ELA MANHÃ
A menina acordou tomada por um pensamento sonolento.
Lentamente adivinhou o que era: Sentia falta de si mesma.
Percorreu sua solidão em segundos e voltou indecisa sobre sua felicidade.
Acordara, era verdade. Mas isto era apenas orgânico.
Não dissera para seu corpo se queria acordar naquela hora e daquele jeito. Seu corpo é que fizera isto sem lhe consultar.
E agora ??
Primeiro ele lhe faz isso. Depois a solta sobre um dia ensolarado como quem diz que está tudo bem.
Mas é ela quem tinha de descobrir isto.
Esperou.
Olhou ao redor e nas paredes havia fotos.
Cada uma recortada num momento e colada num tal lugar escolhido por causa do momento, da foto e do lugar.
A ela mesma só restou escolher.
Mas isto já não era suficiente?
Todo aquele quarto foi decorado por ela. E se fosse em todos os quartos decorados do mundo não acharia nenhum igual.
Tornou a sentir o dia ensolarado.
O sol dilata nosso ser e assim como evapora a água ele expande nossa alma.
Por isso ficamos mais soltos no verão.
Afinal, por que ela negaria isto ?
Saiu da cama ligeiramente, tomou um banho fresco, vestiu um vestido branco e amarelo que eram as cores do sol.
O cabelo ainda molhado enquanto ela andava pela rua.
A água escorria pelas costas e a trilha de gotas d’água ia pela espinha dando-lhe uma frescura deliciosa.
Deveria pensar num dia deste ?
Não. Claro que não.
De repente em plena rua ela cruzaria com a felicidade que a reconheceria como ela.
Ela que é um ser único.
Todos aqueles momentos e outros mais lhe foram preparados para sua felicidade.
Agradeceria, num futuro talvez distante, ao Criador.
No momento queria regozijar-se com tudo.
(do livreto CONTAR A CABEÇA, registrado na BN/RJ)
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