Devaneios de uma alma abduzida
Ambiente sombrio, gélido. Vozes distantes, confusas. Luzes ofuscantes, fortes. Tudo num clima de mistério. Corpo e mente perdidos. À frente, a imagem de um ser estranho. Rosto esquisito, fechado. Falava com o olhar. Seus pés não tocavam o solo. Senti medo. O mundo sólido havia se desintegrado. Eu não era capaz de tocar os objetos. O indivíduo caminhava por todos os cantos. Velocidade indescritível. Era impossível acompanhar os movimentos e digerir tudo o que se passava ao meu redor.
“Quem é você?” Perguntei assustado à espera de uma resposta que me convencesse de que tudo não passava de um sonho. Ele olhou em minha direção. Fitou-me os olhos. Foi o suficiente para eu entender. Ouvir suas palavras. Era um ser que se comunicava com a mente. – Silêncio! – Ordenou-me. Pensei: “Seria isso, um contato imediato?”, “Não! Acho que é um sonho”, relutei. Tentei bater em meu rosto, apertar meus braços... Não consegui. - Quieto! – Deu-me ordem novamente. Agora mais severa.
Sem abrir a boca, o indivíduo passou a me dizer: - ouço todos os seus pensamentos e entendo sua preocupação. Aqui, tudo o que você deve fazer é aquietar-se e guardar silêncio para que as coisas não se agravem ainda mais. Sua presença neste espaço é momentânea. Logo você será liberado e voltará ao seu mundo para enfrentar o cotidiano denso e áspero, porém necessário no caminho proposto a você. – Tentei calar os pensamentos e fingir calma, enquanto o indivíduo agitava-se ao meu lado.
Por alguns instantes, dormi. Durante o sono, volitando, visitei porões sujos e cheios de vermes, veneno, rapina... Vi-me avançar e retroceder no tempo/espaço. Em vão, tentei entender. Tudo era novo. As pessoas não tinham formas definidas. Aos poucos, o indivíduo foi diminuindo sua movimentação. Agora, seu rosto já era algo mais palpável. Era possível notar um leve sorriso em seu olhar.
Ele tocou-me a alma e antes que eu disparasse qualquer pergunta, explicou-me: - os porões que você visitou são compartimentos de sua consciência... Os vermes, seus pensamentos... Os venenos, suas palavras... E a rapina suas atitudes... Levante-se e tome seu caminho de volta para casa. À velocidade de um raio, atravessei um túnel luminoso e encontrei-me caído na fila do banco. – Não é necessário chamar socorro médico. Ele já acordou. Foi menos de um minuto. Um pequeno mal súbito. – Gritou uma das pessoas.
Levantei-me e desde este momento tenho tentado me despojar do orgulho e da vaidade que antes permeavam minha mente e meus atos. Cada dia é uma nova guerra repleta de muitas batalhas. Há infinitos embates a serem enfrentados com a coragem de quem não teria voltado se soubesse o lugar onde estava no instante em que deixou o corpo estirado na fila do banco para um passeio de reconhecimento do subsolo da consciência.