MARIA AGRIPINA, A DAMA DAS CAMÉLIAS COLORIDA
MARIA AGRIPINA , a DAMA DAS CAMÉLIAS COLORIDA
Embalada ainda pelos sons finais da ópera “LA TRAVIATA” de VERDI, desligo o som e continuo a sonhar sentada em um cantinho da sala. Embalo-me nas lindas melodias e na orquestração perfeita e,sem querer, retorno em imaginação àquele barraco pobre e feliz onde morava Maria Agripina. Sua história se assemelha no conteúdo, à da protagonista da ópera “LA TRAVIATA” de VERDI, respeitados os distanciamentos sociais nas datas e na cultura, mas idênticos nos sentimentos.
Muda-se o tempo, do frio gelado da Paris de 1830 para o calor tropical do carnaval brasileiro...
Na entrada do Caminho Novo, vivia Maria Agripina, nossa lavadeira e amiga, junto à mãe e um irmão. O barraco primava pela limpeza e capricho, embora minúsculo, vivendo ali todos felizes e amigos, apesar das dificuldades.
Maria Agripina era uma negra jovem e bonita, charmosa, risonha e muito alegre. Todos os dias, terminados seus afazeres, aparecia para um dedo de prosa, com casos sempre engraçados e alegres, ao gargalhar mostrando dentes muito brancos. Suas argolas douradas balançavam, bem como a trança grossa de seus cabelos crespos e encaracolados, jogada sempre para traz.
Era freqüentadora assídua do Clube Rouxinol lá no bairro do Pará.
Às vezes íamos vê-la rodopiar, rir e dançar feliz. No carnaval era a mais linda porta bandeira da escola, rodando sua saia verde enfeitada de dourado, e era realmente uma visão bonita e alegre junto ao passista e mestre sala, um jovem carioca bonitão e treinadíssimo naquelas evoluções.
O casal sambava na rua em frente ao Clube, sob os aplausos do público que ovacionava e batia palmas.
“ Vem ver meu Rouxinol, cantar aqui no meu jardim...”
Maria Agripina apaixonou-se pelo galã colorido, com forte sotaque carioca, falante, com aquele gingado e malemolejo de malandro, e sonhava... sonhava...
Quando se casasse, além de ser sua madrinha, eu haveria também de fazer-lhe o vestido de noiva.
Mas o noivo carioca, com aliança e tudo, foi-se retirando de mansinho, só mandava algumas cartas lacônicas de vez em quando, até sumir de vez...
Ela foi-se amofinando, ficando triste, calada, abatida, já não mais ouvíamos suas gargalhadas alegres.
Ficou tuberculosa e definhava dia a dia, para desespero de sua mãe.
Íamos visitá-la em seu barraco que a mãe conservava ainda mais limpo, as roupas de cama alvíssimas, levávamos algum docinho e frutas que ela agradecia apenas com um sorriso triste. A mãe chorava conosco sentindo estar próximo o fim que realmente não demorou.
Nunca fui costureira, mas fiz-lhe o vestido de noiva recortado de suspiros e lágrimas...
Jamais ouvira falar que alguém pudesse morrer de amor a não ser na ficção, mas acabara de constatar ali uma nova VIOLETA, a Dama Colorida que acabava de morrer por amor...
( Extraído do meu livro “CANTATA EM TOM MAIOR”
LINANDRE