Carta a Andorinha
Minha estimada andorinha. Desculpe eu estar lhe escrevendo, tomando o seu tempo para falar de lembranças. Mas é que aqui onde estou está frio e triste e eu não pude evitar um sopro de nostalgia que me tomou de assalto.
Sabe, andorinha, quando você estava comigo, no verão, eu não percebia o quanto você era importante para mim. Afinal, que importância pode haver para uma árvore em ter uma andorinha, que sozinha não faz verão, a seu lado?
Eu me lembro quando você chegou, ainda na primavera, fazendo seu ninho em um de meus galhos. Você conheceu o amor e depositou sobre mim os seus frutos, ou ovos, como queira. Depois nasceram os seus filhos, que você ensinou a voar jogando-os de meus galhos.
Você não percebeu, mas eu quase morri quando um de seus filhotes pareceu que não ia conseguir controlar o vôo. Naquele momento eu pensei no pior e, se pudesse, esticaria meu galho para ampará-lo. Mas foi só um susto, pois o diabinho conseguiu voar no último instante.
Eu nunca entendi e agora quero lhe perguntar. Você também sente aquele aperto no coração quando empurra seus filhotes para a vida ou a morte?
Sabe, andorinha, uma árvore não tem filhotes, como você. Nossa reprodução é feita pela semente, que o vento sopra para bem longe. Talvez alguma das árvores que você está vendo seja meu parente distante. Assim não posso descrever a sensação de ter filhos. Nem mesmo sei quem é minha mãe. O meu amor é platônico. Por isso me sinto no direito de amar tudo ao meu redor, inclusive você, que agora me faz tanta falta.
Lembra, andorinha, naquele dia em que o vento parecia querer destruir tudo aqui? Eu nunca o vi tão veloz. Aliás, até hoje ele não me explicou porque estava com tanta pressa. Lembro como você estava com medo. Felizmente eu pude proteger você entre minhas folhas. O seu ninho também ficou firme e nós pudemos escapar.
Me disseram que o vento havia se metido com o mar, que namorava a lua que ele, o vento, tentava conquistar. Quando descobriu o larápio soprando no ouvido de sua amada o mar ficou tão furioso que botou o vento prá correr com tanta pressa que o coitado passou por aqui sem perceber o mal que fez, quase causando uma tragédia.
Ouvi dizer que o vento não desistiu e, às vezes, ainda sopra aos ouvidos da lua que, desdenhosa, deixa-se flertar pelo amigo de seu amado. Por isso é que, de vez em quando, passa tão rápido por aqui, sem ao menos dizer boa tarde.
Mas diga, andorinha, como vai você? Tem se cuidado? Seus filhos estão bem? Às vezes eu penso que você é que é feliz. Está sempre onde faz bom tempo. Começou a esfriar, você se manda. Vai logo para lugar melhor. Porque será que as árvores não podem voar? Como seria bom poder estar em todos os lugares. Mudar de endereço cada vez que sentisse vontade. Eu, daqui, conheço este pequeno horizonte, não sei nem o que há por trás daquele monte. Só sei o que você me contou. Não que eu seja ingrata a você, que me falou do mundo todo, mas você sabe que a gente sabe melhor o que vê do que aquilo que ouve. Você mesma sabe disso, pois quando alguém lhe fala de um lugar interessante, vai logo ver como é. Não me leve a mal. Mas também, seria esquisito uma árvore voando, né?
Outro dia vieram fazer um piquenique aqui à minha sombra, e eu ouvi umas pessoas falarem que o mundo foi feito por um grande arquiteto, que fez todos os seres vivos perfeitos. Assim, cada qual deve buscar a perfeição dentro de si mesmo, não nos outros.
Aí eu concluí que também sou perfeita. É claro que não posso voar como você, mas, em compensação, meus excrementos não são coloridos como os daquelas pessoas que aqui estiveram. Todo o alimento que consumiram trouxeram em latas e plásticos que até hoje estão aqui sobre minhas raízes. Eu também não preciso buscar alimento, como você. Tudo que preciso está no solo e no ar. O sol me dá energia e a chuva me dá vida. E eu devolvo em frutos, que alimentam, e em ar, que todos os outros seres respiram.
