RETORNO À VIDA NO CAMPO

“Cada um precisa caminhar com seus próprios pés para aprender a

viver”. (Pastorino, 2000:79)

Por volta do ano de 1953, com a loja de tecido desativada, nossos pais voltaram para a casa de campo. Na propriedade rural teríamos melhores condições de sobreviver, cuidando do pequeno rebanho que nos restara, depois de pagar as dívidas. Banhada pelo rio Riachão suas terras eram propícias também à agricultura e já dispunha de carnaubal produzindo.

A mamãe e alguns dos meus irmãos gostaram da idéia de morar novamente na casa de campo, visto que, no povoado, os meninos tinham que se deslocarem para cuidar do gado e da lavoura e isso a deixava preocupada. Sempre gostei da vida calma do meio rural e das pequenas cidades,mas nunca me envolvi com lavoura, pois meu sonho era estudar e fazer um curso superior. Como estudar no momento não era possível, deixei aflorar o dom artístico que Deus me deu. Passei a confeccionar roupas masculina e feminina, bordar à mão, à máquina, fazer tricô e crochê. Com isso,obtinha renda suficiente para minha manutenção, de sorte que, com o fruto desse trabalho comprei, em julho de 1953, uma máquina nova de costura da marca C.R.O.W.N., que está comigo até hoje.

Graças a Deus crescemos assumindo responsabilidade, mesmo sendo ainda criança ou adolescente. Nosso objetivo era estudar, trabalhar, crescer juntos e vencer na vida - somos 14 irmãos-. Falo sem nenhum esnobismo: nossos objetivos foram alcançados com muita luta, sacrifício, força de vontade, coragem, honradez e brio.

Acredito que não há ninguém que não tenha uma história para contar. Por maior ou menor que seja. Muitos preferem , entretanto, esquecer o passado; eu, porém, gosto de revivê-lo sem nenhum ressentimento, mágoa ou rancor.

As boas recordações causam alegria, as menos agradáveis servem de alerta para que não caiamos nos mesmos erros. Abafar alguma lembrança dolorosa fere o coração e corrói a alma, então, é preferível contar sua história, mesmo que ela não tenha sido somente um mar de rosas, pois das derrotas também tiramos boas lições para as novas conquistas.

Não se consegue atingir o cume da montanha se não começarmos a escalada por sua base, assim também é a vida: os altos e baixos são vales de lágrimas pelos quais temos de passar para alcançarmos o ponto mais alto de nossos anseios.

Valorize a vida, vivendo cada momento como se fosse único, contemplando as maravilhas de Deus em cada rosto novo que surge.“Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e em toda forma de agir. Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infortúnio poderá abalar” (Santo Agostinho).

LIMA,Adalbeto; SOUSA,Neomísia. Saga dos Marianos