lua, dançar outra vez.
Adriana Kairos