Aventuras e desventuras de uma família do nordeste brasileiro- Parte II

De repente...

Bate à porta ferozmente, alguém. Os meninos se abraçam e a coragem do menino Samuel se faz mais uma vez presente...

- Gente ( fala baixinho...) se escondam...Qualquer coisa invento uma lorota.

Os meninos se escondem onde podem...Dentro de caixa...Embaixo de cama, dentro de um velho armário...

Samuel pergunta junto à porta:

- Quem é?

E a pessoa do lado de fora responde com voz cansada:

- É o pastor Manuel!

Rapidamente Samuel abre a porta e se depara com o pastor suado e amedrontado...

- Cadê teu pai e tua mãe? preciso falar com eles ( e foi adentrando, olhando para todos os cantos...)

A gurizada surge de todos os lados e falavam ao mesmo tempo... Rute abraça o pastor e lhe pergunta:

- Por favor pastor...você viu painho e mainha? é que...

Quando a garota começou a contar, foi interrompida pelo irmão mais velho:

- Seu Manoel...eles sumiram...uns home tavam perseguindo o Samuel hoje, e mãe saiu atrás do pai...Será que aconteceu alguma coisa?

- Eles queriam saber onde pai tava - explicou Samuel.

O pastor senta, pede um pouco de água e com as crianças aos seus pés diz:

- Crianças...vocês com certeza já ouviram comentário sobre o Tião do Açude...

- Sim!!!- Responde Ester arregalando os olhos- Aquele homem feio que não gosta de nós...que não gosta de quem é pobre...

- Isso minha querida! Ele está tentando comprar algumas terras por aqui...

- Inclusive as de nosso pai pastor? -pergunta Daniel.

- Inclusive as de seu pai...Ele quer dar uma pequena soma de dinheiro por terras que valem muito!

Com muita raiva Samuel pula da cadeira e diz:

- Vou matar esses caras...Ninguém vai tirar de mim meu pai nem minha mãe!

O pequenos jonas puxa a camisa do irmão e chorando lhe pede que não vá:

- Vá não samuca! espere papai chegar! Tô com medo!

Todos ficam muito tristes...Mas, Ester se levanta, pega na mão de Rute, olha para o pastor e pede para que todos fiquem de pé e orem...

- Jesus nos ensinou que em meio às dificuldades Ele nos livrará!

Mesmo a contra gosto, Samuel dá a sua mão a Jonatas e em um círculo de oração a pequena garotinha, testemunha do amor de Cristo, ora com fervor :

-Querido Jesus...

Painho e mainha estão em perigo. O Senhor nos deixou escrito que se um de seus filhos estivesse em perigo, o Senhor ajudaria e livraria a cada um deles. Livra nossos pais também... Em nome de Jesus, Amém!

As lágrimas desciam do rosto de cada um ali presente...E no coração do pastor Manuel ia uma lição particular: A de crer verdadeiramente que Deus pode nos ajudar em qualquer circunstância...Ele estava com medo... E como pastor poderia ter confortado aquelas crianças...Mas, ele foi confortado e aprendeu com uma garotinha tão pequena, que o Deus que Ele tanto pregava era um Deus de poder, de luta.

Todos se acomodam quando ouvem passos...E uma voz sufocada, cansada grita por Daniel...

- Daniel! acode aqui filho!...

Rapidamente Daniel sai, abre a porta e se depara com A mãe toda suja de terra, molhada, amparando seu Zé no ombro. O homem estava sujo e ferido, mas estava vivo!

O pastor Manuel ao olhar mandou as crianças ajudarem os pais e foi buscar ajuda com o doutor Gastão. Médico reconhecido por aquelas bandas e que tinha um coração maravilhoso.

Chegando em casa as meninas colocaram uma bacia com água, pegaram um sabonete e os rapazes trataram de dar um banho no pai. Enquanto isso, dona Marta também se banhou,colocou uma roupa, tratou de ver como os filhos estavam e ajeitou o marido na cama.

Doutor Gastão chegou esbaforido...- Dona Marta! o que houve?

-Nem lhe conto dotô... atraiçoaram meu marido...quando cheguei ainda vi o poeirão que os cavalos iam deixando...Mas...o que mais me espantô é que eles bateram pesado nele...Mas, não mataram...

- Era um aviso...o resto eles fazem depois...

O homem todo dolorido abre com muito esforço os olhos e diz:

- Foi não seu dotô...Eles viram arguma coisa que amedrontou eles...Vi quando o Arnaldo, capanga do Tião deu um berro estridente...botô as mão nos olho e os outros ajudaram a ele montar e se foram...

Pensei que fosse até um bicho...Mas, não ouvi ruído, e não vi ninguém...

O pastor Manuel olha para o doutor, para aquela família e fala de como há poder em uma súplica de fé...Em especial, de uma criança.

- Estive aqui com os meninos e Ester me ensinou algo maravilhoso...Cheguei com medo pelo que ouvi lá na cidade...Achei que iam lhe matar mesmo seu Zé...Ao invés de trazer conforto, deixei eles mais preocupados...Mas, a pequena Ester fez com que todos se unissem em oração...O milagre estava acontecendo muito antes do seu pedido...Deus não deixou que eles viessem atrás de vocês dona Marta.

A família se abraça...

As providências são tomadas no complexo policial da cidade. O delegado, major Afonso ouve atentamente o depoimento do pastor, do médico, de seu Zé e dona Marta.Quando terminam as perguntas a cada pessoa, o escrivão Cláudio Manuel pede que entre o menor Samuel junto com o pai e um advogado.

Samuel deixa bem claro os passos dos capangas do grande latifundiário... o ódio que ele viu nos olhos deles ao procurarem pelo seu pai e a surra que quase ele toma por não "entregar" seu Zé.

Diante da juíza de menores da comarca de Águas Claras, meritíssima Maria Antônia Albuquerque, o delegado não tem como criar meios para livrar "a cara" do cidadão endinheirado.

Pede para que os soldados o acompanhem até a fazenda do bandido Tião para dar-lhe voz de prisão. O único carro da polícia que havia na delegacia sai em alta velocidade...Mas...Ao chegarem no local ainda assistem um pequeno jatinho levantar vôo...

- Agora está nas mãos da justiça enquadrar o meliante! disse o delegado.

- E os comparsas dele seu dotô? não vão presos? Perguntou Rute

De longe seu Zé viu um dos bandidos ser trazido até a viatura.

- Onde está o chefe do seu bando valentão? perguntou Daniel bufando de raiva.

- Ele tá embrenhado na caatinga...Num sei dele não...

Levado para a delegacia, "Tonho cangaceiro" ficou engaiolado até o julgamento...

Mas, o principal... O jagunço "Raimundo do Tomba" ficou fugido cinco dias, até que devido ao calor insuportável do sertão ele desmaia de fome,sede,insolação...A polícia o acha e prende...O pequeno bandido tá preso...O grande....Aguarda a mídia colocar o caso na tv,virar notícia,para ser enquadrado...

Enquanto isso, a família canta louvores a Deus por estarem com vida...Confiantes nEle...Só nEle, é que eles podem contar em sobreviver...

Lizze
Enviado por Lizze em 29/06/2008
Reeditado em 30/06/2008
Código do texto: T1057037
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