Mas você também, amiga, tem seus atributos. Tudo que recebe da natureza devolve de outra forma. Veja que até o seu alimento, que são os insetos, é a maior população do planeta. E o que seria dos outros seres se você não os ajudasse a reduzir o número de insetos?
É claro que ninguém tem só qualidades, nem você nem eu. Mas o que você esperava de um arquiteto? Porque será que não entregaram a tarefa de povoar o mundo a um biólogo? Ou um engenheiro florestal? Acho até que seria mais prudente entregar a um grupo de cientistas. Mas um arquiteto?
Lembro que você me falou dos prédios, pontes e monumentos que viu nas cidades que visitou. Confesso que fiquei impressionada com as obras que me descreveu. Mas eu ainda não entendi muito bem a diferença entre um arquiteto e um engenheiro. Quem sabe um engenheiro teria me dado asas, ou mesmo pernas, para que, de vez em quando, eu pudesse passear por aí. Ou mesmo me permitisse mudar de endereço uma ou duas vezes por ano. Assim eu poderia ver pessoalmente as cidades, as ilhas, enfim, todos os lugares que você me falou.
Andorinha, você sabe o nome desse tal arquiteto? Se você o encontrar em suas viagens, transmita o meu recado e diga-lhe que apareça aqui que eu falo tudo pessoalmente. Quem sabe ele me concede o prazer de, nem que seja por um dia, trocar de corpo com você.
Aí eu vou voar o mais alto que puder. Quero ver todo o mundo em um só dia. Quero conhecer os Alpes, o mar, as florestas onde habitam milhões dos da minha espécie. E também quero ver as cidades que você falou, onde milhões de pessoas se amontoam feito formigas.
Diga, andorinha, é verdade que eles empilham suas casas umas sobre as outras? E como fazem para descer? Isso eu quero ver.
Mas não fique triste. Você também vai ter um dia inusitado. Vai poder olhar seus inimigos naturais sem medo. Não vai temer o sol, nem a chuva, nem o vento. Vai poder ficar parada um dia inteiro sem ter de se cuidar com algum ataque de seus predadores. Não vai precisar disputar o alimento com seus pares, pois o alimento vai estar bem debaixo de seus pés (ou raízes) na hora em que você sentir fome. Talvez algum inimigo seu pouse em um galho e vocês possam conversar longamente. Aí você vai ver que todos os bichos são "gente boa". É claro que no dia seguinte você não vai poder continuar a prosa, mas aproveite o seu dia.
Andorinha, diga ao arquiteto que eu só paro de falar mal dele se ele vier aqui e me conceder este desejo.
Andorinha, você tem dono? Outro dia veio aqui um homem que disse que era meu dono. Ele conversava com os outros sobre a minha espécie, ousou contar a minha idade prá todo mundo, e depois mandou pintar meu tronco de branco.
Eu não gostei muito de ele contar minha idade, mas até que fiquei bem de branco. O rapaz que pintou disse que eu fiquei parecida com um "torcedor do Palmeiras". Que maldade, né? Será que eles torcem as palmeiras? Ainda bem que eu não sou palmeira prá esses malvados me torcerem.
Mas eu não vejo muita graça nessa história de ter dono. Quando eu dou meus frutos sinto prazer em alimentar outras formas de vida. Eu também sei que aqueles frutos e folhas que derrubo no chão adubam a terra e favorecem a mim mesma e a outras plantas que queiram crescer perto de mim. Eu não acho que aquele homem possa se apossar de tudo que eu dou de graça para trocar por aqueles papeizinhos que eu vi alguém lhe entregar um dia. Será que uma porcaria de um papel vale mais que o fruto que eu produzi com tanto empenho? Se continuar assim não vou produzir mais fruto algum e quero ver o que ele faz.
Não, andorinha, eu falo assim mas tenho medo. Outro dia uma árvore, vizinha minha, fez uma greve dessas e acabou cortada. Dizem que foi queimada para aquecer o dono e sua família.
