Nascimento e Morte de Uma Gota
Na conturbada harmonia de sua morada ela nasce para sua breve vida. Todo seu ser, suas partículas e propriedades têm um destino e um motivo. Existiu um tempo, uma outra vida talvez, em que ela foi grande – junto com seus iguais, eles eram imensos, profundos e poderosos. Ou ainda essenciais. Mas agora, sozinha, depois de já ter sido usada, desperdiçada, poluída, ela evaporou. Morreu para renascer e ser útil novamente. Até em sua passagem para o renascimento ela poder ser útil. Morreu para morrer de novo, mas não, sem antes, trazer consigo o poder que lhe é pertinente de levar vida para aquilo que toca.
Na conturbada harmonia em que foi criada, entre raios, trovões e desafios, ela se forma fria, transparente e pura. Sua morada, ainda instável, alimenta uma violenta tempestade que cai gelada sobre seus malfeitores. E a tempestade ainda reflete, satisfeita, que está apenas devolvendo a acidez com que foi gerada.
Na conturbada harmonia de suas moléculas, ela sente que é hora de partir. Desprende-se de sua morada ainda carregada e entrega-se à acolhedora tempestade que a levará de volta ao solo, para mais tarde morrer novamente no desperdício, evaporar na poluição e abrigar-se em sua própria desarmoniosa condensação.