PORTA FECHADA
Agora Rosária dormira, sim dormira cansada da espera inútil. Esperara fielmente até mesmo às nove da noite, hora que parecia impossível, e mesmo era incapaz de crer que os pais consentiriam que recebessem a visita de alguém tal hora, mas ela estaria disposta a brigar para que Felipe fosse recebido. Chegara mesmo a imaginar a discussão com pais, mas ora uma visita àquela hora, reclamariam, e ela diria, mas é o Felipe, o Felipe, meu amigo bonitinho ali daquela casa quase no final da rua. Quanto suplicio então não se passou interiormente a pobre menina na espera vã.
Nem mesmo saíra do quarto para jantar. Sentira fome, porem a angustia um tanto que a roia por dentro.
Solidão, solidão, solidão – o tique-taque de um relógio dentro dela, um tique-taque barulhento deixando-a a inquieta, andando pelo cômodo, sentando, deitando, levantando-se; um alivio por olhar pela janela. Aspirara o cheiro do jasmineiro.
Por que Felipe? Perguntara-se perguntando para aquele ausente, com o rosto inclinado para um lado idiotamente, apoiado pela mão abandonada no rosto parvo, vendo a noite já cobrir o céu daquela escuridão forrada de pontinhos de estrelas.
Ele acenara de longe para ela. Aquilo parecera tanta certeza que ela jamais pudera acreditar no que era agora.
Sentando-se no chão, recusando-se a olhar para as próprias pernas finas, ela teve um esgar de sorriso de repente como se ignorasse instantâneo o que acontecera. Parecia que acabara de vê-lo sair dali. Fora de uma felicidade de se explodir.
Mas iriam fazer o vestibular junto no domingo? Estariam juntos no mesmo ônibus. Estariam?
Havia duvida agora, e ela não via uma possibilidade de amanhecer. A noite haveria de ser longa. Fora do quarto certo rebuliço parecia regozijar-se como se com ela nada houver.
Na verdade nem soube como adormecera, mas quando acordara soubera que deve ter sido da mesma maneira como acordara.