Eis aí outra vantagem de ser árvore. Eu nunca senti frio. É claro que no outono todas as minhas folhas caem e eu passo o inverno feia, mas frio eu não sinto.
Andorinha, eu sinto saudades de você, mas não quero que me veja agora. Espere para vir na primavera, quando as minhas folhas nascerem de novo. Eu prometo estar bem bonita. Tomara que a chuva não tire a tinta branca do meu tronco. Eu quero que você veja.
E agora eu vou parar de escrever, porque senão chega a primavera e você vem antes que eu tenha terminado a carta. Desculpe o inconveniente de mandar uma carta escrita num papiro, mas eu não sou boba de ficar gastando papel. Um dia o papel pode acabar e o meu dono, que já mostrou gostar de branco, pode querer me transformar numa daquelas folhas brancas sem graça.
Ah! Já ia me esquecendo. Você conheceu o castor? Aquele meio vesgo? Outro dia passou por aqui e nós trocamos dois dedos de prosa. Ele me falou que estava construindo um dique, que ia trazer água até aqui perto de mim. Eu fiquei super-feliz. Imagina, ter um rio passando bem aqui a meu lado. Sempre que um animal viesse saciar sua sede poderia falar comigo e eu faria muitos amigos.
Só que o castor era vesgo, como eu já disse, e a represa levou água bem mais longe que o previsto. No fim eu acabei conversando mesmo foi com os peixes. Acho que a água foi até a casa do meu dono. Eu só ouvi uns tiros e umas explosões. Depois a água desceu e o castor nunca mais apareceu por aqui. Devem ter sido aqueles tiros. E as explosões devem ter destruído o dique.
Andorinha, você tem nome? Sabe que eu nunca me preocupei em saber o seu nome? Só agora, que estou querendo lhe mandar esta carta é que pensei nisto. Como posso enviar uma carta a você sem saber o seu nome e endereço?
Outro dia um carteiro, que parou para mijar nas minhas raízes, estava se queixando que as pessoas mandam cartas sem o endereço correto. Nem mesmo o "cépe" colocam. Sei lá o que é isso. Eu sabia que era preciso um selo, pois vi nas cartas que ele levava uns pedacinhos de papel colorido. Mas "cépe" eu não sei o que é. Se você souber me avise.
Mas como vai saber que eu preciso saber disso, se nem tenho como enviar esta carta?
Já sei! Vou escrever no envelope que esta carta é para a andorinha que ficou a primavera e o verão inteiros conversando com uma árvore. Não deve haver outra.
Eu estava pensando, andorinha, como somos parecidas. É claro que você não tem galhos, nem eu penas, mas nossos pensamentos são tão parecidos. Acho que se você fosse uma árvore ou eu uma ave, seríamos irmãs gêmeas. As pessoas teriam dificuldade em nos diferenciar. Acho até que, se fôssemos duas moças, poderíamos ter o mesmo namorado. Poderíamos arranjar um emprego, ao qual compareceríamos uma a cada dia, sem ninguém perceber a diferença. Será que árvores e aves têm almas iguais? Nós podemos ter almas gêmeas. Talvez isto explique porque nos damos tão bem.
Andorinha, eu estive pensando sobre mim algo que quero a sua opinião. Eu nasci de uma semente minúscula, que o vento carregou de alguma árvore como eu. Agora, que sou madura, já gerei milhões de sementes, que devem estar espalhadas por todos os cantos deste mundo. É claro que a árvore que me gerou foi gerada por outra, da mesma forma.
Se seguirmos esse raciocínio vamos chegar ao ponto em que uma única árvore havia, que deflagrou toda essa estrutura. Mas de onde surgiu aquela árvore? Ela nasceu de semente? E de onde veio a tal semente?
Da mesma forma você, andorinha, que nasceu de um ovo. De onde veio o primeiro ovo? Ou a primeira andorinha não nasceu de um ovo? Não, andorinha, eu nunca vou entender isso! Se você entender me ajude.
