Entre o demônio e o anjo...
Por entre as estepes áridas, ao sabor do vento forte da tempestade, que a areia faz rodopiar, enquanto seu trovejar anuncia o juízo final,
ele vem.
Montado num cavalo negro, tal qual seu corpo.
Tal qual sua alma, negra e cruel.
Oh Deus ! - dirão os anjos.
Que peste é essa que se aproxima dos homens, indefesos em sua mortalidade.
Sedento de sangue quente das vítimas inocentes,
Ele vem.
E eu, encolhido em algum canto escuro, buscando uma falsa proteção, orando e pedindo a salvação.
Arrisco um olhar para a escuridão que a tudo envolve.
E ele eu vejo.
Sua roupa negra, seu turbante majestoso, com um lenço cobrindo a sua face.
Dela nada se vê.
Seu cavalo portentoso, bufando ao som do vento que uiva e geme...
Ele atravessa lenta e imponentemente a cidade.
Mas, quando parece que se vai, ele volta e então, já não há mais serenidade em seus gestos.
Sua mão empunha uma espada sedenta.
E ele arremete furioso contra uma porta. Os estilhaços voam longe.
Eu ouço os gritos que aos poucos vão se apagando.
Não ouso olhar, ou sair.
Há apenas o terror lá fora, pois o demônio esta solto essa noite.
É, quando se percebe a força que vem do saber rezar.
Eis que ouço outro tropel a chegar.
Será outro demônio a nos castigar?
Não...esse não veste negro...
Suas vestes são da cor das nuvens
E sereno é seu olhar...por entre o lenço que encobre a face.
Não vem da tempestade...
Ele chega com o luar...
Não se pode duvidar do que acontecerá...
O embate é iminente.
Logo que o demônio sente o anjo se aproximar, cessa seu banho de sangue.
E a hora final vai chegar.
Quem entre nós, pobres mortais, é capaz de encarar tal poder e não querer ajoelhar e implorar.
Quem entre nós, sonhou com tanta glória.
Mas, não podemos querer ao céu ou ao inferno enfrentar.
Pois nosso papel é apenas admirar.
Admirar os valorosos animais a conduzir seus donos no embate.
As reluzentes espadas, faiscando ao contato, após os viris golpes que atordoam com o seus soar.
Ó, divina glória, é poder presenciar a paixão e o ódio a se enfrentar.
A razão e a loucura.
Num único e inesquecível momento.
Nem cem anos se passarão sem que alguém deixe de contar que numa noite escura em algum lugar, perdido entre o fim de tudo e o nada.
Céu e inferno se enfrentaram.
E tudo que vi e senti.
Foi o poder se manifestando e mostrando
Quem somos....nada....
A luta terminou quando ambos se destruíram.
Não poderia haver vitoriosos.
Pois não pode existir apenas o mal ou apenas o bem...
Como conhecer o bem sem experimentar o mal...
Como saber o que é o mal..
Se não sabemos o que é o bem....
“O homem beijou o chão em seus últimos passos. E ficou sabendo que não a terra, mas o céu e o limite...”