No recreio do parquinho
Sempre nos reuníamos, meus amigos e eu, na hora do recreio. Pra ficar junto e começar a brincar, antes mesmo de terminar o lanche. Nós trocávamos as guloseimas, lanches e frutas. Mas, no final das contas, todos comiam de tudo.
Nós tínhamos um amigo pobrezinho que se chamava Reinaldo. Conhecido como Naldinho. Ele sempre estava estudando e brincando com a gente. Na hora do recreio, porém, ele se retirava pra lanchar, e só se aproximava depois de terminar.
Um dia eu convidei todo mundo pra ir lá: naquele lugarzinho retirado onde o Naldinho sempre lanchava.
Quando chegamos perto, ele fechou sua surrada e ultrapassada lancheira rapidamente; e, sem perguntarmos nada, ele foi logo respondendo: “to sem fome hoje, acho que to resfriado. Vamos brincar?”.
Eu insisti e logo todos insistiram pra ele comer mesmo sem fome, pra ajudar o organismo a combater o resfriado.
Ah... Ele se refastelou... Todo mundo cuidando dele... Como se comida fosse remédio. E ele não negava nada, e nós oferecíamos tudo.
Os outros não sabiam nem repararam, mas eu via a alegria e a satisfação com que ele comia de cada novidade.
Sabia que ele não estava resfriado. Imagina? Resfriado daquele jeito? Parecia um saco sem fundo! E a gente dava comida e dava risada. Também sabia, pois o olhava discretamente na hora do recreio, sem meus amigos perceberem, que na maioria das vezes, ele trazia simplesmente água e pão; e, algumas vezes, uma banana para lanchar. Coitado do Naldinho.
Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.