Se pá, te dou um conto

Ruas de curvas sinuosas. Dizem que aqui o vento faz a curva... Sei não! Se pá...

Aí muleque, cadê o bang que eu pedi um tempo atrás, truta? - Então tio, tá aqui. Já fiz o esquema, sem migué e contra o sistema. Tá ligado?! Ontem, vi estrelas que nada me diziam. De repente o tempo fechou. Observei as nuvens escuras daqui do pico. Então! Revivi aqueles velhos tempos. Fiz das correntes armas, daquele jeito. Corri atrás do elo perdido e das assombrações que me perseguiam. Aquelas luzes... Os capuzes... Tudo me lembrou as roupas de fantasmas dos desenhos, tá ligado?!, e os cavalos o faroeste contra os índio. Lembra disso? Então! Daquele jeito. A luz azul e vermelha me fez lembrar as tochas de fogo daquele tempo. Aí, lembra o tio que jogaram na linha do trem? Mas hoje é outro esquema. Jogam nós no rio. E ainda ficam de papinho dizendo que a gente é de facção! Ser escuro é participar de quadrilha, tio. Eles nunca dizem. Sabemos pelos seus olhos. Estes olhos! Lembrei do jeito que eles olham pro céu. "Meu, tá procurando balão ou esperando pipa taiado?" Nem sabem! Os caras pedem pros santos deles pra que consigam ir morar em algum lugar bom depois da morte. Morte! Eles nunca morrem! Bom seria se morressem todos, tá ligado?! Aí a gente tava livre desses otários, jão! Eles só nos matam. "Coisas de segurança pública", é o que dizem na televisão, mano. Nem é! Vivem nos dano pontapé! Tapa na oreia é osso! Vix! Nem diz! E ainda tem neguinho que vai nos culto pedir pra Deus! "Que Deus te abençõe, meu filho. Faça com que viva na miséria e na base do tapa e, depois da morte, que te sirva de um pedacinho de nada! E mais tapa na cara!" Ainda dizem que esse pangaré do céu é bom! Bom é nós que continua vivo até hoje, sem perder a linha! Bom é quadrada na cinta! Mas, nem é! Sou mais andar tranquilo, certo?! Versar sobre o esquisito. Correr atrás do que ainda não tá perdido. Viver a vida e não virar fantoche do dinheiro, tá ligado, mano?! Então! Sem essa de muitas vidas além dessa daqui. Vida eterna? Quero eternizar minha existência aqui mesmo, certo?! Se pá! Se pá, uns conto pra viver bem! Se pá, uns conto pra viver...

[fragmento da rua]