CASARAM-SE MUITO JOVENS

Com roupagens de festa, Antônia Josefa de apenas 16 anos, bonita e deslumbrante, vestia-se de noiva. Andar seguro, olhar sincero e firme, na verdade revestia-se com a força divina, para iniciar uma missão: ser mãe de uma numerosa família. De outro lado, Antônio Benedito, ainda muito jovem, na flor dos seus 23 anos, boa aparência, corado, simpático e trabalhador, formava com mamãe um belo casal

A cerimônia religiosa aconteceu na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na cidade do Bocaina em outubro de 1933. Ali se uniram em matrimônio, assumindo o compromisso com Deus de se amarem mutuamente e criarem os filhos doutrinando-os na fé cristã. Firmados na fé de nossos pais, fomos criados e formados católicos praticantes - não se perdia uma festa do padroeiro -. Esperava-se o ano todo pelos festejos de Santo Antônio, no dia 13 de junho.

A família Mariano, tem tradição católica de muitas gerações. Na casa de seu Antônio Bendito era difícil saber exatamente quais os santos da devoção, porque tanto ele quanto Dona Antônia tinham muita estima e admiração por todos aqueles de quem conheciam a vida, a história e os milagres. Na parede da copa viam-se lindas estampas de treze santos diferentes.

Dona Antônia tinha um amor filial à Virgem Maria e seu Antônio atribuiu a uma de suas propriedades o nome de São Benedito. A trajetória descrita por suas vidas revela que adotaram o lema de São Bento: rezar e trabalhar. Lá em casa ninguém dormia sem antes rezar o terço e, aos sábados, Ofício da Imaculada Conceição. Aprendemos também a oração do anjo da guarda, de Nossa Senhora do Desterro e outras orações diárias do cristão.

Sou grata aos meus pais pela a vida e em especial à mamãe por nos ajudar a desvendar alguns mistérios que envolvem a vida humana. Seu útero íntegro favoreceu o desenvolvimento harmonioso e saudável dos fetos ali gerados, como se gerados fossem no colo de Deus

Com muito amor carregou em seu ventre, sem reclamar em momento algum, o peso da gravidez de 16 filhos, dos quais dois faleceram antes de completar um ano. Todos nasceram de parto normal, com acompanhamento apenas de parteira.

Com muito carinho, preparava o enxoval de cada filho como se fosse o primeiro e único. Engordava os frangos e estocava as garrafas de manteiga do sertão, para consumo durante o resguardo que durava quarenta dias. Nunca fez distinção entre os filhos, embora tivesse um cuidado especial pelos menores e pelos mais fracos. Dedicou-se inteiramente à família e fez de nosso lar uma extensão da Casa de Nazaré. Mãe e mulher abnegada, humilde de coração; amparo dos pobres e fracos, sua modesta casa foi sempre hospitaleira. Mansa como um cordeiro e forte combatente na fé plantou uma semente de amor e colheu um jardim de rosas, quatorze filhos a cercavam, com devotado amor filial.

A missão de gerar filhos vem acompanhada dos dons espirituais necessários para educá-los. Com muita sabedoria mamãe atribuiu às filhas mais velhas a função de cuidar dos mais novos e assim criou quatorze filhos. Essa pedagogia, além de aliviar seus esforços e cuidados, criava um vínculo de amizade entre os irmãos, de modo que, os mais novos, sendo afilhados ou não dos mais velhos, chamam-nos de madim (madrinha): madim Socorro, Dim Neó, Dimbé, Madim Zita e por aí vai.... Ela viveu mais para os outros do que para si mesma e se desgastou como uma vela que se deixa consumir no altar. Conheceu a ascensão e a queda, a alegria e a tristeza, mas em tudo viveu como serva.

LIMA, Adalberto; SOUSA, Neomísia.Saga dos Marianos