Me esclareça também uma outra dúvida que tenho e que me atormenta cada vez que tento resolver. Veja, andorinha, muitas folhas compõem um de meus galhos. Por sua vez, muitos galhos fazem o meu tronco, que se liga à raiz. E este conjunto todo sou eu. Por minha vez, eu componho este bosque, que poderia ser uma mata ou uma floresta. Todas as árvores do mundo formam a camada verde, responsável pela purificação do ar.
Você percebeu como cada parte de mim é um ser independente, com vida própria? E como eu, que me considero tão independente, faço parte de uma unidade maior, a qual integro e cumpro minha parte, sem que ninguém precise me dizer o que fazer? É incrível, andorinha, como a unidade aparece em tudo que vemos. E a união dessas unidades forma outra maior, que também funciona perfeitamente. Pode reparar. Não importa se você procure a coisa maior ou menor. Sempre vai encontrar uma unidade em perfeita harmonia com outras iguais. No fundo, todas as espécies de vida, animada ou inanimada, fazem deste planeta um ser vivo, pulsante.
Assim, andorinha, não existe ação individual que atinja somente o agente. Tudo que você fizer atingirá a unidade maior, que é o conjunto do qual você faz parte, e as unidades menores, que fazem parte de você.
Você entendeu, andorinha? Pode me explicar se isto está certo? Eu não posso me isolar do mundo porque faço parte dele e ele de mim? Eu não sei.
Só sei que o coitado do jabuti queria, a qualquer preço, separar-se do seu casco. Ele só me atrapalha, dizia. Onde quer que eu vá tenho de carregar este peso. Por que não posso deixá-lo em um canto e depois voltar para apanhá-lo? Vou bem mais rápido e faço um esforço menor. Estava certo de que seria melhor, mas errou. Hoje eu vejo só o casco do jabuti aqui perto de mim. Mas o coitado, mesmo sem o casco, não foi mais rápido que a raposa, que o almoçou um dia destes. Se estivesse com o casco teria escapado, pois a raposa quebraria os dentes ao tentar mordê-lo.
Por isso, andorinha, vou tratando de me conformar com os meus defeitos e sugiro que você se conforme com os seus. Afinal, não somos nós que temos defeitos, mas as nossas partes é que fazem o todo imperfeito. Se meu galho está quebrado eu sinto. Mas ele deve sentir muito mais, pois eu tenho outros e ele é um só. Imagine, andorinha, se todas as minhas folhas e galhos falassem. Que confusão seria todos dando palpites. É bem melhor que só eu pense. Da mesma forma, é melhor que o conjunto prevaleça sobre o individual, sem palpites ou críticas.
Eu não sei quem foi que estabeleceu as regras neste mundo, mas eu vou tratar de obedecer bem quietinha. Afinal, se eu posso afetar o conjunto, ele pode me afetar com muito mais intensidade.
Quem me abriu os olhos foi a coruja. É! A coruja. Eu sei que você não gosta dela, andorinha, mas nós estivemos conversando, agora que você está longe, e eu descobri como ela é inteligente. Ela me contou que tudo que está neste mundo tem a sua função. Mas nós não podemos ver as coisas só pelo que aparentam. Devemos, sim, buscar o sentido das coisas no contexto do que elas representam diante do que está à sua volta. Por isso é que a coruja enxerga de noite, guiada pela luz do sol.
É claro que é do sol, andorinha, eu não estou ficando louca. Você não sabia que a luz da lua é o reflexo da luz do sol? É assim que se explica a luz da lua ser tão fraquinha, podendo ser olhada diretamente, ao contrário do sol. E é essa reflexão que devemos fazer para entender as coisas que parecem estranhas. Se algo não tem explicação é como a lua escura, perdida lá no céu. Quem sabe se olharmos por outro ângulo possamos ver a luz da razão sobre aquilo que parecia inexplicável.
Andorinha, você não me disse que lá do alto tudo aqui embaixo parece azul? E como é que eu só vejo verde? Você entende agora? Tudo é relativo. Ou você acha que eu também sou azul? Aí será você a míope.
