EXTINÇÃO ABSOLUTA

Quando já não havia mais água no planeta...

Os pés rachados de embiras secas vertiam sangue pelas fendas, mas ainda assim perambulavam menos esperançosos a cada dia.

Os braços pendiam largados, paralelos ao corpo frágil, sem domínio.

O corpo esquelético e sem viço se equilibrava aos tropeços sobre ele mesmo.

A pele rabiscada e ressequida, sem vida soltava escamas que escapuliam rebeldes.

Os fios de cabelos escassos, secos, espichados caiam pelos ombros, mortos.

Os dentes enegrecidos e aos pedaços escondiam-se atrás dos lábios rígidos e disformes.

Nos olhos sem luz e sem brilho uma névoa pairava diante da íris sem cor.

Quase não se ouvia nenhum ruído que o ser humano pudesse provocar. Eles não mais podiam fazê-lo, enfraquecidos que estavam.

Luz somente a que o sol mandava. Extinta por ser improdutiva e supérflua.

O sol que um dia foi belo, agora fosco, queimava, impiedosamente, tudo que alcançava.

O lixo se empilhava formando elevações inexplicáveis. Lixo era o único item que ainda se fabricava. Ele era vasculhado diuturnamente pelos homens em busca de qualquer coisa que lhes desse mais um dia de vida.

Não havia mais qualquer tipo de vegetação. Tudo agora é parte de um passado vagamente lembrado por alguns.

Dos animais apenas se ouvia dizer. Os mais novos, agora com mais de 50 anos, não chegaram a conhecer nenhum. Extinguiram-se todos.

As longas e intermináveis noites, cada vez mais escuras e quentes, passaram a ser de vigília.

Os habitantes da Terra andarilhavam em busca de vida. Quase extinta.

O desanimo dominava a todos.

Não havia o que provocasse qualquer reação nas pessoas.

Não usavam mais roupas. Não havia mais roupas.

O nome não era mais importante.

O sexo não era mais importante.

Os documentos pessoais, que um dia existiram, agora lendas inacreditáveis das quais alguns ainda se lembravam.

Elos familiares perdidos.

Lares não mais existiam.

A vida na Terra estava se extinguindo mais lentamente agora, por causa da humanidade sobrevivente que não tinha mais força para fazer nada, nem para levar o planeta ao seu final absoluto.

ANA MARIA MARUGGI
Enviado por ANA MARIA MARUGGI em 17/06/2008
Código do texto: T1038916
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