Rua deserta

Único poste em toda a rua

um facho de luz amarelada

cercado por um bando de mariposas

coloridas e aveludadas.

Sob a luz dentro do carro, um casal.

Próximo, um matagal.

Terreno baldio

um córrego bolorento

esgoto para uma cidade cinza

serve de divisa da mão dupla.

O pivete passa, olha, espreita.

Próximo ao ginásio,

guarda noturno dá o sinal,

um silvo.

Estudantes saindo, passando pelo vão

Todos os sonhos do pivete, em vão.

Lá dentro, com os vidros embaçados

samba canção de fim de noite.

Do lado de fora,

Escuridão e açoite.

Enquanto no lume, mariposas

bailam a dança do cio,

No carro, nem um pio.

O tempo passa e junto com ele os minutos,

as horas e os problemas.

De fato, parece que o tempo parou.

Descalço, sem comida,

sem RG e sem camisa,

sem samba, sem passado,

sem presente, sem futuro,

com muita ilusão,

o moleque chora com o

rosto colado às mãos.