O SINAL LUMINOSO

Estavam ambos esgotados. Haviam acabado de ajeitar roupas e objetos pessoais que trouxeram para que finalmente a mudança fosse concluída. No sítio começariam uma nova vida longe da correria e do vai e vem sem sentido da cidade grande. A sensação de começar a imprimir a vida numa página em branco era instigante. Mas precisavam de um sinal... A densa cortina da noite instalou-se rapidamente. Ficaram ali, lado a lado, no escuro, sentados no chão como dois adolescentes que já não eram. Um sinal... só precisavam de um sinal...algo que marcasse aquele momento...

O barulho que vinha de fora era o barulho da terra e dos bichos: folhas

empurradas pelo vento, água correndo, sapos-martelo...

Ele sugeriu que celebrassem aquele momento com um vinho.

-"Espera... olha...", disse a mulher , apontando na direção da janela.

O homem olhou para onde ela apontara e apesar da pouca claridade fornecida por uma tênue luz vinda de fora pode ver um vaga-lume e uma lagartixa. Ele exibia seus dotes coreográficos com direito a efeitos especiais... Ela o observava, ardilosamente parada na tela de proteção da janela. O dançarino luminoso parecia estar seguro de que a exibição seria um sucesso e talvez por isso, por excesso de confiança em seus dotes, ou simplesmente para humilhá-la, chegou bem perto...

A lagartixa até então imóvel, lançou ,numa fração de segundo, sua língua comprida e ágil e engoliu o pequeno bailarino. O casal, quase sem respirar, observou que de dentro da barriga - de pele muito fina - da caçadora , o vagalume continuava acendendo e apagando...

Se contassem para algúem o que acabavam de presenciar, certamente ninguém acreditaria... Guardariam para si aquele momento... Talvez aquele fosse algum tipo de sinal... o futuro o decifraria...

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 07/07/2008
Reeditado em 19/08/2008
Código do texto: T1069146
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