Escute, andorinha, eu não quero que você fique triste porque eu estive conversando com a coruja. Eu sei que você s são inimigos naturais. Quando eu falei de você para ela, o comentário foi de que ela gostaria muito de conhecer você melhor, jantando você. Assim, prá te preservar, eu vou tratar de mandá-la embora logo que a primavera se aproxime. Ela é legal mas é muito intelectual e, às vezes, é uma chata. Depois, eu não gosto muito que fiquem comendo ratos em meus galhos.
Mas você não deve ter raiva da coruja. Na verdade você não deve querer mal a ninguém. Quando eu sentia raiva, andorinha, minha seiva fervia, ficava ácida. E eu não conseguia pensar em outra coisa. Aí minhas folhas perdiam a cor, ficando amareladas, e muitas caíam. Meus galhos perdiam o vigor e quebravam com facilidade. Nossa, eu parecia ter mil anos. Foi então que eu descobri que o mal que eu desejava aos outros estava me atingindo. Não sei se algo ruim acontecia a quem eu estava com raiva. Só sei que aquele mal era muito maior em mim.
Logo, se o mal que eu desejar a alguém for maior em mim do que naquele alguém, então eu não desejo mal nenhum a ninguém. Assim eu fico bem comigo mesma. E se alguém me desejar algum mal e conseguir me atingir, eu me consolo. O coitado deve estar sofrendo em dobro.
E tem mais, andorinha, como você pode dizer que é boa se só faz o bem a seus semelhantes? Ora, é fácil amar seus semelhantes. Seus pais, filhos, irmãos e amigos só lhe querem o bem. Fazer o bem ou querer a felicidade deles não é virtude. É só retribuição, um dever seu. A verdadeira virtude, andorinha, está em desejar e fazer o bem a quem nada lhe dá em troca e, às vezes, até se ofende com a sua bondade.
Andorinha, eu não estou dizendo que você deva vir aqui servir de jantar para a coruja. Neste caso não seria virtude sua, mas estupidez. O que devemos é, dentro dos limites de nossas possibilidades, fazer o bem aos outros sem prejudicar a nós mesmos. Sem ultrapassar a fronteira da prodigalidade. Se você não pode amar a coruja, pode respeitá-la. Entender que a sua natureza é essa mesma. Que ela é um predador e que nada vai mudá-la. Afinal, você não está preocupada com o que pensam de você os insetos que come, está? Todos os seres precisam viver, e não fomos nós que inventamos a lei do mais forte. Assim, não vamos poder mudá-la.
Lembra, andorinha, daquele rapaz que riscou meu tronco com o canivete, na primavera? Que raiva eu senti dele, você é testemunha. Eu sei que você nada pôde fazer pois, além de ele ser muito grande, você ainda estava chocando seus ovinhos. Eu gritei tanto que, se ele pudesse ouvir a voz das árvores, estaria praguejado por dez gerações. Pois é, andorinha, foi a última vez que eu nutri ódio por alguém.
Um dia destes passou por aqui um padre, que leu o que ele escreveu no meu tronco. Sabe o que está escrito, andorinha? "Tião ama Nena." Veja só, andorinha, eu senti tanto remorso. Como posso me importar de ser a portadora de uma declaração tão bonita? Você sabia que o nome dele era Tião? Eu não sabia. Será que a tal da Nena ama ele? Eu não me importaria se ela viesse aqui e escrevesse no meu tronco "Nena ama Tião, também." Eu amo os dois, andorinha. Amo todos os seres que sejam capazes de demonstrar amor por alguém. E os que não são também. Eu fico aqui, na solidão de minha inércia, pensando como o mundo seria bonito se todas as criaturas soubessem como é importante o amor.
Como seria bom este mundo se cada um se importasse um pouquinho com os outros.
Não é verdade, andorinha, que os problemas dos outros são mais fáceis de resolver que os nossos? Assim passaríamos o dia a resolver problemas fáceis. E os nossos problemas seriam igualmente fáceis para quem fosse resolvê-los. Aí não haveria segredos e cada problema seria de todos. Todos deveriam resolver juntos.
Andorinha, eu me empolguei e já escrevi mais depois da despedida do que antes. Vou encerrar. Espero você na primavera prá continuarmos nossa conversa. Não demore. Estou esperando.
Que o grande arquiteto do universo a ilumine e proteja sempre.