A Busca.

Ela era jovem, era bonita e dona de uma saúde invejável.

Preocupava-se sempre me manter-se rodeada pelos amigos que mais gostava, e esses ao que se podia perceber, eram muitos. Eram muitos e dela gostavam demais, tinham um carinho imensurável por aquela pequena criatura.

Sim, ela era pequena, mas só em altura.

Por dentro ela era grande, grande e forte, forte e segura.

Era.

Não mais.

Pois um dia, essa criatura pequena por fora e imensa por dentro, tornou-se frágil, de ambos os lados.

Fragilidade, era essa a palavra.

Por muito tempo ela não sabia como classificar esse imenso sentimento de perda, de falta, de vazio.

Ela, ingênua como era, teve um súbito de que aquilo podia ser fome, ou frio.

Sim, bobagem, mas para ela, tão ingênua que era, podia ser o real motivo.

Mas com o passar do tempo, ela viu que não, não era fome, nem frio, nem nada que já tivesse passado por sua inocente cabeça.

Era algo muito mais intenso, abstrato e doloroso.

Sim, era doloroso.

Quem nunca sofreu de solidão?

Que atire a primeira pedra aquele que nunca acordou com um imenso vazio dentro do peito, e por vezes acreditando ser a pessoa mais azarada da face da terra por não ter um alguém para si mesmo.

Mas ela custou a entender isso, custou, mas um dia entendeu.

Entendeu quando se pegou, tola, chorando ao ouvir uma música romântica e sentindo uma extrema necessidade de ter alguém ao seu lado naquele momento, alguém que a completasse. Não a companhia de um amigo ou coisa do gênero, mas de um amor.

Mas como! isso nunca me aconteceu - pensou ela.

Foi difícil aceitar, ela não queria de maneira alguma acreditar que aquele vazio fosse solidão.

Por que? - pensava ela.

Mas ela nunca havia parado para pensar que apesar de todo o amor que ela recebia, de seus amigos e de seus familiares, ainda assim lhe faltava algo.

Lhe faltava alguém que lhe tirasse o fôlego, que fizesse seu coração bater mais forte.

Que à desse um motivo, uma razão, um sentido e um rumo.

Que fizesse ela ver que o mundo só é bonito, deveras, quando se é visto à dois.

Ela não queria aceitar, mas de qualquer forma, em seu íntimo, algo estava pulsando.

Havia algo querendo libertar-se.

Só que para isso ocorrer, ela precisava de alguém, alguém apto à realizar tão árdua tarefa.

Depois de tempos, ela finalmente decidiu procurar, procurar esse alguém.

Mas o grande problema era: por onde começar?

Ela não sabia, e na verdade, não há ninguém que o saiba.

Porque essas coisas acontecem em seu momento certo.

Quando é para acontecer.

Mas ela não sabia.

Não, não sabia.

E foi exatamente por isso que ela, sem saber onde ir, a quem recorrer, saiu em busca.

Busca do quê nem ela mesmo sabia. Porque por bem ou por mal, ela nunca tinha nem pensando em tal coisa, dado-se conta de tais necessidades.

Mas esse foi seu grande erro.

Há pessoas que procuram, em muitos corpos, a maioria corpos vazios, aquilo que os preencha.

E com ela não foi diferente.

Por muitas noites ela procurou em muitos corpos as razões que buscava.

Mas ela não as encontrou. E tudo que conseguia com essa busca infinita por algo que ela nem sabia o que era, era se machucar cada vez mais e mais.

E com o passar do tempo, e com as feridas cada vez maiores, ela foi se entregando à raiva.

Raiva do mundo, das pessoas, e daquele vazio que tinha em seu peito.

Aquilo tornou-se um círculo vicioso.

De uso e desuso.

De dor e prazer.

Mas preenchimento, nenhum.

E isso durou meses, anos.

E ela nunca, até hoje, achou o que ela realmente queria.

Tudo por não saber que essas coisas vêm naturalmente.

E que quanto mais ela teimava em tentar com todas as pessoas erradas que encontrava, talvez deixasse passar despercebido o certo.

Mas isso ela nunca vai saber, e nem eu vou ter coragem de lhe falar.

Essas coisas não se falam, se aprende ou não.

Se aceita ou não.

Talvez um dia ela aprenda, e talvez seja tarde demais.

Mas quem sabe.

F
Enviado por F em 12/07/2008
Código do texto: T1076387
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