LULA X BUSH
Aquilae Volant. E o Uirapuru?
Uma Águia de grande porte, numa dessas caçadas em vôo rasante, para a felicidade de uma saracura-do-brejo, chocou-se com um toco de árvore devastada. Bambeou, debateu-se, e, depois de ter passado a tontura momentânea, tentou voar e... Nada. Sua asa direita doía demais. A da esquerda estava perfeita. Ficou então por ali mesmo, impaciente, inconformada, fitando o horizonte vasto, diferente, longe. Suspirou. Tentou voar e desistiu. A fome prolongada reinava-lhe a alma pela primeira vez, pois todos os “almoços” fugiam fáceis quando a Águia de grande porte aproximava-se andando.
No dia seguinte, exausta e com um calor exaustivo, a Águia de grande porte pôde ouvir um canto que vinha do Sul e para lá se dirigiu. Era um canto magnífico de um Uirapuru. Aproximou-se caminhando. O Uirapuru,recavido, levantou vôo. Por que foges para cima dessa árvore? Não sabes que se ficares aí te pego e se voares te como? - Fingiu a Águia de grande porte com fortes dores ainda na asa direita.
Receoso e de coração acelerado, o Uirapuru ouvia calado enquanto a Águia de grande porte fitava-o falando:
-Meu negócio é voar! Voar sem fronteiras por serrados, desertos, mata atlântica, florestas e canaviais, agarrar e dominar com precisão as presas e levá-las para as montanhas ao Norte num estilo cinematográfico e hollywoodiano...
- Impressionante! -Pensou o Uirapuru- quase hipnotizado por tamanho poder.
-Preciso aprender a caçar sem alçar vôo – declarou a Águia de grande porte - Eu fui atraída por esse seu magnífico canto. Poderíamos juntos, fazer grandes caçadas. Basta que você cante, atraia as presas para perto de você, então eu apareço e... ZÀS!!! Um almoço garantido.
- Não posso! –Disse o Uirapuru - Quando eu canto é para emanar sorte e alegria a quem me ouve. Não posso me prestar a esse papel medíocre e injusto. Ainda porque nessa imenso continente Sul há uma grande diversificação de espécies e somos todas como co-irmãs cantando quase o mesmo canto...
-Como então poderíamos atuar juntos? –propôs a Águia de grande porte.
- De jeito Nenhum! Sentenciou o Uirapuru. Nossa Natureza é bastante diferente!
- Não! We are dont! We are Birds, Do you understand? We are Birds! Birds! A diferença está “apenas” em nosso tamanho. – induziu a Águia de grande porte.
- Que “futuro espelha essa grandeza?” - Avaliou o Uirapuru. - Afinal, é uma diferença bastante considerável, não é mesmo?
Sim, mas isso pode ser compensado se fizermos uma boa negociação.
- Então o que sugere? Interessou-se o Uirapuru.
-Existem muitos iguais a você? - disse estrategicamente a Águia de grande porte.
-Claro que não! Nós os Uirapurus-laranja somos contados a dedo, uns 20 num Grupo... Ta vendo ali naquela árvore? É um tucano-do-bico-preto. Raridade! Ta vendo lá voando? É uma ararinha-azul. Maravilha! Mas não são muitas...
- Ah, que pena! – Lamentou-se a Águia de grande porte e percebendo o interesse do Uirapuru pela preservação, continuou: - Eu posso ajudar todas as aves desse lugar, protegendo-as. Trarei pra cá, “entre outras mil” um bando de águias e fiscalizaremos os céus voando alto, rastreando tudo. Só preciso que me ensine como caçar sem alçar vôo.
O Uirapuru viu que era bom negócio e fechou o “acordo”. Confiante e em grande porte, levou a Águia até um lago raso e a ensinou a pescar com a ajuda forçada e apelante de um jaburu-moleque.
Ápós três semanas, a Águia de grande porte recuperou-se. Tentou voar de novo e conseguiu. Logo sentenciou:
-Vou partir! Conforme prometi, vou trazer as outras águias para cá e começar o nosso “trabalho”.
Alguns dias se passaram e o Uirapuru-laranja pôde ver no “formoso céu azul e límpido” um bando de águias de grande porte vindas do Norte – Que maravilha! – Sorriu deslumbrado.
De repente, o Uirapuru-laranja que ciscava em solo fora arrebatado do chão. Sentiu fortes garras aperta-lhe o “peito à própria morte” e foi ganhando altura... Percebia que a sua “Mãe Gentil” era um seguro “berço esplendido” e que jamais se deitaria nele. Também pôde ver lá do alto, como os “nossos campos têm mais flores” e nossos “bosques têm mais vida”.
A Águia de grande porte reconheceu que a sua presa era aquele Uirapuru-laranja do “acordo” e justificou-se:
- Olha, não é nada pessoal! O problema é que eu sou uma Áquilae Chrysaetus e esta é a nossa natureza fALcôniCA.
Osman Matos